Dias com árvores: Narciso à beira-mar

19-12-2009
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Narciso-das-areias (Pancratium maritimum) - Parque das Dunas da AgudaÉ doce morrer no mar,Nas ondas verdes do mar....................Dorival CaymmiAqui na orla da praia, mudo e contente do mar,Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.........................................................Fernando PessoaEste narciso, que completa todo o seu curto ciclo de vida à beira-mar, nunca perde, nas flores que são o seu rosto, a brancura sem mácula das heroínas dos romances vitorianos, que viviam fechadas em casa e não punham pé na praia sem a protecção do guarda-sol e de várias camadas de saias. Murcham-lhe as flores e tomba-lhe a haste, mas nunca um vermelhão ou inopinado bronze lhe desmancham a alvura da tez. Tem assomos de amarelo nos estames, mas são como toques de um pó-de-arroz matizado, que mais realçam, pelo delicado contraste, a palidez do conjunto. Conclusão? Os acasos da evolução condenaram o nosso narciso a uma forma de vida que violenta a sua índole. É com horror que vê chegar hordas de banhistas para torrarem ao sol. O que lhe vale, no Parque das Dunas da Aguda, é a cerca que delimita claramente a sua área exclusiva.


Narciso-das-areias (Pancratium maritimum) - Parque das Dunas da AgudaÉ doce morrer no mar,Nas ondas verdes do mar....................Dorival CaymmiAqui na orla da praia, mudo e contente do mar,Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.........................................................Fernando PessoaEste narciso, que completa todo o seu curto ciclo de vida à beira-mar, nunca perde, nas flores que são o seu rosto, a brancura sem mácula das heroínas dos romances vitorianos, que viviam fechadas em casa e não punham pé na praia sem a protecção do guarda-sol e de várias camadas de saias. Murcham-lhe as flores e tomba-lhe a haste, mas nunca um vermelhão ou inopinado bronze lhe desmancham a alvura da tez. Tem assomos de amarelo nos estames, mas são como toques de um pó-de-arroz matizado, que mais realçam, pelo delicado contraste, a palidez do conjunto. Conclusão? Os acasos da evolução condenaram o nosso narciso a uma forma de vida que violenta a sua índole. É com horror que vê chegar hordas de banhistas para torrarem ao sol. O que lhe vale, no Parque das Dunas da Aguda, é a cerca que delimita claramente a sua área exclusiva.

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