Dias com árvores: Fritilária portuguesa

28-05-2010
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Fritillaria lusitanica Wikstr.As fritilárias têm sido motivo de discussão interessante entre taxinomistas que, enquanto tentam entender-se sobre o que é uma liliácea, se questionam se as espécies de Fritillaria europeias e asiáticas devem estar em género diferente do das americanas - e talvez em breve tenhamos de adoptar para estas a etiqueta Amblirion Raf.. Apesar das revisões recentes, que se baseiam em traços moleculares e não apenas na morfologia exterior, a família Liliaceae é ainda demasiado heterogénea. Porém, é possível destacar características comuns, algumas salutares como gostarem de um período de dormência (leia-se sesta prolongada enquanto o frio aperta) em que a herbácea vivaz descansa reduzida às componentes subterrâneas (bolbos, rizomas ou raízes tuberosas). Além disso, as flores são solitárias, ou dispostas em cachos pequenos, com 6 tépalas, 6 estames, 3 carpelos unidos e 1 estilete com 1 ou 3 estigmas.Em Portugal há cerca de 80 espécies nativas de liliáceas (algumas terão já mudado de família) como a Fritillaria lusitanica Wikstr. e a Tulipa sylvestris L., mas a maioria é do género Allium, predominância a que não é alheio o tipo de solo seco e arenoso com que nos vamos desertificando. Várias delas são de distribuição restrita no nosso país e podem mesmo estar em perigo de extinção, nomeadamente a Bellevalia hackelii Freyn (do Algarve), o Asphodelus bento-rainhae P. Silva (da serra da Gardunha), o Lilium martagon L. (da Mata da Margaraça), o Hyacinthoides vicentina (Hoffmanns. & Link) Rothm. (do interior da região do Sado) e o Allium pruinatum Link ex Sprengel (do centro e sul).A Fritillaria lusitanica, da Península Ibérica, habita matos e bosques, preferindo zonas altas com invernos secos e primaveras húmidas, solo rochoso e bem drenado, muito sol e a vizinhança de carvalhos. Nada caprichosa, portanto. As folhas são verde-claro, longas e lanceoladas, e a planta pode atingir os 50cm de altura. As flores, do início da Primavera (o fotógrafo resmungou bastante com o vento), que se inclinam como se cabeceassem de sono, nascem no topo de um talo delgado que os frutos empertigados ocupam mais tarde. Medem cerca de 3cm de comprimento, contêm nectários pequeninos brilhantes na base das tépalas, e exibem grande variedade de cores e enfeites em resposta aos distintos polinizadores (abelhas, moscardos, moscas ou pássaros): as tépalas são em geral castanhas/avermelhadas com franjas alternadas de cor amarela, mas podem ataviar-se com uns quadradinhos que lembram um tabuleiro de xadrez (daí nome latino fritillus). Os bolbos distinguem-se de outras liliáceas por se cobrirem de bolbinhos menores, uns grãos-de-arroz importantes em medicina chinesa (o famoso bei mu).


Fritillaria lusitanica Wikstr.As fritilárias têm sido motivo de discussão interessante entre taxinomistas que, enquanto tentam entender-se sobre o que é uma liliácea, se questionam se as espécies de Fritillaria europeias e asiáticas devem estar em género diferente do das americanas - e talvez em breve tenhamos de adoptar para estas a etiqueta Amblirion Raf.. Apesar das revisões recentes, que se baseiam em traços moleculares e não apenas na morfologia exterior, a família Liliaceae é ainda demasiado heterogénea. Porém, é possível destacar características comuns, algumas salutares como gostarem de um período de dormência (leia-se sesta prolongada enquanto o frio aperta) em que a herbácea vivaz descansa reduzida às componentes subterrâneas (bolbos, rizomas ou raízes tuberosas). Além disso, as flores são solitárias, ou dispostas em cachos pequenos, com 6 tépalas, 6 estames, 3 carpelos unidos e 1 estilete com 1 ou 3 estigmas.Em Portugal há cerca de 80 espécies nativas de liliáceas (algumas terão já mudado de família) como a Fritillaria lusitanica Wikstr. e a Tulipa sylvestris L., mas a maioria é do género Allium, predominância a que não é alheio o tipo de solo seco e arenoso com que nos vamos desertificando. Várias delas são de distribuição restrita no nosso país e podem mesmo estar em perigo de extinção, nomeadamente a Bellevalia hackelii Freyn (do Algarve), o Asphodelus bento-rainhae P. Silva (da serra da Gardunha), o Lilium martagon L. (da Mata da Margaraça), o Hyacinthoides vicentina (Hoffmanns. & Link) Rothm. (do interior da região do Sado) e o Allium pruinatum Link ex Sprengel (do centro e sul).A Fritillaria lusitanica, da Península Ibérica, habita matos e bosques, preferindo zonas altas com invernos secos e primaveras húmidas, solo rochoso e bem drenado, muito sol e a vizinhança de carvalhos. Nada caprichosa, portanto. As folhas são verde-claro, longas e lanceoladas, e a planta pode atingir os 50cm de altura. As flores, do início da Primavera (o fotógrafo resmungou bastante com o vento), que se inclinam como se cabeceassem de sono, nascem no topo de um talo delgado que os frutos empertigados ocupam mais tarde. Medem cerca de 3cm de comprimento, contêm nectários pequeninos brilhantes na base das tépalas, e exibem grande variedade de cores e enfeites em resposta aos distintos polinizadores (abelhas, moscardos, moscas ou pássaros): as tépalas são em geral castanhas/avermelhadas com franjas alternadas de cor amarela, mas podem ataviar-se com uns quadradinhos que lembram um tabuleiro de xadrez (daí nome latino fritillus). Os bolbos distinguem-se de outras liliáceas por se cobrirem de bolbinhos menores, uns grãos-de-arroz importantes em medicina chinesa (o famoso bei mu).

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