Antologias: Revista Visão História: A queda de Salazar e a "primavera marcelista"

20-05-2011
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Revista Visão História: A queda de Salazar e a "primavera marcelista" via nonas by nonas on 7/20/08 Fui um dos compradores do segundo número da Visão História por duas razões: uma pelo portfolio de Eduardo Gageiro, a outra pelas declarações de Mário Soares, de Pinto Balsemão e de Freitas do Amaral.Pela primeira vez, após sempre o ter negado, Mário Soares conta a forma como foi convidado a fazer parte da lista da Acção Nacional Popular: «Antes de as "eleições" serem marcadas, fui apresentado ao novo secretário-geral da União Nacional (esse e os outros nomes só mudaram depois das eleições), Melo e Castro, pelo antigo director de O Tempo e o Modo, o meu amigo António Alçada Baptista, que, quando eu já estava no exílio, aceitou ser o autor de um livro de "entrevistas" com Marcelo Caetano, ou seja, como lhe disse em Paris, "o António Ferro de Caetano", com menos fôlego e originalidade. Melo e Castro convidou-me para jantar, no Grémio Literário. Com algum cuidado e vários rodeios chegou ao ponto que lhe interessava: convidou-me para figurar, em destaque, na lista concorrente (e obviamente ganhadora) da Acção Nacional Popular.» (p. 88)Mário Soares refere-se às eleições de 1969, as primeiras sob o mandato de Marcello Caetano.E mais conta: «Realmente, no primeiro Conselho de Ministros, Marcelo Caetano fez sair um breve comunicado, fixando num ano a minha pena de deportação, contando o tempo de prisão antes sofrido, em Caxias. O que significava que estaria de volta a Lisboa em Novembro, dias antes de meu pai completar 90 anos.Foi a primeira medida concreta da chamada "Primavera marcelista".Sobre o bispo vermelho do Porto: «Entretanto, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, continuava proibido de entrar em Portugal, no seu exílio no Convento de Tormes, em Espanha, perto de Salamanca. Decidi ir, com a minha filha a conduzir e o meu amigo Raul Rego, então director do República, e sua esposa, visitá-lo, para lhe expressar a nossa solidariedade.» (p. 87).Por seu lado, o bispo vermelho do Porto endereçou a Marcello Caetano, datada de 29 de Maio de 1969, uma carta que teve resposta de Marcello a 12 de Junho, na qual diz: «Pode vir para Fátima, como deseja, quando quiser. Peço-lhe porém que não se dirija ao Porto enquanto a Santa Sé não resolver a situação do administrador apostólico» (p.82) e que gostaria que o seu regresso «tivesse lugar após o acordo do Governo com a Santa Sé» (p.83). O testemunho de Freitas do Amaral é interessante e relevante quando atesta como êxitos: «reduziu drasticamente (numa primeira fase) os cortes da Censura; permitiu o regresso do bispo do Porto, exilado em Roma, e do dr. Mário Soares, com residência fixa em S. Tomé» (p. 67) e finaliza o texto desta forma: «Assim, a Revolução não se fez contra Marcello Caetano – mas contra as políticas de Salazar, e apesar das correcções tentadas por Marcello Caetano (por serem insuficientes, não por serem erradas). Por isso considero que este não merecia ter acabado como acabou.» (p. 68)Balsemão na entrevista presta a Pedro Vieira, quando lhe é questionado «o que pretenderia Marcelo ao chamar os "liberais"? responde: «Numa primeira fase, na fase da Primavera, era encontrar gente não comprometida e até com algumas provas, mesmo limitadas, como era o meu caso, de não estar com o regime de Salazar. Gente que não era da oposição clássica, mas com algum afastamento em relação, que depois podia apoiá-lo para fazer as mudanças. O problema era África. O prof. Marcelo Caetano, de início, quis caminhar para uma Federação, que depois evoluísse para uma espécie de Commonwealth. Numa das últimas conversas com ele, eu disse: "Bom, e a Federação e todo esse projecto?" E a resposta foi: "Aonde é que isso já vai!" Nunca me hei-de esquecer desta frase.» (p. 78)Pinto Balsemão foi convidado por Marcello para se candidatar à lista da União Nacional pelo distrito da Guarda e reconhece a existência de uma amizade