A Página do Mário: Homero Serpa

27-12-2009
marcar artigo


Homero Serpa foi a enterrar no dia 1.Como escreveu ontem Alexandre Pais no concorrente "Record", Homero Serpa fez parte de um «grupo de professores como nenhuma outra universidade terá juntado – Alfredo Farinha, Aurélio Márcio, Carlos Miranda, Carlos Pinhão, Cruz dos Santos, Homero Serpa e Vítor Santos».Foi um dos príncipes de "A Bola".Foi com eles que aprendi a ler – quando entrei na escola primária, quase com 8 anos completos, o professor Bentes (esse mesmo, o “rato atómico” da Académica) não teve de me ensinar o "bê-a-bá" do juntar as letras, porque já o tinha aprendido nas páginas de “A Bola” (sempre que a “apanhava”), do “Diário Popular” (aos sábados, por causa do concurso de anedotas) e de “O Primeiro de Janeiro” (aos domingos, com as aventuras do Príncipe Valente).Há uns três ou quatro anos participei num debate, na Universidade de Coimbra, em que esteve também presente Vítor Serpa, o então como agora director de "A Bola".Vítor Serpa chegou acompanhado do pai, Homero Serpa, quando ainda faltava mais de meia hora para o início do debate, no novíssimo auditório da Faculdade de Direito. Ficámos à conversa.Homero desfiou memórias de Coimbra – da Académica e de jornalistas com quem trabalhara mais de perto.Há dois anos, aí por meados de Fevereiro de 2006, o Professor Manuel Sérgio (o pensador que mais sabe de Desporto em Portugal) concedeu-me uma entrevista.A certa altura, falámos de treinadores de futebol: José Mourinho, Pedroto, Cândido de Oliveira...Eis um excerto da entrevista:– Qual era a sua função: aconselhar Pedroto?– Não, não. Eu nunca ensinei futebol a ninguém. O Pedroto, coisa curiosa, era um homem que sabia que não sabia. Uma coisa interessante... Era uma pessoa curiosíssima, um indivíduo que gostava de saber e, então, gostava de me ouvir falar e levantava perguntas.– Sobre tudo?– Sim, sobre política, mesmo futebol. O Pedroto era muito interessante. Eu não sei se terá havido mais alguém no futebol com aquela curiosidade. Eu não conheci o Cândido de Oliveira, quem escreveu sobre ele foi o Homero Serpa...– O Homero chegou a ser treinador do Belenenses...– É uma situação curiosa. O Belenenses estava para descer de divisão e o Acácio Rosa, aí por 1969 ou 1970, foi buscar o pai do José Mourinho, que era nosso guarda-redes [Félix Mourinho], e o Homero Serpa, um jornalista, para orientarem a equipa. E o Belenenses não desceu de divisão! Isto deu-me muito que pensar, muito que pensar... É o homem que triunfa no treinador. O treinador triunfa se é, ou não é, homem. Isso é a força do José Mourinho. O líder é o grande treinador. Na alta competição, o líder é uma espécie de general; é evidente que tem de saber qualquer coisa de futebol... Tem de ser perspicaz, conhecer bem os seus jogadores. Mas isso quase todos sabem fazer, mas depois falta-lhes o resto: formar um grupo que saiba entrar em campo e ter objectivos. O jogador, acima de tudo, tem de entrar em campo e sentir que está a servir um ideal em que acredita.A referência de Manuel Sérgio a Homero Serpa como conhecedor da vida de Cândido de Oliveira ficou-me na memória.Pouco tempo depois, foi útil.Na altura, encontrava-me directamente envolvido no projecto de um livro que contasse a história do futebol da Briosa. [Um livro que vai ser apresentado no próximo dia 18, às 18h00, na Sala VIP do ECC – Estádio Cidade de Coimbra/Empreendimento Comercial do Calhabé].Nesse âmbito sugeri, até para tornar mais leve a leitura de um livro com mais de 600 páginas(!), que fossem incluídos depoimentos a propósito de datas/factos relevantes da vida da Académica.A sugestão foi aceite e coube-me contactar diversas personalidades. Uma delas foi Homero Serpa que, recebida a carta, telefonou de imediato e aceitou colaborar naquele que – creio eu, pelo que pude ver nessa altura – será o livro mais completo alguma vez publicado em Portugal sobre uma instituição desportiva.O texto – de que guardo o original – chegou poucos dias depois pelo correio.«Entrei em "A Bola", em 1956, pela porta da coincidência, calhou assim - como diz o povo quando as coisas acontecem por acaso. Pois calhou. Cândido de Oliveira vivia em Coimbra, dedicado à Académica, raramente vinha a Lisboa, ao que se sabe, por Coimbra se dava muito bem. Eu, jornalista na fase de formação, conhecia-o apenas pelo que dele ouvia contar, no tom do elogio hiperbólico, pelo Vítor Santos, que realmente o admirava, pelo Aurélio Márcio, que o idolatrava, por alguns mais», escreveu Homero Serpa no texto que creio constar do livro que será apresentado de amanhã a 15 dias.Foi um privilégio ter conhecido, embora superficialmente, Homero Serpa.Descanse em paz, campeão.


