Dias com árvores: Árvores com histórias: a "árvore grande" de Alijó

19-12-2009
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.«A "Árvore Grande" é um pedaço da alma de Alijó»Por Nuno Amaral (textos) e Nelson Garrido (fotos) no Público de hoje«O orgulho no plátano, mandado plantar há 150 anos, está espelhado no mais ínfimo pormenor da comunidade. No Dia Mundial da Floresta, câmara e freguesia convidam as crianças do concelho a plantarem 150 plátanos.Sentada na borda da lareira, Maria Laura Rodrigues vai desfiando as memórias da "Árvore Grande". Conta a "balbúrdia" que Alijó viveu há pouco mais de 50 anos, quando o boato que corria anunciava o fim do plátano. "Dizam que o iam cortar para fazer socos", solta, por entre sorrisos. O povo não gostou. E o rumor deu mesmo azo a uma peça de teatro, como que para afastar os demónios. Maria Laura teria uns 16 ou 17 anos. A mãe, enfatiza, ainda serviu na casa do visconde de Alijó, o homem que mandou um servente, António Pela-Gatos, deitar a semente à terra. Agora, aos 70 anos, recorda os tempos em que as "notícias" circulavam debaixo dos ramos do plátano. "Aquilo sempre foi um ponto de encontro, era o centro da vila", afina.Na véspera do Dia Mundial da Árvore, Graciano Ferreira olha para a escultura que a câmara e a junta de freguesia hão-de descerrar hoje. A lápide ainda está tapada. Há um novo banco de madeira debaixo das ramadas. Um feixe de luz há-de iluminar-lhe o tronco. "Então não namorei? Eu e todos. Houve aqui muitas declarações de amor", esclarece. Hoje, aos 65 anos, é menos "maroto". "Ah, mas naquela altura, era, lá isso era."O simbolismo do ancestral plátano está em cada pedaço de Alijó, no coração do Alto Douro vinhateiro. Todos lhe conhecem a história. Todos lá viveram um pedaço da infância. À entrada da vila, pelo sul, quem vem de Pinhão, está a Escola de Condução Plátano. Na avenida central, o Café Plátano. A árvore ilustra porta-chaves, faz parte dos panfletos de promoção turística. Criou uma rota própria. A "Árvore Grande", no léxico local, é mesmo o símbolo da Junta da Freguesia de Alijó. "É um pedaço da alma desta vila", classifica o autarca Alípio Alves. Tanto assim é que a comemoração dos 150 anos do plátano era um dos pontos do manifesto eleitoral do socialista. "E, se o tempo ajudar, amanhã [hoje] é cumprido", regozija-se.Festa para todos ao final da tardePara que a homenagem também singre na terra, os alunos das escolas do concelho plantam 150 plátanos a poucos quilómetros do centro da vila. "Ao final da tarde, teremos um momento de poesia e um lanche aberto a toda a população, porque a "Árvore Grande" é de todos", sublinha o presidente de câmara, Artur Cascarejo.Foi junto ao local onde havia de nascer a árvore que a mãe da Maria de Laura conheceu o visconde de Alijó. Uns anos depois, já a mãe de Laura trabalhava na casa senhorial, o visconde mandou plantar a árvore. Porquê, nunca se soube. Mais tarde, o local onde o plátano já ganhava corpo, e um simbolismo próprio, deixou de integrar a quinta dos "senhores". A passagem era estreita e o filho do visconde deu mais um pedaço de terra.Hoje, ao final da tarde, Maria Laura há-de sentar-se nas imediações da árvore a ouvir poesia e a saborear uma vitela. "Já há 50 anos lá estive. Foi quando puseram a placa dos cem anos." A "Árvore Grande" cresceu e resistiu. A placa ainda hoje avisa o viajante. Ou "viandante", como escreveu o antigo inspector escolar Mira Saraiva. Na súplica que lavrou, o plátano faz um pedido aos visitantes: "Tu, que passas, olha-me bem e não me faças mal". »Ler a propósito: Plátano de Alijó (17.10.05) ; PLÁTANO COMPLETA 150 ANOS