familiar com a família Caetano. (p. 78)No que diz respeito à Ala Liberal, escreve Marcello Caetano no seu livro Depoimento: «Assentei com o dr. Melo e Castro em tentar recrutar para as listas da União Nacional um núcleo forte de jovens da ala progressista moderada, garantindo-lhes liberdade de movimentos desde que aceitassem os princípios fundamentais comuns à lista em que haviam de ser propostos aos eleitores» (p. 71).Da Ala Liberal faziam parte: Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota, (estes três foram os fundadores do PPD), José Pedro Pinto Leite, Miller Guerra, Mota Amaral e Magalhães Mota.Duas outras e novas razões que me deixam satisfeito pela compra desta revista/lixo são: que os escrevinhadores de serviço, quais canetas de ouro, poderão vir a ser um dia Prémio Pullitzer, Prémio Nobel, Prémio Fernando Pessoa e que esta revista – sucessora da revista História (?) – demonstra às claras que Marcello Caetano foi um TRAIDOR ao Estado Novo e que passa a fazer parte - ao lado dos livros de Manuel Maria Múrias "De Salazar a Costa Gomes", Nova Arrancada, Lisboa, 1998; de António José de Brito, "Sobre o Momento Político Actual", ed, do Autor, Porto, 1969; e de Eduardo Freitas da Costa "Acuso Marcello Caetano", Editorial Liber, Lisboa, 1975; - do libelo acusatório de traição aos princípios de Salazar e do Estado Novo confirmando as célebres e premonitórias de Alfredo Pimenta no seu opúsculo "Contra a Democracia", pp. 6/7, Amigos do Agora!, 1949.:«... O meu conceito de Democracia e a minha repugnância por este sistema absurdo de orgânica política, obrigam-me, por coerência mental e compreensão histórica, a desejar que o meu País não se deixe seduzir pelas fantasmagorias transparentemente interesseiras dos srs. Jorge Botelho Moniz e Marcelo Caetano, arautos da renovação democrática e da reconciliação na Democracia, e tenha sempre presentes os conceitos fundamentais expostos pelo sr. Presidente do Conselho no seu já famoso discurso de 7 de Janeiro deste ano, no Palácio da Bolsa, no Porto.»Como o Alfredo Pimenta os topava e já em 1949!!!


Revista Visão História: A queda de Salazar e a "primavera marcelista" via nonas by nonas on 7/20/08 Fui um dos compradores do segundo número da Visão História por duas razões: uma pelo portfolio de Eduardo Gageiro, a outra pelas declarações de Mário Soares, de Pinto Balsemão e de Freitas do Amaral.Pela primeira vez, após sempre o ter negado, Mário Soares conta a forma como foi convidado a fazer parte da lista da Acção Nacional Popular: «Antes de as "eleições" serem marcadas, fui apresentado ao novo secretário-geral da União Nacional (esse e os outros nomes só mudaram depois das eleições), Melo e Castro, pelo antigo director de O Tempo e o Modo, o meu amigo António Alçada Baptista, que, quando eu já estava no exílio, aceitou ser o autor de um livro de "entrevistas" com Marcelo Caetano, ou seja, como lhe disse em Paris, "o António Ferro de Caetano", com menos fôlego e originalidade. Melo e Castro convidou-me para jantar, no Grémio Literário. Com algum cuidado e vários rodeios chegou ao ponto que lhe interessava: convidou-me para figurar, em destaque, na lista concorrente (e obviamente ganhadora) da Acção Nacional Popular.» (p. 88)Mário Soares refere-se às eleições de 1969, as primeiras sob o mandato de Marcello Caetano.E mais conta: «Realmente, no primeiro Conselho de Ministros, Marcelo Caetano fez sair um breve comunicado, fixando num ano a minha pena de deportação, contando o tempo de prisão antes sofrido, em Caxias. O que significava que estaria de volta a Lisboa em Novembro, dias antes de meu pai completar 90 anos.Foi a primeira medida concreta da chamada "Primavera marcelista".Sobre o bispo vermelho do Porto: «Entretanto, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, continuava proibido de entrar em Portugal, no seu exílio no Convento de Tormes, em Espanha, perto de Salamanca. Decidi ir, com a minha filha a conduzir e o meu amigo Raul Rego, então director do República, e sua esposa, visitá-lo, para lhe expressar a nossa solidariedade.» (p. 