Janeiro 21, 2007 – O Insurgente

07-08-2010
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A Semana Política

14/01/07-20/01/07

Passam-se coisas estranhas neste país. Nuno Melo disse ser uma vítima de uma vasta conspiração da direcção do seu partido, o Procurador-Geral da República considera, sem ver nisso grande problema, que o “segredo de justiça será sempre violado”, e Odete Santos louvou, na SIC Notícias, um falecido pastor evangélico do sul da América. Mas nada tão estranho como a supreendente discrição com que Francisco Louçã tem participado na campanha para o referendo sobre a questão do aborto. Não consta que ele tenha sido visto “agrilhoado” ou a ser transportado em helicópteros (afinal, Portugal ainda não é um daqueles regimes que o dr. Louçã em tempos admirou), mas se descontarmos as insinuações contra os “milionários anónimos” que apoiam a Plataforma Não Obrigado, e um ataque a Marcelo Rebelo de Sousa (algo que é sempre de louvar, convenhamos), Louçã pouco tem aproveitado as oportunidades que o tema oferece para deixar correr livre como uma gazela a demagogia que tem fervilhando dentro de si. Ao invés, o BE tem aparecido na campanha com a cara da “dra.” Natasha Nunes, o que só será um passo em frente se o que seguir for um precipício. Se o leitor tivesse, como em tempos aconteceu a este seu servo, sido confrontado pela dita jovem tentando convencê-lo a participar numa greve estudantil, certamente ficaria a achar que até o dr. Louçã tem uma personalidade mais cativante.

Entretanto, pareceu ter descido à Terra, não o conjunto de banalidades típico de apresentações de projectos governamentais, mas Cristo em pessoa (a RTP, pelo menos, não esteve muito longe de o dizer). O Quadro de Referência Estratégico Nacional (um nome muito burocrático para a Salvação) anunciou aos fiéis a forma como os fundos europeus serão aplicados na “construção” de um “novo país” em “sete anos”. Apostando na “qualificação dos recursos humanos”, na “inovação nas empresas” e na prioritária “formação” dos “jovens para o futuro”, o Governo pretende que Portugal se torne um “país mais culto”, “mais capaz de se afirmar no mundo”, que não desista do “progresso e da justiça social” e (como se não lhe bastasse um país que acredita em todas as promessas que o Governo lhe faz) um país que “acredite em si próprio”. Claro que houve algum cepticismo (Arlindo Cunha, do PSD, por exemplo, veio alertar para as “suspeitas” de que o Governo possa vir a usar este programa para “disfarçar o desemprego” ou “até financiar a despesa corrente do Estado”), mas a vasta maioria dos presentes ficou convencida com o visonamento do vídeo apresentado pelo Governo (uma arma que nem Cristo nem Carrilho souberam usar devidamente).

Uma outra Segunda Vinda terá estado a ser pensada nos corredores da Assembleia da República e nos gabinetes dos deputados do PSD. Alguns deles, agastados com a “falta de vivacidade” de Marques Guedes (aparentemente, este último não segue o exemplo dos deputados japoneses que contestam as propostas governamentais com os punhos), terão convidado, por “duas vezes” (quase tantas como as que Jorge negou a Pedro na parábola bíblica da Dissolução), Santana Lopes a candidatar-se ao cargo de líder da bancada parlamentar. Este terá recusado, porque apesar de gostar “muito de política” e de “ser deputado”, “mais nada” existe para além disso. Não seria estranho se Santana se lembrasse de si próprio para o cargo. Afinal, este homem que julga ter ao seu dispôr vastos “exércitos” prontos a carregá-lo aos ombros é, sem dúvida, o melhor amante que um espelho pode ter, nunca se cansando do seu próprio reflexo. Mas mais estranho é que ainda existam deputados do PSD que considerem que o “guerreiro menino” seria uma boa hipótese para os liderar no hemiciclo, e mais estranho ainda é o facto de Santana Lopes ser mais sensato que eles, e ter recusado.