.«A "Árvore Grande" é um pedaço da alma de Alijó»Por Nuno Amaral (textos) e Nelson Garrido (fotos) no Público de hoje«O orgulho no plátano, mandado plantar há 150 anos, está espelhado no mais ínfimo pormenor da comunidade. No Dia Mundial da Floresta, câmara e freguesia convidam as crianças do concelho a plantarem 150 plátanos.Sentada na borda da lareira, Maria Laura Rodrigues vai desfiando as memórias da "Árvore Grande". Conta a "balbúrdia" que Alijó viveu há pouco mais de 50 anos, quando o boato que corria anunciava o fim do plátano. "Dizam que o iam cortar para fazer socos", solta, por entre sorrisos. O povo não gostou. E o rumor deu mesmo azo a uma peça de teatro, como que para afastar os demónios. Maria Laura teria uns 16 ou 17 anos. A mãe, enfatiza, ainda serviu na casa do visconde de Alijó, o homem que mandou um servente, António Pela-Gatos, deitar a semente à terra. Agora, aos 70 anos, recorda os tempos em que as "notícias" circulavam debaixo dos ramos do plátano. "Aquilo sempre foi um ponto de encontro, era o centro da vila", afina.Na véspera do Dia Mundial da Árvore, Graciano Ferreira olha para a escultura que a câmara e a junta de freguesia hão-de descerrar hoje. A lápide ainda está tapada. Há um novo banco de madeira debaixo das ramadas. Um feixe de luz há-de iluminar-lhe o tronco. "Então não namorei? Eu e todos. Houve aqui muitas declarações de amor", esclarece. Hoje, aos 65 anos, é menos "maroto". "Ah, mas naquela altura, era, lá isso era."O simbolismo do ancestral plátano está em cada pedaço de Alijó, no coração do Alto Douro vinhateiro. Todos lhe conhecem a história. Todos lá viveram um pedaço da infância. À entrada da vila, pelo sul, quem vem de Pinhão, está a Escola de Condução Plátano. Na avenida central, o Café Plátano. A árvore ilustra porta-chaves, faz parte dos panfletos de promoção turística. Criou uma rota própria. A "Árvore Grande", no léxico local, é mesmo o símbolo da Junta da Freguesia de Alijó. "É um pedaço da alma desta vila", classifica o autarca Alípio Alves. Tanto assim é que a comemoração dos 150 anos do plátano era um dos pontos do manifesto eleitoral do socialista. "E, se o tempo ajudar, amanhã [hoje] é cumprido", regozija-se.Festa para todos ao final da tardePara que a homenagem também singre na terra, os alunos das escolas do concelho plantam 150 plátanos a poucos quilómetros do centro da vila. "Ao final da tarde, teremos um momento de poesia e um lanche aberto a toda a população, porque a "Árvore Grande" é de todos", sublinha o presidente de câmara, Artur Cascarejo.Foi junto ao local onde havia de nascer a árvore que a mãe da Maria de Laura conheceu o visconde de Alijó. Uns anos depois, já a mãe de Laura trabalhava na casa senhorial, o visconde mandou plantar a árvore. Porquê, nunca se soube. Mais tarde, o local onde o plátano já ganhava corpo, e um simbolismo próprio, deixou de integrar a quinta dos "senhores". A passagem era estreita e o filho do visconde deu mais um pedaço de terra.Hoje, ao final da tarde, Maria Laura há-de sentar-se nas imediações da árvore a ouvir poesia e a saborear uma vitela. "Já há 50 anos lá estive. Foi quando puseram a placa dos cem anos." A "Árvore Grande" cresceu e resistiu. A placa ainda hoje avisa o viajante. Ou "viandante", como escreveu o antigo inspector escolar Mira Saraiva. Na súplica que lavrou, o plátano faz um pedido aos visitantes: "Tu, que passas, olha-me bem e não me faças mal". »Ler a propósito: Plátano de Alijó (17.10.05) ; PLÁTANO COMPLETA 150 ANOS

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