"Recapitalizar os bancos não é tarefa nossa, é do Governo"

20-04-2011
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Jürgen Stark recusa qualquer pressão do BCE sobre os bancos portugueses, mas afirma que precisam de deixar de depender dos fundos do BCE. "Não podemos fazer mais do que fazemos para ajudar os bancos", avisa.

Nas últimas semanas, o BCE não tem comprado dívida pública nos mercados secundários. Pode-se concluir que, na prática, esse programa está concluído e que já não faz sentido continuá-lo?

Tudo aquilo que decidimos, no âmbito da nossa contribuição para a resolução da crise, foi motivado por considerações de política monetária e totalmente em linha com o nosso mandato. Não foi feito para tornar mais fácil aos países financiarem-se. Comprámos Obrigações do Tesouro no mercado secundário para garantir o bom funcionamento do mecanismo de transmissão da política monetária. E o que vemos agora é que o mecanismo de transmissão na zona euro funciona bem.

Mas, em Portugal, os bancos estão a restringir cada vez mais o crédito, ao mesmo tempo que o BCE ainda apresenta uma política monetária expansionista. Isto é um bom funcionamento do mecanismo de transmissão?

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Concordo que, mesmo depois de as taxas subirem para 1,25 por cento, o BCE mantém uma política bastante expansionista. Além disso, implementámos as cedências de liquidez a taxa fixa, o que quer dizer que os bancos têm toda a liquidez de que precisam, desde que sejam bancos saudáveis e possuam garantias elegíveis. Os países que estão numa situação difícil, em particular, beneficiam destas medidas extraordinárias. A nossa estratégia global garante que o mecanismo de transmissão funciona.

Mas o BCE tem-se mostrado preocupado com a dependência dos bancos relativamente aos empréstimos do BCE. Como é que os bancos portugueses podem reduzir essa dependência sem prejudicar ainda mais a economia?

Não podemos fazer mais do que fazemos para ajudar os bancos. Há uma melhoria global do mercado interbancário na zona euro, mas, reconheço, não em todas as regiões. O que é preciso é que os bancos façam um ajustamento estrutural para que não dependam durante demasiado tempo das operações de refinanciamento do BCE. Isto significa que o processo de "desalavancagem" tem de continuar e que, se for necessário, haja uma recapitalização do sistema bancário pelo Governo. Mas essa não é a nossa tarefa. Recapitalizar os bancos não é uma tarefa nossa, é do Governo.

Em Portugal, houve quem falasse de pressão sobre os bancos para deixarem de emprestar dinheiro ao Estado...

Acho que o presidente do BCE clarificou isso. Não houve pressão do BCE sobre ninguém, nem sobre nenhuma instituição.

Dizer aos bancos para deixarem de estar tão dependentes dos fundos do BCE, nesta fase, não é pressão?

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O que é preciso é que o mercado interbancário funcione bem em toda a zona euro. E isso apenas se consegue quando existe confiança entre os bancos. É aqui que está a questão: por que é que os bancos não confiam uns nos outros em algumas regiões da zona euro? Porque precisam de ser mais transparentes, de proceder a uma "desalavancagem" das suas posições e, se necessário, de se recapitalizar. Esta é a mensagem que temos vindo a transmitir há já muito tempo.

Jürgen Stark recusa qualquer pressão do BCE sobre os bancos portugueses, mas afirma que precisam de deixar de depender dos fundos do BCE. "Não podemos fazer mais do que fazemos para ajudar os bancos", avisa.

Nas últimas semanas, o BCE não tem comprado dívida pública nos mercados secundários. Pode-se concluir que, na prática, esse programa está concluído e que já não faz sentido continuá-lo?

Tudo aquilo que decidimos, no âmbito da nossa contribuição para a resolução da crise, foi motivado por considerações de política monetária e totalmente em linha com o nosso mandato. Não foi feito para tornar mais fácil aos países financiarem-se. Comprámos Obrigações do Tesouro no mercado secundário para garantir o bom funcionamento do mecanismo de transmissão da política monetária. E o que vemos agora é que o mecanismo de transmissão na zona euro funciona bem.

Mas, em Portugal, os bancos estão a restringir cada vez mais o crédito, ao mesmo tempo que o BCE ainda apresenta uma política monetária expansionista. Isto é um bom funcionamento do mecanismo de transmissão?

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Mas o BCE tem-se mostrado preocupado com a dependência dos bancos relativamente aos empréstimos do BCE. Como é que os bancos portugueses podem reduzir essa dependência sem prejudicar ainda mais a economia?

Não podemos fazer mais do que fazemos para ajudar os bancos. Há uma melhoria global do mercado interbancário na zona euro, mas, reconheço, não em todas as regiões. O que é preciso é que os bancos façam um ajustamento estrutural para que não dependam durante demasiado tempo das operações de refinanciamento do BCE. Isto significa que o processo de "desalavancagem" tem de continuar e que, se for necessário, haja uma recapitalização do sistema bancário pelo Governo. Mas essa não é a nossa tarefa. Recapitalizar os bancos não é uma tarefa nossa, é do Governo.

Em Portugal, houve quem falasse de pressão sobre os bancos para deixarem de emprestar dinheiro ao Estado...

Acho que o presidente do BCE clarificou isso. Não houve pressão do BCE sobre ninguém, nem sobre nenhuma instituição.

Dizer aos bancos para deixarem de estar tão dependentes dos fundos do BCE, nesta fase, não é pressão?

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O que é preciso é que o mercado interbancário funcione bem em toda a zona euro. E isso apenas se consegue quando existe confiança entre os bancos. É aqui que está a questão: por que é que os bancos não confiam uns nos outros em algumas regiões da zona euro? Porque precisam de ser mais transparentes, de proceder a uma "desalavancagem" das suas posições e, se necessário, de se recapitalizar. Esta é a mensagem que temos vindo a transmitir há já muito tempo.

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