Homero Serpa foi a enterrar no dia 1.Como escreveu ontem Alexandre Pais no concorrente "Record", Homero Serpa fez parte de um «grupo de professores como nenhuma outra universidade terá juntado – Alfredo Farinha, Aurélio Márcio, Carlos Miranda, Carlos Pinhão, Cruz dos Santos, Homero Serpa e Vítor Santos».Foi um dos príncipes de "A Bola".Foi com eles que aprendi a ler – quando entrei na escola primária, quase com 8 anos completos, o professor Bentes (esse mesmo, o “rato atómico” da Académica) não teve de me ensinar o "bê-a-bá" do juntar as letras, porque já o tinha aprendido nas páginas de “A Bola” (sempre que a “apanhava”), do “Diário Popular” (aos sábados, por causa do concurso de anedotas) e de “O Primeiro de Janeiro” (aos domingos, com as aventuras do Príncipe Valente).Há uns três ou quatro anos participei num debate, na Universidade de Coimbra, em que esteve também presente Vítor Serpa, o então como agora director de "A Bola".Vítor Serpa chegou acompanhado do pai, Homero Serpa, quando ainda faltava mais de meia hora para o início do debate, no novíssimo auditório da Faculdade de Direito. Ficámos à conversa.Homero desfiou memórias de Coimbra – da Académica e de jornalistas com quem trabalhara mais de perto.Há dois anos, aí por meados de Fevereiro de 2006, o Professor Manuel Sérgio (o pensador que mais sabe de Desporto em Portugal) concedeu-me uma entrevista.A certa altura, falámos de treinadores de futebol: José Mourinho, Pedroto, Cândido de Oliveira...Eis um excerto da entrevista:– Qual era a sua função: aconselhar Pedroto?– Não, não. Eu nunca ensinei futebol a ninguém. O Pedroto, coisa curiosa, era um homem que sabia que não sabia. Uma coisa interessante... Era uma pessoa curiosíssima, um indivíduo que gostava de saber e, então, gostava de me ouvir falar e levantava perguntas.– Sobre tudo?– Sim, sobre política, mesmo futebol. O Pedroto era muito interessante. Eu não sei se terá havido mais alguém no futebol com aquela curiosidade. Eu não conheci o Cândido de Oliveira, quem escreveu sobre ele foi o Homero Serpa...– O Homero chegou a ser treinador do Belenenses...– É uma situação curiosa. O Belenenses estava para descer de divisão e o Acácio Rosa, aí por 1969 ou 1970, foi buscar o pai do José Mourinho, que era nosso guarda-redes [Félix Mourinho], e o Homero Serpa, um jornalista, para orientarem a equipa. E o Belenenses não desceu de divisão! Isto deu-me muito que pensar, muito que pensar... É o homem que triunfa no treinador. O treinador triunfa se é, ou não é, homem. Isso é a força do José Mourinho. O líder é o grande treinador. Na alta competição, o líder é uma espécie de general; é evidente que tem de saber qualquer coisa de futebol... Tem de ser perspicaz, conhecer bem os seus jogadores. Mas isso quase todos sabem fazer, mas depois falta-lhes o resto: formar um grupo que saiba entrar em campo e ter objectivos. O jogador, acima de tudo, tem de entrar em campo e sentir que está a servir um ideal em que acredita.A referência de Manuel Sérgio a Homero Serpa como conhecedor da vida de Cândido de Oliveira ficou-me na memória.Pouco tempo depois, foi útil.Na altura, encontrava-me directamente envolvido no projecto de um livro que contasse a história do futebol da Briosa. [Um livro que vai ser apresentado no próximo dia 18, às 18h00, na Sala VIP do ECC – Estádio Cidade de Coimbra/Empreendimento Comercial do Calhabé].Nesse âmbito sugeri, até para tornar mais leve a leitura de um livro com mais de 600 páginas(!), que fossem incluídos depoimentos a propósito de datas/factos relevantes da vida da Académica.A sugestão foi aceite e coube-me contactar diversas personalidades. Uma delas foi Homero Serpa que, recebida a carta, telefonou de imediato e aceitou colaborar naquele que – creio eu, pelo que pude ver nessa altura – será o livro mais completo alguma vez publicado em Portugal sobre uma instituição desportiva.O texto – de que guardo o original – chegou poucos dias depois pelo correio.«Entrei em "A Bola", em 1956, pela porta da coincidência, calhou assim - como diz o povo quando as coisas acontecem por acaso. Pois calhou. Cândido de Oliveira vivia em Coimbra, dedicado à Académica, raramente vinha a Lisboa, ao que se sabe, por Coimbra se dava muito bem. Eu, jornalista na fase de formação, conhecia-o apenas pelo que dele ouvia contar, no tom do elogio hiperbólico, pelo Vítor Santos, que realmente o admirava, pelo Aurélio Márcio, que o idolatrava, por alguns mais», escreveu Homero Serpa no texto que creio constar do livro que será apresentado de amanhã a 15 dias.Foi um privilégio ter conhecido, embora superficialmente, Homero Serpa.Descanse em paz, campeão.

marcar artigo