Octávio V. Gonçalves: As tácticas do Senhor Reitor estariam condenadas a fracassar

21-05-2011
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O Reitor, do blogue Educação S.A., propõem dez tácticas de acção docente para estoirar com o modelo de avaliação do desempenho, sem provocar grande estardalhaço público, isto é, sem manifestações, moções, escusas, requerimentos e outras formas de resistência activa, deixando os rituais folclóricos da contestação aos sindicatos, mau grado estes estarem enterrados no lamaçal da avaliação do desempenho até "por cima dos cabelos" (neste particular, tenha que concordar que os grandes responsáveis pelas perturbações que se vivem nas escolas têm rosto e têm nome, mormente o trio Alçada, Nogueira e Dias da Silva).
Não vou escalpelizar cada uma das tácticas, até porque entroncam todas numa mesma estratégia de resistência passiva e falsamente colaborativa que se traduziria em simplificar ao máximos os procedimentos e atribuir, de forma generalizada, as classificações mais elevadas.
Assim, de improviso e como contributo para o debate, ocorrem-me as seguintes sete objecções:
- no limite, para que esta estratégia resultasse, tornava-se condição necessária, ainda que não suficiente, que todos os relatores, a maioria dos membros das CCAD e os avaliados estivessem concordantes e coordenados na concretização das tácticas, o que, salvo meia-dúzia de escolas, dificilmente aconteceria;
- mesmo que todos os intervenientes estivessem articulados, a estratégia estaria, nesta fase do processo, condenada ao fracasso pela circunstância de muitos professores, menos oportunistas, não terem solicitado aulas assistidas no acesso ao 7º escalão, os quais veriam as quotas ocupadas pelos "celentes" e "munta bons" que resultariam desta estratégia, relativamente aos que pediram a observação de aulas;
- a estratégia sai também arruinada se a maioria dos coordenadores que integram as CCAD (não esqueçamos a sua nomeação pelos directores e consequente cumplicidade com os mesmos) a não aceitarem ou boicotarem, o que acarretaria, porventura, uma injustiça maior, ou seja, a molhada de classificações mais elevadas seria desempatada e reagrupada na base de trivialidades e de aspectos irrelevantes;
- duvido que muitos professores, tendo em conta a sua ética profissional, se permitissem responder à falta de seriedade do modelo e dos processos de avaliação com uma estratégia que, quer queiramos, quer não, se traduziria em atitudes e em procedimentos de faz-de-conta e de juntar à natural fantochada ainda mais fandango;
- tendo em conta o limite previsivelmente antecipado desta legislatura, corria-se o risco de esta estratégia poupar Sócrates a qualquer mossa política, quando é por demais evidente que são as estratégias de rua e de suspensão efectiva que incomodam verdadeiramente Sócrates e este governo (atente-se na pronta ameaça medrosa que o ministério da Educação dirigiu aos directores);
- ainda na sequência da anterior objecção, convém não negligenciar a obsessão socrática pela exploração propagandística da domesticação docente, pelo que qualquer silenciamento da contestação autorizaria, de imediato, Sócrates a vangloriar-se de ter vergado os professores, impondo-lhes o seu "desígnio nacional" da avaliação (Sócrates está-se verdadeiramente nas tintas para a forma como os processos e as consequências estão a acontecer nas escolas, pois, o que conta é que pareça que esta avaliação está a ser implementada);
- deixei, propositadamente, para o fim, a objecção mais substantiva e mais grave, a qual se prende com o prejuízo que uma estratégia deste tipo acarretaria para as aprendizagens dos alunos, dado que, por maior simplificação que pudesse existir de fichas e de procedimentos, a circunstância de se incentivar a participação do maior número a pedir observação de aulas, acabaria, necessariamente, por roubar o tempo e a disposição imprescindíveis à preparação das aulas, ao acompanhamento e à avaliação dos alunos, o que, para muitos professores, seria absolutamente insuportável.
Aliás, sobre esta última objecção, nem sequer me atrevo a pensar que o Reitor, de tão convicto defensor da escola privada, quisesse, com a sua táctica, dar um contributo para a degradação progressiva da escola pública, por força da aplicação deste modelo de avaliação aberrante. Penso que o Reitor concordará comigo que a escola pública deve concorrer com a escola privada, na base de um ensino de qualidade e de exigência, que não condene à imobilidade social os mais desfavorecidos da sociedade, o que é incompatível com a ocupação dos professores numa farsa.