A Semana Política

14/01/07-20/01/07

Passam-se coisas estranhas neste país. Nuno Melo disse ser uma vítima de uma vasta conspiração da direcção do seu partido, o Procurador-Geral da República considera, sem ver nisso grande problema, que o “segredo de justiça será sempre violado”, e Odete Santos louvou, na SIC Notícias, um falecido pastor evangélico do sul da América. Mas nada tão estranho como a supreendente discrição com que Francisco Louçã tem participado na campanha para o referendo sobre a questão do aborto. Não consta que ele tenha sido visto “agrilhoado” ou a ser transportado em helicópteros (afinal, Portugal ainda não é um daqueles regimes que o dr. Louçã em tempos admirou), mas se descontarmos as insinuações contra os “milionários anónimos” que apoiam a Plataforma Não Obrigado, e um ataque a Marcelo Rebelo de Sousa (algo que é sempre de louvar, convenhamos), Louçã pouco tem aproveitado as oportunidades que o tema oferece para deixar correr livre como uma gazela a demagogia que tem fervilhando dentro de si. Ao invés, o BE tem aparecido na campanha com a cara da “dra.” Natasha Nunes, o que só será um passo em frente se o que seguir for um precipício. Se o leitor tivesse, como em tempos aconteceu a este seu servo, sido confrontado pela dita jovem tentando convencê-lo a participar numa greve estudantil, certamente ficaria a achar que até o dr. Louçã tem uma personalidade mais cativante.

Entretanto, pareceu ter descido à Terra, não o conjunto de banalidades típico de apresentações de projectos governamentais, mas Cristo em pessoa (a RTP, pelo menos, não esteve muito longe de o dizer). O Quadro de Referência Estratégico Nacional (um nome muito burocrático para a Salvação) anunciou aos fiéis a forma como os fundos europeus serão aplicados na “construção” de um “novo país” em “sete anos”. Apostando na “qualificação dos recursos humanos”, na “inovação nas empresas” e na prioritária “formação” dos “jovens para o futuro”, o Governo pretende que Portugal se torne um “país mais culto”, “mais capaz de se afirmar no mundo”, que não desista do “progresso e da justiça social” e (como se não lhe bastasse um país que acredita em todas as promessas que o Governo lhe faz) um país que “acredite em si próprio”. Claro que houve algum cepticismo (Arlindo Cunha, do PSD, por exemplo, veio alertar para as “suspeitas” de que o Governo possa vir a usar este programa para “disfarçar o desemprego” ou “até financiar a despesa corrente do Estado”), mas a vasta maioria dos presentes ficou convencida com o visonamento do vídeo apresentado pelo Governo (uma arma que nem Cristo nem Carrilho souberam usar devidamente).

Uma outra Segunda Vinda terá estado a ser pensada nos corredores da Assembleia da República e nos gabinetes dos deputados do PSD. Alguns deles, agastados com a “falta de vivacidade” de Marques Guedes (aparentemente, este último não segue o exemplo dos deputados japoneses que contestam as propostas governamentais com os punhos), terão convidado, por “duas vezes” (quase tantas como as que Jorge negou a Pedro na parábola bíblica da Dissolução), Santana Lopes a candidatar-se ao cargo de líder da bancada parlamentar. Este terá recusado, porque apesar de gostar “muito de política” e de “ser deputado”, “mais nada” existe para além disso. Não seria estranho se Santana se lembrasse de si próprio para o cargo. Afinal, este homem que julga ter ao seu dispôr vastos “exércitos” prontos a carregá-lo aos ombros é, sem dúvida, o melhor amante que um espelho pode ter, nunca se cansando do seu próprio reflexo. Mas mais estranho é que ainda existam deputados do PSD que considerem que o “guerreiro menino” seria uma boa hipótese para os liderar no hemiciclo, e mais estranho ainda é o facto de Santana Lopes ser mais sensato que eles, e ter recusado.

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