Dias com árvores: Palmeira furtiva

18-12-2009
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Foto: pva 0501 - Phoenix canariensis na Rua da Madeira (Porto)A Rua da Madeira, que vai da estação de São Bento à Praça da Batalha, é um lugar quase secreto no Porto: evitada pelos transeuntes usuais, corresponde, numa cota inferior, ao logradouro da Rua 31 de Janeiro; e, como as traseiras não se mostram às visitas, foi-se nela cristalizando, muito anos antes de se falar da crise da Baixa, um ar de abandono e marginalidade. A ironia é que agora a degradação alastrou à sala de visitas: na Rua 31 de Janeiro fecharam a livraria Bertrand e a discoteca Santo António, multiplicaram-se bazares de quinquilharias, e várias montras foram entaipadas. Visíveis intermitentemente entre os automóveis estacionados no passeio, uns inexplicáveis carris, onde nunca passaram nem hão-de passar eléctricos, descem da Batalha para falecer subitamente ao fundo da rua.Subindo a Rua da Madeira desde S. Bento não a desvendamos por completo, pois o segredo que ela é oculta outros segredos: do lado esquerdo vigiam-nos prédios escalavrados em equilíbrio duvidoso; do direito acompanha-nos o alto paredão sobre o terminal ferroviário até que, acima da bocarra do túnel, outros prédios se interpõem na nossa vista. Que esconderão estes prédios? Que haverá nas traseiras das traseiras? Esta coisa precária e ternurenta: num exíguo torrão cravado no granito que forra o túnel, há um quintal com couves, uma palmeira e meia dúzia de arbustos. Ficar aqui, neste posto de vigia debruçado vertiginosamente sobre a estação e coroado por uma palmeira intemporal, a ver os comboios chegar e partir: que melhor imagem de uma nostalgia sem remédio?


Foto: pva 0501 - Phoenix canariensis na Rua da Madeira (Porto)A Rua da Madeira, que vai da estação de São Bento à Praça da Batalha, é um lugar quase secreto no Porto: evitada pelos transeuntes usuais, corresponde, numa cota inferior, ao logradouro da Rua 31 de Janeiro; e, como as traseiras não se mostram às visitas, foi-se nela cristalizando, muito anos antes de se falar da crise da Baixa, um ar de abandono e marginalidade. A ironia é que agora a degradação alastrou à sala de visitas: na Rua 31 de Janeiro fecharam a livraria Bertrand e a discoteca Santo António, multiplicaram-se bazares de quinquilharias, e várias montras foram entaipadas. Visíveis intermitentemente entre os automóveis estacionados no passeio, uns inexplicáveis carris, onde nunca passaram nem hão-de passar eléctricos, descem da Batalha para falecer subitamente ao fundo da rua.Subindo a Rua da Madeira desde S. Bento não a desvendamos por completo, pois o segredo que ela é oculta outros segredos: do lado esquerdo vigiam-nos prédios escalavrados em equilíbrio duvidoso; do direito acompanha-nos o alto paredão sobre o terminal ferroviário até que, acima da bocarra do túnel, outros prédios se interpõem na nossa vista. Que esconderão estes prédios? Que haverá nas traseiras das traseiras? Esta coisa precária e ternurenta: num exíguo torrão cravado no granito que forra o túnel, há um quintal com couves, uma palmeira e meia dúzia de arbustos. Ficar aqui, neste posto de vigia debruçado vertiginosamente sobre a estação e coroado por uma palmeira intemporal, a ver os comboios chegar e partir: que melhor imagem de uma nostalgia sem remédio?

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