NÃO TENHAS MEDO DO AMOR... Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirarno seu seio os nomes das coisas que ali estão acrescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiroe as campainhas azuis; a menta perfumada paraas infusões do verão e a teia de raízes de umpequeno loureiro que se organiza como uma redede veias na confusão de um corpo. A vida nuncafoi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.Se bem que chova ainda, não te importes: pousa atua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamorda tempestade que faz ruir os muros: explode noteu coração um amor-perfeito, será doce o seupólen na corola de um beijo, não tenhas medo,hão-de pedir-to quando chegar a primavera.Maria do Rosário Pedreira NÃO TENHAS MEDO DA MORTE...Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando. Em qualquer língua se entende essa palavra.Sem qualquer língua.O sangue sabe-o.Uma inteligência esparsa aprendeesse convite inadiável.Búzios somos, moendo a vidainteira essa música incessante.Morte, morte.Levamos toda a vida morrendo em surdina.No trabalho, no amor, acordados, em sonho.A vida é a vigilância da morte,até que o seu fogo veemente nos consumasem a consumir.Cecília Meireles
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NÃO TENHAS MEDO DO AMOR... Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirarno seu seio os nomes das coisas que ali estão acrescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiroe as campainhas azuis; a menta perfumada paraas infusões do verão e a teia de raízes de umpequeno loureiro que se organiza como uma redede veias na confusão de um corpo. A vida nuncafoi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.Se bem que chova ainda, não te importes: pousa atua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamorda tempestade que faz ruir os muros: explode noteu coração um amor-perfeito, será doce o seupólen na corola de um beijo, não tenhas medo,hão-de pedir-to quando chegar a primavera.Maria do Rosário Pedreira NÃO TENHAS MEDO DA MORTE...Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando. Em qualquer língua se entende essa palavra.Sem qualquer língua.O sangue sabe-o.Uma inteligência esparsa aprendeesse convite inadiável.Búzios somos, moendo a vidainteira essa música incessante.Morte, morte.Levamos toda a vida morrendo em surdina.No trabalho, no amor, acordados, em sonho.A vida é a vigilância da morte,até que o seu fogo veemente nos consumasem a consumir.Cecília Meireles