O Reitor, do blogue Educação S.A., propõem dez tácticas de acção docente para estoirar com o modelo de avaliação do desempenho, sem provocar grande estardalhaço público, isto é, sem manifestações, moções, escusas, requerimentos e outras formas de resistência activa, deixando os rituais folclóricos da contestação aos sindicatos, mau grado estes estarem enterrados no lamaçal da avaliação do desempenho até "por cima dos cabelos" (neste particular, tenha que concordar que os grandes responsáveis pelas perturbações que se vivem nas escolas têm rosto e têm nome, mormente o trio Alçada, Nogueira e Dias da Silva).
Não vou escalpelizar cada uma das tácticas, até porque entroncam todas numa mesma estratégia de resistência passiva e falsamente colaborativa que se traduziria em simplificar ao máximos os procedimentos e atribuir, de forma generalizada, as classificações mais elevadas.
Assim, de improviso e como contributo para o debate, ocorrem-me as seguintes sete objecções:
- no limite, para que esta estratégia resultasse, tornava-se condição necessária, ainda que não suficiente, que todos os relatores, a maioria dos membros das CCAD e os avaliados estivessem concordantes e coordenados na concretização das tácticas, o que, salvo meia-dúzia de escolas, dificilmente aconteceria;
- mesmo que todos os intervenientes estivessem articulados, a estratégia estaria, nesta fase do processo, condenada ao fracasso pela circunstância de muitos professores, menos oportunistas, não terem solicitado aulas assistidas no acesso ao 7º escalão, os quais veriam as quotas ocupadas pelos "celentes" e "munta bons" que resultariam desta estratégia, relativamente aos que pediram a observação de aulas;
- a estratégia sai também arruinada se a maioria dos coordenadores que integram as CCAD (não esqueçamos a sua nomeação pelos directores e consequente cumplicidade com os mesmos) a não aceitarem ou boicotarem, o que acarretaria, porventura, uma injustiça maior, ou seja, a molhada de classificações mais elevadas seria desempatada e reagrupada na base de trivialidades e de aspectos irrelevantes;
- duvido que muitos professores, tendo em conta a sua ética profissional, se permitissem responder à falta de seriedade do modelo e dos processos de avaliação com uma estratégia que, quer queiramos, quer não, se traduziria em atitudes e em procedimentos de faz-de-conta e de juntar à natural fantochada ainda mais fandango;
- tendo em conta o limite previsivelmente antecipado desta legislatura, corria-se o risco de esta estratégia poupar Sócrates a qualquer mossa política, quando é por demais evidente que são as estratégias de rua e de suspensão efectiva que incomodam verdadeiramente Sócrates e este governo (atente-se na pronta ameaça medrosa que o ministério da Educação dirigiu aos directores);
- ainda na sequência da anterior objecção, convém não negligenciar a obsessão socrática pela exploração propagandística da domesticação docente, pelo que qualquer silenciamento da contestação autorizaria, de imediato, Sócrates a vangloriar-se de ter vergado os professores, impondo-lhes o seu "desígnio nacional" da avaliação (Sócrates está-se verdadeiramente nas tintas para a forma como os processos e as consequências estão a acontecer nas escolas, pois, o que conta é que pareça que esta avaliação está a ser implementada);
- deixei, propositadamente, para o fim, a objecção mais substantiva e mais grave, a qual se prende com o prejuízo que uma estratégia deste tipo acarretaria para as aprendizagens dos alunos, dado que, por maior simplificação que pudesse existir de fichas e de procedimentos, a circunstância de se incentivar a participação do maior número a pedir observação de aulas, acabaria, necessariamente, por roubar o tempo e a disposição imprescindíveis à preparação das aulas, ao acompanhamento e à avaliação dos alunos, o que, para muitos professores, seria absolutamente insuportável.
Aliás, sobre esta última objecção, nem sequer me atrevo a pensar que o Reitor, de tão convicto defensor da escola privada, quisesse, com a sua táctica, dar um contributo para a degradação progressiva da escola pública, por força da aplicação deste modelo de avaliação aberrante. Penso que o Reitor concordará comigo que a escola pública deve concorrer com a escola privada, na base de um ensino de qualidade e de exigência, que não condene à imobilidade social os mais desfavorecidos da sociedade, o que é incompatível com a ocupação dos professores numa farsa.

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