Dias com árvores: Sagrada família

22-01-2011
marcar artigo


Doryanthes palmeri A. W. Hill A Sagrada Família comia connosco cinco dias por mês. Ficava, sem ruído, sobre a mesa da sala. Brilhava no escuro a chama diminuta de uma lamparina. Disputávamos a honra da moeda na ranhura sob os pés de S. José. Espécie de slot-machine cujo prémio era o regresso do pai, a bofetada, o princípio da autoridade. Anos depois, cabia ao filho mais velho o cuidado de transportar a imagem a casa do vizinho. Trezentos metros a fugir das pedras e das bocas infiéis. Até ao dia em que o pai ficou de vez, para dar por terminada a brincadeira. Agora, todas as frases eram rematadas por pontos de exclamação, as portas começavam a bater mais depressa. Nenhum dos filhos levantava a cabeça quando a mãe nos perguntava, ainda: quem quer apostar na Sagrada Família? José Miguel Silva, Vista para um pátio (Relógio D' Água, 2003)


Doryanthes palmeri A. W. Hill A Sagrada Família comia connosco cinco dias por mês. Ficava, sem ruído, sobre a mesa da sala. Brilhava no escuro a chama diminuta de uma lamparina. Disputávamos a honra da moeda na ranhura sob os pés de S. José. Espécie de slot-machine cujo prémio era o regresso do pai, a bofetada, o princípio da autoridade. Anos depois, cabia ao filho mais velho o cuidado de transportar a imagem a casa do vizinho. Trezentos metros a fugir das pedras e das bocas infiéis. Até ao dia em que o pai ficou de vez, para dar por terminada a brincadeira. Agora, todas as frases eram rematadas por pontos de exclamação, as portas começavam a bater mais depressa. Nenhum dos filhos levantava a cabeça quando a mãe nos perguntava, ainda: quem quer apostar na Sagrada Família? José Miguel Silva, Vista para um pátio (Relógio D' Água, 2003)

marcar artigo