87).Por seu lado, o bispo vermelho do Porto endereçou a Marcello Caetano, datada de 29 de Maio de 1969, uma carta que teve resposta de Marcello a 12 de Junho, na qual diz: «Pode vir para Fátima, como deseja, quando quiser. Peço-lhe porém que não se dirija ao Porto enquanto a Santa Sé não resolver a situação do administrador apostólico» (p.82) e que gostaria que o seu regresso «tivesse lugar após o acordo do Governo com a Santa Sé» (p.83). O testemunho de Freitas do Amaral é interessante e relevante quando atesta como êxitos: «reduziu drasticamente (numa primeira fase) os cortes da Censura; permitiu o regresso do bispo do Porto, exilado em Roma, e do dr. Mário Soares, com residência fixa em S. Tomé» (p. 67) e finaliza o texto desta forma: «Assim, a Revolução não se fez contra Marcello Caetano – mas contra as políticas de Salazar, e apesar das correcções tentadas por Marcello Caetano (por serem insuficientes, não por serem erradas). Por isso considero que este não merecia ter acabado como acabou.» (p. 68)Balsemão na entrevista presta a Pedro Vieira, quando lhe é questionado «o que pretenderia Marcelo ao chamar os "liberais"? responde: «Numa primeira fase, na fase da Primavera, era encontrar gente não comprometida e até com algumas provas, mesmo limitadas, como era o meu caso, de não estar com o regime de Salazar. Gente que não era da oposição clássica, mas com algum afastamento em relação, que depois podia apoiá-lo para fazer as mudanças. O problema era África. O prof. Marcelo Caetano, de início, quis caminhar para uma Federação, que depois evoluísse para uma espécie de Commonwealth. Numa das últimas conversas com ele, eu disse: "Bom, e a Federação e todo esse projecto?" E a resposta foi: "Aonde é que isso já vai!" Nunca me hei-de esquecer desta frase.» (p. 78)Pinto Balsemão foi convidado por Marcello para se candidatar à lista da União Nacional pelo distrito da Guarda e reconhece a existência de uma amizade familiar com a família Caetano. (p. 78)No que diz respeito à Ala Liberal, escreve Marcello Caetano no seu livro Depoimento: «Assentei com o dr. Melo e Castro em tentar recrutar para as listas da União Nacional um núcleo forte de jovens da ala progressista moderada, garantindo-lhes liberdade de movimentos desde que aceitassem os princípios fundamentais comuns à lista em que haviam de ser propostos aos eleitores» (p. 71).Da Ala Liberal faziam parte: Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota, (estes três foram os fundadores do PPD), José Pedro Pinto Leite, Miller Guerra, Mota Amaral e Magalhães Mota.Duas outras e novas razões que me deixam satisfeito pela compra desta revista/lixo são: que os escrevinhadores de serviço, quais canetas de ouro, poderão vir a ser um dia Prémio Pullitzer, Prémio Nobel, Prémio Fernando Pessoa e que esta revista – sucessora da revista História (?) – demonstra às claras que Marcello Caetano foi um TRAIDOR ao Estado Novo e que passa a fazer parte - ao lado dos livros de Manuel Maria Múrias "De Salazar a Costa Gomes", Nova Arrancada, Lisboa, 1998; de António José de Brito, "Sobre o Momento Político Actual", ed, do Autor, Porto, 1969; e de Eduardo Freitas da Costa "Acuso Marcello Caetano", Editorial Liber, Lisboa, 1975; - do libelo acusatório de traição aos princípios de Salazar e do Estado Novo confirmando as célebres e premonitórias de Alfredo Pimenta no seu opúsculo "Contra a Democracia", pp. 6/7, Amigos do Agora!, 1949.:«... O meu conceito de Democracia e a minha repugnância por este sistema absurdo de orgânica política, obrigam-me, por coerência mental e compreensão histórica, a desejar que o meu País não se deixe seduzir pelas fantasmagorias transparentemente interesseiras dos srs. Jorge Botelho Moniz e Marcelo Caetano, arautos da renovação democrática e da reconciliação na Democracia, e tenha sempre presentes os conceitos fundamentais expostos pelo sr. Presidente do Conselho no seu já famoso discurso de 7 de Janeiro deste ano, no Palácio da Bolsa, no Porto.»Como o Alfredo Pimenta os topava e já em 1949!!!

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