As décimas populares que o Luís Serra publicou neste blog fizeram-me lembrar estas outras décimas, hoje já parte do imaginário poético e de revolta do Alentejo, da autoria de Francisco Domingos Horta (1938), residente nos Porteirinhos (Almodôvar), mas muito ligado, no dia a dia, a Castro Verde. Estas décimas foram feitas no tempo da AD (Aliança Democrática), já depois da morte de Sá Carneiro e eu gravei-as, na altura, para a Antena Um – onde passaram alguns excertos num programa do Ver, Ouvir e Contar (um programa de reportagem coordenado pelo Emídio Rangel) por volta de 1982/83. Hoje estas décimas integram a insubstituível colectânea, editada pela Câmara Municipal de Castro Verde, intitulada “No Paraíso Real – tradição, revolta e utopia no Sul de Portugal” (da responsabilidade de José Luís Jones, Paulo Lima e Paulo Barriga) e que reúne num CD músicas, poemas, textos, memórias sobre momentos marcantes no mapa da revolta no espaço alentejano. As décimas de Francisco Horta, sempre que ele as dizia em público, sobretudo em sessões de poesia popular, mesmo em sítios considerados “finos”, acentuavam a boa disposição e tinham o papel de crítica acerada aos poderes dominantes, fossem eles de índole nacional ou local.
Mote
Cagando pr’o PPD
Cagando pr’o CDS
Eu caguei pr’o PCP
E também caguei pr’o PS
I
Eu caguei pr’o Balsemão
Pr’o Freitas do Amaral
Eu caguei para o Cunhal
E o Bochechas fecha a mão
Vai o maior cagalhão
Que em toda a vida caguei
E também caguei pr’o rei
O senhor Ribeiro Teles
Cago p’ra todos eles
Cagando pr’o PPD
II
Eu caguei pr’o presidente
Caguei pr’as Forças Armadas
Eu faço as minhas cagadas
Cagando pr’a toda a gente
E quem não estiver contente
Ainda mais me enobrece
Porque eu nunca me esquece
Lá debaixo do sobreiro
Caguei pr’o senhor Saleiro
Cagando pr’o CDS
III
Eu caguei pr’o ministro
Cá da nossa agricultura
Cago sempre com fartura
Porque eu no cagar estou bem visto
E ainda correm o risco
D’eu cagar pra quem não sei
Cago pr’a quem fez a lei
Que me proibiu de cagar
Mandando o cinto apertar
Eu caguei pr’o PCP
IV
Caguei pr’a democracia
Caguei pr’o socialismo
Caguei para o comunismo
E caguei para a monarquia
E mais já cagar não podia
Mesmo que eu cagar quisesse
O muito cagar aquece
As borda dum cú bendito
Que cagou cozido e frito
E também caguei para o PS
Remate
Porque eu caguei a bem cagar
Como há muito não cagava
E não pude cagar pr’a mais
Porque a merda já não chegava
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Entidades
As décimas populares que o Luís Serra publicou neste blog fizeram-me lembrar estas outras décimas, hoje já parte do imaginário poético e de revolta do Alentejo, da autoria de Francisco Domingos Horta (1938), residente nos Porteirinhos (Almodôvar), mas muito ligado, no dia a dia, a Castro Verde. Estas décimas foram feitas no tempo da AD (Aliança Democrática), já depois da morte de Sá Carneiro e eu gravei-as, na altura, para a Antena Um – onde passaram alguns excertos num programa do Ver, Ouvir e Contar (um programa de reportagem coordenado pelo Emídio Rangel) por volta de 1982/83. Hoje estas décimas integram a insubstituível colectânea, editada pela Câmara Municipal de Castro Verde, intitulada “No Paraíso Real – tradição, revolta e utopia no Sul de Portugal” (da responsabilidade de José Luís Jones, Paulo Lima e Paulo Barriga) e que reúne num CD músicas, poemas, textos, memórias sobre momentos marcantes no mapa da revolta no espaço alentejano. As décimas de Francisco Horta, sempre que ele as dizia em público, sobretudo em sessões de poesia popular, mesmo em sítios considerados “finos”, acentuavam a boa disposição e tinham o papel de crítica acerada aos poderes dominantes, fossem eles de índole nacional ou local.
Mote
Cagando pr’o PPD
Cagando pr’o CDS
Eu caguei pr’o PCP
E também caguei pr’o PS
I
Eu caguei pr’o Balsemão
Pr’o Freitas do Amaral
Eu caguei para o Cunhal
E o Bochechas fecha a mão
Vai o maior cagalhão
Que em toda a vida caguei
E também caguei pr’o rei
O senhor Ribeiro Teles
Cago p’ra todos eles
Cagando pr’o PPD
II
Eu caguei pr’o presidente
Caguei pr’as Forças Armadas
Eu faço as minhas cagadas
Cagando pr’a toda a gente
E quem não estiver contente
Ainda mais me enobrece
Porque eu nunca me esquece
Lá debaixo do sobreiro
Caguei pr’o senhor Saleiro
Cagando pr’o CDS
III
Eu caguei pr’o ministro
Cá da nossa agricultura
Cago sempre com fartura
Porque eu no cagar estou bem visto
E ainda correm o risco
D’eu cagar pra quem não sei
Cago pr’a quem fez a lei
Que me proibiu de cagar
Mandando o cinto apertar
Eu caguei pr’o PCP
IV
Caguei pr’a democracia
Caguei pr’o socialismo
Caguei para o comunismo
E caguei para a monarquia
E mais já cagar não podia
Mesmo que eu cagar quisesse
O muito cagar aquece
As borda dum cú bendito
Que cagou cozido e frito
E também caguei para o PS
Remate
Porque eu caguei a bem cagar
Como há muito não cagava
E não pude cagar pr’a mais
Porque a merda já não chegava