Uma vida de teleponto

17-06-2011
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Ninguém quis dizer o que se vai viver no casamento. O anterior marido até na hora da despedida optou pela mentira estilosa.

As eleições do passado domingo fizeram lembrar, nalguns aspectos, um casamento combinado em que a noiva não sabe ao que vai. Apenas conhece o aspecto do marido e o que dizem dele. Quanto ao resto, também percebe que não terá uma vida fácil, já que se anunciam cortes drásticos no orçamento que terá para gerir na sua economia doméstica.

Mas onde é que lhe irá doer mais, isso não sabe. Os eleitores que votaram terão consciência de que há um acordo assinado entre os três principais partidos portugueses e uma troika que irá tratar dos cortes para estancar a dívida portuguesa. Mas nenhum dos actores deste acordo foi capaz de ter coragem para explicar de uma forma cristalina – tendo o partido então no poder o descaramento de dizer que não tinha assinado determinadas matérias, quando depois se veio a descobrir a mentira – o que nos espera. O ex-primeiro-ministro, na sua encenação permanente, até na hora da derrota interpretou no teleponto um discurso pretensamente genuíno. O futuro do país não será tão fácil como ler uma carta de despedida, num ecrã gigante à nossa frente, dando a entender que é tudo de improviso e sentido.

Esperam-nos tempos de grande agitação e foi pena que os três partidos não tenham tido a coragem de explicar às pessoas onde lhes vai doer mais.Sabe-se sim que só um Governo forte conseguirá resistir à enorme contestação que irá estar permanentemente nas ruas. Basta olhar para a Grécia para entender o que nos espera. O mais insólito é que as greves anunciadas vão começar por alguns clássicos não operários, nomeadamente na companhia aérea. Com forte tradição na contestação social, os trabalhadores da TAP irão ser o primeiro desafio do Governo. Logo se verá como voará o Executivo de Passos Coelho neste embate a sério. As medidas de austeridade acordadas com a troika terão de ser contrabalançadas com decisões que melhorem a vida dos cidadãos, nomeadamente nas questões de segurança e na capacidade de mobilidade.

Há pouco passei dez dias em Maputo e deu para perceber o quanto Portugal precisa de investir nos países que falam a mesma língua. Nos halls dos hotéis, empresários lusos negoceiam com moçambicanos e procuram criar riqueza para ambas as partes.Mas se o futuro Governo não perceber que precisa de investir, apesar da crise, em escolas portuguesas e em formação técnica nesses países, estará a perder uma oportunidade de ouro.

P.S. Foi penoso assistir aos últimos capítulos de Teixeira dos Santos com José Sócrates. O ministro das Finanças ter-se-á sacrificado em nome da causa pública e por isso permitiu as mentiras sucessivas de Sócrates? Triste espectáculo...

vitor.rainho@sol.pt

Ninguém quis dizer o que se vai viver no casamento. O anterior marido até na hora da despedida optou pela mentira estilosa.

As eleições do passado domingo fizeram lembrar, nalguns aspectos, um casamento combinado em que a noiva não sabe ao que vai. Apenas conhece o aspecto do marido e o que dizem dele. Quanto ao resto, também percebe que não terá uma vida fácil, já que se anunciam cortes drásticos no orçamento que terá para gerir na sua economia doméstica.

Mas onde é que lhe irá doer mais, isso não sabe. Os eleitores que votaram terão consciência de que há um acordo assinado entre os três principais partidos portugueses e uma troika que irá tratar dos cortes para estancar a dívida portuguesa. Mas nenhum dos actores deste acordo foi capaz de ter coragem para explicar de uma forma cristalina – tendo o partido então no poder o descaramento de dizer que não tinha assinado determinadas matérias, quando depois se veio a descobrir a mentira – o que nos espera. O ex-primeiro-ministro, na sua encenação permanente, até na hora da derrota interpretou no teleponto um discurso pretensamente genuíno. O futuro do país não será tão fácil como ler uma carta de despedida, num ecrã gigante à nossa frente, dando a entender que é tudo de improviso e sentido.

Esperam-nos tempos de grande agitação e foi pena que os três partidos não tenham tido a coragem de explicar às pessoas onde lhes vai doer mais.Sabe-se sim que só um Governo forte conseguirá resistir à enorme contestação que irá estar permanentemente nas ruas. Basta olhar para a Grécia para entender o que nos espera. O mais insólito é que as greves anunciadas vão começar por alguns clássicos não operários, nomeadamente na companhia aérea. Com forte tradição na contestação social, os trabalhadores da TAP irão ser o primeiro desafio do Governo. Logo se verá como voará o Executivo de Passos Coelho neste embate a sério. As medidas de austeridade acordadas com a troika terão de ser contrabalançadas com decisões que melhorem a vida dos cidadãos, nomeadamente nas questões de segurança e na capacidade de mobilidade.

Há pouco passei dez dias em Maputo e deu para perceber o quanto Portugal precisa de investir nos países que falam a mesma língua. Nos halls dos hotéis, empresários lusos negoceiam com moçambicanos e procuram criar riqueza para ambas as partes.Mas se o futuro Governo não perceber que precisa de investir, apesar da crise, em escolas portuguesas e em formação técnica nesses países, estará a perder uma oportunidade de ouro.

P.S. Foi penoso assistir aos últimos capítulos de Teixeira dos Santos com José Sócrates. O ministro das Finanças ter-se-á sacrificado em nome da causa pública e por isso permitiu as mentiras sucessivas de Sócrates? Triste espectáculo...

vitor.rainho@sol.pt

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