Mercados apostam na reestruturação das dívidas

20-04-2011
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O Governo grego não se cansa de negar publicamente que um plano de renegociação da dívida pública com os seus credores esteja a ser preparado, mas os mercados, pura e simplesmente, não acreditam. Um fenómeno de desconfiança que já está a levar a Grécia a adiar o seu regresso aos leilões de dívida junto dos mercados e que pode produzir também um efeito de contágio para Portugal.

A evolução das taxas de juro da dívida pública dos países periféricos da zona euro foi esclarecedora quanto ao que os investidores internacionais pensam que irá acontecer nos próximos tempos. As taxas de juro dos títulos obrigacionistas gregos, portugueses, irlandeses e mesmo espanhóis registaram, principalmente nos prazos mais curtos, fortes subidas. A taxa das obrigações a um ano chegaram perto dos 20 por cento na Grécia e ultrapassaram pela primeira vez a barreira dos 10 por cento em Portugal. Na Irlanda e Espanha, os valores são mais baixos, mas também subiram.

Isto significa que aqueles que actualmente detém títulos de dívida gregos e portugueses estão com medo que, mesmo com estes dois países a obterem financiamento junto da UE e do FMI, venham a não receber a totalidade do dinheiro que emprestaram e os juros correspondentes, principalmente nos casos em que a dívida atinge a sua maturidade dentro de relativamente pouco tempo. Ou seja, os investidores estão a apostar num cenário de reestruturação da dívida em que os Governos decidem que não é possível pagar aos credores a totalidade da dívida, optando ou por um adiamento da amortização, ou pelo não pagamento dos juros ou pela anulação de parte da dívida. Só assim se explica que, em títulos de dívida que o Governo grego é suposto pagar dentro de um ano, haja credores que prefiram vendê-los já, com um desconto superior a 20 por cento.

Um cenário de reestruturação está a ser considerado cada vez mais provável especialmente no caso da Grécia. Apesar de várias declarações oficiais a apontar no sentido contrário, as notícias a apontar para uma reestruturação da dívida na Grécia sucederam-se ontem a grande velocidade.

A Reuters, citando fontes governamentais alemãs não identificadas, disse que em Berlim todos esperam uma renegociação da dívida grega e, logo a seguir, o jornal alemão Die Welt garante que um ministro grego, também não identificado, considera a reestruturação como sendo inevitável.

Oficialmente, Atenas continua a negar um cenário deste tipo. O ministro das Finanças George Papaconstantinou garante que "este não é um assunto que esteja a ser discutido", defendendo que "a dor e os custos de fazer uma reestruturação seria muito maiores do que ter de pagar aos credores".

Logo a seguir, a ministra da Economia francesa, Christine Lagarde, defendeu, entrando em oposição com as declarações muito menos convictas do seu homólogo alemão na semana passada, que seria "catastrófico" reestruturar as dívidas públicas da Grécia, Irlanda e Portugal, porque teriam depois mais dificuldade em voltar a financiar-se nos mercados.

Em entrevista ao PÚBLICO (ver páginas 4 e 5), Jürgen Stark, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu também revela a sua oposição a uma reestruturação da dívida por parte dos países periféricos.

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O que é certo é que todos estes desmentidos oficiais e declarações de oposição de altos responsáveis políticos europeus não chegam para convencer os mercados, que por contágio, começam a temer o mesmo tipo de cenário em Portugal.

E assim, apesar de para o Estado português uma decisão de adiar ou anular o pagamento de parte da dívida ter menos lógica do que para a Grécia - uma vez que o peso da dívida pública portuguesa no PIB é de cerca de 90 por cento do PIB contra 150 por cento dos gregos - as taxas de juro das obrigações de curto prazo continuam a subir a grande velocidade.

Mesmo sendo verdade que Portugal, nos próximos três anos, venha a contar com o financiamento dos seus parceiros da zona euro e do FMI, este é um cenário que torna ainda mais difícil uma saída da crise. É que uma das preocupações dos países que recorrem a ajuda externa é a manutenção de uma expectativa de regresso aos mercados num curto espaço de tempo. Como as coisas estão, Portugal terá mesmo dificuldades em concretizar com sucesso os leilões de dívida pública a seis meses e um ano que pretendia manter. Aliás, tem já uma primeira operação marcada para amanhã.

