Quarta República: Répteis

26-01-2011
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A agressividade comportamental tem sido estudada ao longo dos tempos desde os ratos aos mais sofisticados seres humanos. O filme, “O meu tio da América”, descreve as reacções dos seres humanos em função da complexa estrutura do cérebro. O professor Henry Laborit, médico e biólogo, que documentou a fonte da agressão, descreve-a através de três pessoas vulgares.O que leva uma mãe a matar a sua própria filha por uma mera futilidade? O que leva um jovem sacar de uma arma e disparar sobre colegas e professores sem qualquer motivo? O que leva um grupo étnico a exterminar um outro? O que leva um ser humano a transformar-se num bomba viva e provocar a morte de inocentes? O que leva um grupo de jovens a provocar distúrbios de forma gratuita? Enfim, o que leva o ser humano a ser obscenamente agressivo, não obstante toda a aprendizagem efectuada ao longo da sua evolução, culminando na construção, feitura e produção de obras ímpares, cheias de beleza, ricas de significado e transcendência? Tudo tem de passar pelo cérebro humano, ou melhor pelos cérebros. De facto, não podemos esquecer-nos de que ao longo da evolução fomos adoptando e acumulando novas formas e funções. O nosso cérebro mais primitivo é reptiliano. Idêntico aos répteis, que precederam os mamíferos em mais de 200 milhões de anos, é o controlador das funções vitais, tais como o respirar, a frequência cardíaca e os mecanismos de fuga ou de luta. É um cérebro pré-verbal, os seus impulsos são instintivos e ritualistas. Fundamental para a sobrevivência, domínio e acasalamento. As emoções de ódio, amor, medo e contentamento emanam desta parte primitiva. Claro que ao longo dos milhões de anos, outras camadas foram rodeando este núcleo. Deste modo apareceu o segundo cérebro, o dos mamíferos, e com ele começamos a ter aqueles comportamentos que admiramos num cãozinho, ou numa bela cria. Enquanto uma cobra não sente vergonha ou entusiasmo, para um cão ou gato é perfeitamente natural. E, por fim, um terceiro cérebro surge em toda a sua plenitude, o neo-córtex. É através dele que processamos pensamentos abstractos, palavras e símbolos, lógica e tempo.A força deste terceiro cérebro, o mais complexo e o mais recente, deverá, ou deveria, controlar os outros dois, sobretudo o mais primitivo, o cérebro reptiliano. No entanto, olhando à nossa volta, podemos observar toda a força e permanente presença do mesmo. Claro que as explicações sociológicas, políticas e religiosas para tantos problemas de agressividade são interessantes e constituem exercícios do tal neo-córtex, muito bem patenteados, como nos últimos acontecimentos verificados em França, só para falar no mais recente. Controlar o primitivo vulcão não é fácil. Regras, condutas, princípios religiosos, legislação, força, e outros métodos humanos têm conseguido manter algum equilíbrio, mas dêem as voltas que derem, nunca conseguirão apagar a força de uma animalidade que é igualmente fonte de tantas conquistas e criatividade. A primeira à espera de se manifestar sempre que pode, a segunda a ser utilizada de forma racional. Daqui a muitos milhões de anos, poderá haver novos “cérebros” a envolverem os já existentes, mas decerto que não irão apagar o primeiro. Se isso acontecer, então, também o homem, tal como o conhecemos, terá desaparecido, e com ele as grandezas e as misérias humanas.

A agressividade comportamental tem sido estudada ao longo dos tempos desde os ratos aos mais sofisticados seres humanos. O filme, “O meu tio da América”, descreve as reacções dos seres humanos em função da complexa estrutura do cérebro. O professor Henry Laborit, médico e biólogo, que documentou a fonte da agressão, descreve-a através de três pessoas vulgares.O que leva uma mãe a matar a sua própria filha por uma mera futilidade? O que leva um jovem sacar de uma arma e disparar sobre colegas e professores sem qualquer motivo? O que leva um grupo étnico a exterminar um outro? O que leva um ser humano a transformar-se num bomba viva e provocar a morte de inocentes? O que leva um grupo de jovens a provocar distúrbios de forma gratuita? Enfim, o que leva o ser humano a ser obscenamente agressivo, não obstante toda a aprendizagem efectuada ao longo da sua evolução, culminando na construção, feitura e produção de obras ímpares, cheias de beleza, ricas de significado e transcendência? Tudo tem de passar pelo cérebro humano, ou melhor pelos cérebros. De facto, não podemos esquecer-nos de que ao longo da evolução fomos adoptando e acumulando novas formas e funções. O nosso cérebro mais primitivo é reptiliano. Idêntico aos répteis, que precederam os mamíferos em mais de 200 milhões de anos, é o controlador das funções vitais, tais como o respirar, a frequência cardíaca e os mecanismos de fuga ou de luta. É um cérebro pré-verbal, os seus impulsos são instintivos e ritualistas. Fundamental para a sobrevivência, domínio e acasalamento. As emoções de ódio, amor, medo e contentamento emanam desta parte primitiva. Claro que ao longo dos milhões de anos, outras camadas foram rodeando este núcleo. Deste modo apareceu o segundo cérebro, o dos mamíferos, e com ele começamos a ter aqueles comportamentos que admiramos num cãozinho, ou numa bela cria. Enquanto uma cobra não sente vergonha ou entusiasmo, para um cão ou gato é perfeitamente natural. E, por fim, um terceiro cérebro surge em toda a sua plenitude, o neo-córtex. É através dele que processamos pensamentos abstractos, palavras e símbolos, lógica e tempo.A força deste terceiro cérebro, o mais complexo e o mais recente, deverá, ou deveria, controlar os outros dois, sobretudo o mais primitivo, o cérebro reptiliano. No entanto, olhando à nossa volta, podemos observar toda a força e permanente presença do mesmo. Claro que as explicações sociológicas, políticas e religiosas para tantos problemas de agressividade são interessantes e constituem exercícios do tal neo-córtex, muito bem patenteados, como nos últimos acontecimentos verificados em França, só para falar no mais recente. Controlar o primitivo vulcão não é fácil. Regras, condutas, princípios religiosos, legislação, força, e outros métodos humanos têm conseguido manter algum equilíbrio, mas dêem as voltas que derem, nunca conseguirão apagar a força de uma animalidade que é igualmente fonte de tantas conquistas e criatividade. A primeira à espera de se manifestar sempre que pode, a segunda a ser utilizada de forma racional. Daqui a muitos milhões de anos, poderá haver novos “cérebros” a envolverem os já existentes, mas decerto que não irão apagar o primeiro. Se isso acontecer, então, também o homem, tal como o conhecemos, terá desaparecido, e com ele as grandezas e as misérias humanas.

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