Dias com árvores: Cem anos de perdão

18-12-2009
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Lembram-se da anacardiácea do Horto das Virtudes, aquela a que José Marques Loureiro (jardineiro e horticultor do século XIX que muito admiramos) dedica uma crónica e identifica como sendo uma Pistacia atlantica? Temos andado desassossegados com esta árvore. Por duas razões:1) A bibliografia que conhecemos é unânime em afirmar que a Pistacia atlantica é uma espécie de folhagem caduca. Contudo, esta árvore das Virtudes só perde folhas, e poucas, com a ventania forte. E ainda que, longe do lugar de origem, uma planta possa ostentar fomes desconhecidas, não é de esperar que mude tão radicalmente de hábitos que se transforme em perenifólia.2) A Pistacia atlantica é uma espécie dióica, e já vos demos conta da nossa estranheza ao verificar que o exemplar das Virtudes frutifica anualmente. Pode ser que, desafogada de afazeres, esta árvore se entretenha a criar frutos estéreis, mas é mais plausível que este seja outro traço a comprometer a identificação proposta por Marques Loureiro.Por isso, a nossa visita ontem ao Jardim Botânico Tropical em Lisboa foi especialmente oportuna. É que há lá vários exemplares de uma outra anacardiácea, a Schinus terebinthifolius (pimenteira-do-Brasil, ou aroeira-vermelha), cuja folhagem, inflorescências e frutos têm nítida parecença com os da Pistacia atlantica mas que é de folha perene. Além disso, embora seja espécie dióica, há registo abundante de espécimes monóicos ou com flores hermafroditas (uma vantagem na competição com outras espécies que a torna, em alguns habitats, uma invasora preocupante).Em resumo: na nossa opinião revista e melhorada, a árvore do Jardim das Virtudes é um exemplar de Schinus terebinthifolius, e cremos que este engano com mais de cem anos finalmente se desfez.


Lembram-se da anacardiácea do Horto das Virtudes, aquela a que José Marques Loureiro (jardineiro e horticultor do século XIX que muito admiramos) dedica uma crónica e identifica como sendo uma Pistacia atlantica? Temos andado desassossegados com esta árvore. Por duas razões:1) A bibliografia que conhecemos é unânime em afirmar que a Pistacia atlantica é uma espécie de folhagem caduca. Contudo, esta árvore das Virtudes só perde folhas, e poucas, com a ventania forte. E ainda que, longe do lugar de origem, uma planta possa ostentar fomes desconhecidas, não é de esperar que mude tão radicalmente de hábitos que se transforme em perenifólia.2) A Pistacia atlantica é uma espécie dióica, e já vos demos conta da nossa estranheza ao verificar que o exemplar das Virtudes frutifica anualmente. Pode ser que, desafogada de afazeres, esta árvore se entretenha a criar frutos estéreis, mas é mais plausível que este seja outro traço a comprometer a identificação proposta por Marques Loureiro.Por isso, a nossa visita ontem ao Jardim Botânico Tropical em Lisboa foi especialmente oportuna. É que há lá vários exemplares de uma outra anacardiácea, a Schinus terebinthifolius (pimenteira-do-Brasil, ou aroeira-vermelha), cuja folhagem, inflorescências e frutos têm nítida parecença com os da Pistacia atlantica mas que é de folha perene. Além disso, embora seja espécie dióica, há registo abundante de espécimes monóicos ou com flores hermafroditas (uma vantagem na competição com outras espécies que a torna, em alguns habitats, uma invasora preocupante).Em resumo: na nossa opinião revista e melhorada, a árvore do Jardim das Virtudes é um exemplar de Schinus terebinthifolius, e cremos que este engano com mais de cem anos finalmente se desfez.

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