Dias com árvores: Orquídea greco-lusa

28-05-2010
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Orchis italica PoiretLisboa, 18 de Novembro de 1969Caríssimo JorgeDo coração agradecemos o teu livro. Que apesar de todas as suas amarguras me arrancou dum dia péssimo.Paradoxalmente, o poema de que mais gosto é “Deixa os gregos em paz”, embora realmente eu creia que teremos de recomeçar tudo a partir dos gregos, isto é, a partir da fidelidade ao terrestre. Creio que o grande mal português será que sempre deixamos os gregos em paz. Por isso somos um país que não se reconhece. Um país que julga que a austera, apagada e vil tristeza é a condição do homem. Fomos um país de grandes navegadores - mas nunca tivemos em frente do mundo aquele sorriso de espanto que tinham as estátuas dos navegadores jónicos. Se você fosse à Grécia ficaria espantado de ver que a Grécia é muito mais grega do que tudo o que imaginamos – é muito mais grega do que o filme do Zorba. E quer tendo Homero, quer tendo a terrível Guerra do Peloponeso, quer tendo a Retirada dos Dez Mil, vemos que de grego foi ter estado mais no mundo em que estamos, e que os gregos eram gregos com uma veemência anterior à decadência da vida.Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, Correspondência 1959-1978 (Guerra e Paz, 2006)


Orchis italica PoiretLisboa, 18 de Novembro de 1969Caríssimo JorgeDo coração agradecemos o teu livro. Que apesar de todas as suas amarguras me arrancou dum dia péssimo.Paradoxalmente, o poema de que mais gosto é “Deixa os gregos em paz”, embora realmente eu creia que teremos de recomeçar tudo a partir dos gregos, isto é, a partir da fidelidade ao terrestre. Creio que o grande mal português será que sempre deixamos os gregos em paz. Por isso somos um país que não se reconhece. Um país que julga que a austera, apagada e vil tristeza é a condição do homem. Fomos um país de grandes navegadores - mas nunca tivemos em frente do mundo aquele sorriso de espanto que tinham as estátuas dos navegadores jónicos. Se você fosse à Grécia ficaria espantado de ver que a Grécia é muito mais grega do que tudo o que imaginamos – é muito mais grega do que o filme do Zorba. E quer tendo Homero, quer tendo a terrível Guerra do Peloponeso, quer tendo a Retirada dos Dez Mil, vemos que de grego foi ter estado mais no mundo em que estamos, e que os gregos eram gregos com uma veemência anterior à decadência da vida.Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, Correspondência 1959-1978 (Guerra e Paz, 2006)

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