A Página do Mário: Velho de 51 anos

27-12-2009
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Encontrou-me e disse, ar doutoral:– Estás velho. E uma das provas da velhice é a falta de paciência.Isto dito assim, do alto da sabedoria de alguém, deixa qualquer um sem resposta.Foi o que me sucedeu.Agora, muitas horas depois, apeteceu-me reflectir sobre aquela afirmação, proferida com ar dogmático, quase solene, tom grave.É verdade: estou velho. Tenho a consciência que, aos 51, já vivi mais do que aquilo que me falta viver.Também é verdade que me sinto cada vez mais impaciente. Não tenho paciência (mas, sobretudo, não tenho tempo...) para aturar cretinos emproados, campeões-da-rua-deles, gente sem ética e a que não consegue ser solidária, fulanos que se ufanam de títulos que nunca conseguiram, ingratos de todas as formas e feitios, mentirosos e outros suaves sacanóides.É verdade: com gente desta, nem um minuto. Para não os iludir e para não me criar alergia de qualquer tipo.Dizia-me há dias um amigo que Coimbra está cheia de "malfeitores" (ele utilizou uma expressão mais vernácula...) que, quando se cruzam connosco na rua, sorriem e batem nas costas.Concordei com ele.Eu, por todas as razões e mais uma, mas essencialmente por respeito para comigo próprio, não percorro esses caminhos. A quem não quero cumprimentar, não cumprimento. Com quem não quero estar, não estou.(A nossa vida colectiva seria muito mais saudável se toda a gente procedesse assim. E evitavam-se tantos enganos e tantas desilusões.)É também por isso que sinto uma impaciência crescente.Mas contrariamente ao que afirmou o primeiro citado nesta crónica, creio que - apesar dos 51 anos e dos cabelos brancos - esta falta de paciência não é sinónimo de velhice. (Os anciãos costumam ser muito pacientes, não é?)Sinto que esta impaciência-quase-constante significa, pelo contrário, espírito jovem, de alguém que teima em assumir-se contra-a-corrente, sem receio de correr riscos, incapaz de adorar "bois dourados" sejam eles quem forem. Sinto possuir a maior riqueza que se pode ter: a liberdade de poder escrever, poder falar, poder andar, poder estar (ou não estar) e... poder virar as costas. Em suma: a liberdade de ser - integralmente - eu próprio.Por isso, primeiro citado deste texto, deixa-me dizer-te que tu, tão acomodado te mostras em lugar de mordomias, é que corres perigo de estar a caminho de uma velhice galopante.Se é que já não entraste mesmo na terceira idade - a das pantufas.


Encontrou-me e disse, ar doutoral:– Estás velho. E uma das provas da velhice é a falta de paciência.Isto dito assim, do alto da sabedoria de alguém, deixa qualquer um sem resposta.Foi o que me sucedeu.Agora, muitas horas depois, apeteceu-me reflectir sobre aquela afirmação, proferida com ar dogmático, quase solene, tom grave.É verdade: estou velho. Tenho a consciência que, aos 51, já vivi mais do que aquilo que me falta viver.Também é verdade que me sinto cada vez mais impaciente. Não tenho paciência (mas, sobretudo, não tenho tempo...) para aturar cretinos emproados, campeões-da-rua-deles, gente sem ética e a que não consegue ser solidária, fulanos que se ufanam de títulos que nunca conseguiram, ingratos de todas as formas e feitios, mentirosos e outros suaves sacanóides.É verdade: com gente desta, nem um minuto. Para não os iludir e para não me criar alergia de qualquer tipo.Dizia-me há dias um amigo que Coimbra está cheia de "malfeitores" (ele utilizou uma expressão mais vernácula...) que, quando se cruzam connosco na rua, sorriem e batem nas costas.Concordei com ele.Eu, por todas as razões e mais uma, mas essencialmente por respeito para comigo próprio, não percorro esses caminhos. A quem não quero cumprimentar, não cumprimento. Com quem não quero estar, não estou.(A nossa vida colectiva seria muito mais saudável se toda a gente procedesse assim. E evitavam-se tantos enganos e tantas desilusões.)É também por isso que sinto uma impaciência crescente.Mas contrariamente ao que afirmou o primeiro citado nesta crónica, creio que - apesar dos 51 anos e dos cabelos brancos - esta falta de paciência não é sinónimo de velhice. (Os anciãos costumam ser muito pacientes, não é?)Sinto que esta impaciência-quase-constante significa, pelo contrário, espírito jovem, de alguém que teima em assumir-se contra-a-corrente, sem receio de correr riscos, incapaz de adorar "bois dourados" sejam eles quem forem. Sinto possuir a maior riqueza que se pode ter: a liberdade de poder escrever, poder falar, poder andar, poder estar (ou não estar) e... poder virar as costas. Em suma: a liberdade de ser - integralmente - eu próprio.Por isso, primeiro citado deste texto, deixa-me dizer-te que tu, tão acomodado te mostras em lugar de mordomias, é que corres perigo de estar a caminho de uma velhice galopante.Se é que já não entraste mesmo na terceira idade - a das pantufas.

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