O Governo grego não se cansa de negar publicamente que um plano de renegociação da dívida pública com os seus credores esteja a ser preparado, mas os mercados, pura e simplesmente, não acreditam. Um fenómeno de desconfiança que já está a levar a Grécia a adiar o seu regresso aos leilões de dívida junto dos mercados e que pode produzir também um efeito de contágio para Portugal.

A evolução das taxas de juro da dívida pública dos países periféricos da zona euro foi esclarecedora quanto ao que os investidores internacionais pensam que irá acontecer nos próximos tempos. As taxas de juro dos títulos obrigacionistas gregos, portugueses, irlandeses e mesmo espanhóis registaram, principalmente nos prazos mais curtos, fortes subidas. A taxa das obrigações a um ano chegaram perto dos 20 por cento na Grécia e ultrapassaram pela primeira vez a barreira dos 10 por cento em Portugal. Na Irlanda e Espanha, os valores são mais baixos, mas também subiram.

Isto significa que aqueles que actualmente detém títulos de dívida gregos e portugueses estão com medo que, mesmo com estes dois países a obterem financiamento junto da UE e do FMI, venham a não receber a totalidade do dinheiro que emprestaram e os juros correspondentes, principalmente nos casos em que a dívida atinge a sua maturidade dentro de relativamente pouco tempo. Ou seja, os investidores estão a apostar num cenário de reestruturação da dívida em que os Governos decidem que não é possível pagar aos credores a totalidade da dívida, optando ou por um adiamento da amortização, ou pelo não pagamento dos juros ou pela anulação de parte da dívida. Só assim se explica que, em títulos de dívida que o Governo grego é suposto pagar dentro de um ano, haja credores que prefiram vendê-los já, com um desconto superior a 20 por cento.

Um cenário de reestruturação está a ser considerado cada vez mais provável especialmente no caso da Grécia. Apesar de várias declarações oficiais a apontar no sentido contrário, as notícias a apontar para uma reestruturação da dívida na Grécia sucederam-se ontem a grande velocidade.

A Reuters, citando fontes governamentais alemãs não identificadas, disse que em Berlim todos esperam uma renegociação da dívida grega e, logo a seguir, o jornal alemão Die Welt garante que um ministro grego, também não identificado, considera a reestruturação como sendo inevitável.

Oficialmente, Atenas continua a negar um cenário deste tipo. O ministro das Finanças George Papaconstantinou garante que "este não é um assunto que esteja a ser discutido", defendendo que "a dor e os custos de fazer uma reestruturação seria muito maiores do que ter de pagar aos credores".

Logo a seguir, a ministra da Economia francesa, Christine Lagarde, defendeu, entrando em oposição com as declarações muito menos convictas do seu homólogo alemão na semana passada, que seria "catastrófico" reestruturar as dívidas públicas da Grécia, Irlanda e Portugal, porque teriam depois mais dificuldade em voltar a financiar-se nos mercados.

Em entrevista ao PÚBLICO (ver páginas 4 e 5), Jürgen Stark, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu também revela a sua oposição a uma reestruturação da dívida por parte dos países periféricos.

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O que é certo é que todos estes desmentidos oficiais e declarações de oposição de altos responsáveis políticos europeus não chegam para convencer os mercados, que por contágio, começam a temer o mesmo tipo de cenário em Portugal.

E assim, apesar de para o Estado português uma decisão de adiar ou anular o pagamento de parte da dívida ter menos lógica do que para a Grécia - uma vez que o peso da dívida pública portuguesa no PIB é de cerca de 90 por cento do PIB contra 150 por cento dos gregos - as taxas de juro das obrigações de curto prazo continuam a subir a grande velocidade.

Mesmo sendo verdade que Portugal, nos próximos três anos, venha a contar com o financiamento dos seus parceiros da zona euro e do FMI, este é um cenário que torna ainda mais difícil uma saída da crise. É que uma das preocupações dos países que recorrem a ajuda externa é a manutenção de uma expectativa de regresso aos mercados num curto espaço de tempo. Como as coisas estão, Portugal terá mesmo dificuldades em concretizar com sucesso os leilões de dívida pública a seis meses e um ano que pretendia manter. Aliás, tem já uma primeira operação marcada para amanhã.

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