Dias com árvores: Tília de Nuzedo

18-12-2009
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Foto: pva 0411 - NuzedoÉ em Nuzedo, aldeia de Vila Pouca de Aguiar situada a norte da sede do concelho, que fica este antigo apeadeiro da linha do Corgo. A linha ligava Régua a Chaves, mas desde 1990 que os comboios não vão além de Vila Real. O desmantelamento da rede ferroviária nacional, a partir da década de 1980, foi quase completo em Trás-os-Montes, com o encurtamento ou fecho da linha do Douro e de todos os seus ramais (linhas do Tâmega, Corgo, Tua e Sabor). Não teria sido impossível fazer circular, nas mesmas linhas, comboios modernos que assegurassem tempos de viagem razoáveis, mas o investimento público, com excepção das linhas suburbanas de Lisboa e Porto e do mirífico TGV, há muito que abandonou a opção ferroviária. Percorreu-se um caminho sem regresso: arrancaram-se carris, e os edifícios e as velhas máquinas foram deixados ao abandono; não houve sequer a lucidez de aproveitar turisticamente esse património.Agora é moda transformar em ciclovias as antigas linhas ferroviárias. Com isso tranquilizam-se algumas consciências: afinal, não há meio de transporte mais ecológico do que a bicicleta. Esquecem que a extinção da ferrovia (ou a recusa em modernizá-la) exacerbou o trânsito automóvel, e que a bicicleta só será considerada opção normal de transporte quando for possível usá-la sem perigo nas mesmas estradas (exceptuando auto-estradas e vias rápidas, naturalmente) por onde circulam os restantes veículos. A ciclovia nada tem a ver com a bicicleta como meio de transporte: é puro entretenimento (muito agradável, por sinal).Também a linha do Corgo entre Vila Real e Chaves há-de ser convertida em ciclovia de recreio: a ideia é levar a bicicleta amarrada ao tejadilho do automóvel, dar umas pedaladas para aquecer, e regressar a casa outra vez de automóvel. Este extracto de uma notícia de 2003 no JN sobre a projectada ciclovia não deixa dúvidas: «A ciclovia terá também uma particularidade: em alguns dos pontos poderão circular veículos de quatro rodas. (...) Nos espaços envolventes e edifícios das estações, (...) o projecto aponta para a instalação de pequenas pousadas, parques de campismo e estacionamento (...)»Bom, chega de carpir e falemos das árvores na foto: esta magnífica e redondíssima tília, que faz do apeadeiro uma casa de bonecas, pode observar-se da EN 2, entre Vila Pouca de Aguiar e Pedras Salgadas; à esquerda na foto, junto à estrada, distinguem-se alguns altivos ciprestes (Cupressus spp.); e, à direita, uma cerejeira desgrenhada contrapõe a sua copa matizada de laranja ao amarelo uniforme da tília. É uma paisagem no auge da transfiguração: o Outono puxou da paleta e tingiu-a com a glória das suas cores efémeras.


Foto: pva 0411 - NuzedoÉ em Nuzedo, aldeia de Vila Pouca de Aguiar situada a norte da sede do concelho, que fica este antigo apeadeiro da linha do Corgo. A linha ligava Régua a Chaves, mas desde 1990 que os comboios não vão além de Vila Real. O desmantelamento da rede ferroviária nacional, a partir da década de 1980, foi quase completo em Trás-os-Montes, com o encurtamento ou fecho da linha do Douro e de todos os seus ramais (linhas do Tâmega, Corgo, Tua e Sabor). Não teria sido impossível fazer circular, nas mesmas linhas, comboios modernos que assegurassem tempos de viagem razoáveis, mas o investimento público, com excepção das linhas suburbanas de Lisboa e Porto e do mirífico TGV, há muito que abandonou a opção ferroviária. Percorreu-se um caminho sem regresso: arrancaram-se carris, e os edifícios e as velhas máquinas foram deixados ao abandono; não houve sequer a lucidez de aproveitar turisticamente esse património.Agora é moda transformar em ciclovias as antigas linhas ferroviárias. Com isso tranquilizam-se algumas consciências: afinal, não há meio de transporte mais ecológico do que a bicicleta. Esquecem que a extinção da ferrovia (ou a recusa em modernizá-la) exacerbou o trânsito automóvel, e que a bicicleta só será considerada opção normal de transporte quando for possível usá-la sem perigo nas mesmas estradas (exceptuando auto-estradas e vias rápidas, naturalmente) por onde circulam os restantes veículos. A ciclovia nada tem a ver com a bicicleta como meio de transporte: é puro entretenimento (muito agradável, por sinal).Também a linha do Corgo entre Vila Real e Chaves há-de ser convertida em ciclovia de recreio: a ideia é levar a bicicleta amarrada ao tejadilho do automóvel, dar umas pedaladas para aquecer, e regressar a casa outra vez de automóvel. Este extracto de uma notícia de 2003 no JN sobre a projectada ciclovia não deixa dúvidas: «A ciclovia terá também uma particularidade: em alguns dos pontos poderão circular veículos de quatro rodas. (...) Nos espaços envolventes e edifícios das estações, (...) o projecto aponta para a instalação de pequenas pousadas, parques de campismo e estacionamento (...)»Bom, chega de carpir e falemos das árvores na foto: esta magnífica e redondíssima tília, que faz do apeadeiro uma casa de bonecas, pode observar-se da EN 2, entre Vila Pouca de Aguiar e Pedras Salgadas; à esquerda na foto, junto à estrada, distinguem-se alguns altivos ciprestes (Cupressus spp.); e, à direita, uma cerejeira desgrenhada contrapõe a sua copa matizada de laranja ao amarelo uniforme da tília. É uma paisagem no auge da transfiguração: o Outono puxou da paleta e tingiu-a com a glória das suas cores efémeras.

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