Dias com árvores: Zelha à beira Tua

18-12-2009
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Acer monspessulanum L. (zelha)Já não há muitas destas árvores em Portugal. Na Serra dos Candeeiros, ao fundo do grande anfiteatro natural que é a Fórnea, há duas zelhas no leito pedregoso da ribeira, um curso de água sazonal que seca por completo nos meses de Verão. Enraizadas nos interstícios da pedra, cercadas por figueiras e por vegetação arbustiva, não há ângulo que lhes favoreça o retrato. E bem mereciam louvor e exposição pública, por serem quase as últimas da sua espécie em toda a serra. Na impossibilidade de lhes fazer justiça, rumamos ao nordeste do país e à bacia do Douro, que é onde resistem as populações mais abundantes da espécie (há menção, também, da sua presença no Sabugal, na Serra do Açor e na Serra da Arrábida).O vale do Tua, como se sabe, não é refúgio muito seguro. Se a barragem for construída à cota máxima, também em Abreiro as margens do rio serão inundadas, e esta meia dúzia de zelhas abaixo e acima da linha férrea será submergida tal como o resto da vegetação ribeirinha. Se não se fizer a barragem, ou se o enchimento se ficar pela cota mais baixa, há ainda assim, caso se opte por reconstruir ou modernizar a ferrovia, razões para temer o futuro destas árvores, que quase se roçavam na automotora quando ela por aqui passava.E assim nos vamos entretendo, pois não há só que contabilizar perdas quando se destrói o património natural. Além de favorecerem as empresas predatórias que fazem da destruição o seu negócio, são estas micro-extinções que vão engrossar os diversos livros vermelhos de espécies ameaçadas, obras de considerável mérito já com tradição em Portugal.O Acer monspessulanum (zelha, ácer-de-Montpellier ou bordo-de-Montpellier) e o Acer pseudoplatanus (padreiro ou plátano-bastardo) são as duas únicas espécies do seu género espontâneas em Portugal; o segundo, de ocorrência muito frequente no norte do país, é também muito usado em jardins e arruamentos. O A. monspessulanum é de menor porte (até 10 metros de altura) e de crescimento lento, e a sua madeira, dura e compacta, é empregue em carpintaria de luxo e no fabrico de instrumentos musicais - como as gaitas-de-foles de Miranda do Douro. Prefere climas secos e solos calcários, embora, como atesta a sua presença no vale do Tua, tolere outro tipo de solos. A sua área de distribuição natural abrange não só a Península Ibérica, onde é mais comum no norte, mas ainda toda a região mediterrânica.


Acer monspessulanum L. (zelha)Já não há muitas destas árvores em Portugal. Na Serra dos Candeeiros, ao fundo do grande anfiteatro natural que é a Fórnea, há duas zelhas no leito pedregoso da ribeira, um curso de água sazonal que seca por completo nos meses de Verão. Enraizadas nos interstícios da pedra, cercadas por figueiras e por vegetação arbustiva, não há ângulo que lhes favoreça o retrato. E bem mereciam louvor e exposição pública, por serem quase as últimas da sua espécie em toda a serra. Na impossibilidade de lhes fazer justiça, rumamos ao nordeste do país e à bacia do Douro, que é onde resistem as populações mais abundantes da espécie (há menção, também, da sua presença no Sabugal, na Serra do Açor e na Serra da Arrábida).O vale do Tua, como se sabe, não é refúgio muito seguro. Se a barragem for construída à cota máxima, também em Abreiro as margens do rio serão inundadas, e esta meia dúzia de zelhas abaixo e acima da linha férrea será submergida tal como o resto da vegetação ribeirinha. Se não se fizer a barragem, ou se o enchimento se ficar pela cota mais baixa, há ainda assim, caso se opte por reconstruir ou modernizar a ferrovia, razões para temer o futuro destas árvores, que quase se roçavam na automotora quando ela por aqui passava.E assim nos vamos entretendo, pois não há só que contabilizar perdas quando se destrói o património natural. Além de favorecerem as empresas predatórias que fazem da destruição o seu negócio, são estas micro-extinções que vão engrossar os diversos livros vermelhos de espécies ameaçadas, obras de considerável mérito já com tradição em Portugal.O Acer monspessulanum (zelha, ácer-de-Montpellier ou bordo-de-Montpellier) e o Acer pseudoplatanus (padreiro ou plátano-bastardo) são as duas únicas espécies do seu género espontâneas em Portugal; o segundo, de ocorrência muito frequente no norte do país, é também muito usado em jardins e arruamentos. O A. monspessulanum é de menor porte (até 10 metros de altura) e de crescimento lento, e a sua madeira, dura e compacta, é empregue em carpintaria de luxo e no fabrico de instrumentos musicais - como as gaitas-de-foles de Miranda do Douro. Prefere climas secos e solos calcários, embora, como atesta a sua presença no vale do Tua, tolere outro tipo de solos. A sua área de distribuição natural abrange não só a Península Ibérica, onde é mais comum no norte, mas ainda toda a região mediterrânica.

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