UMA REFERÊNCIA NA INFORMAÇÃO ALPIARCENSE: TOTALITARISMOS IGUAIS COM ALVOS DIFERENTES

25-05-2011
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As máquinas totalitárias desprezam o ser humano.Tinha pensado, depois de, no sábado, estar presente na manifestação no Largo Camões, “Lisboa por Sakineh – 100 cidades contra a barbárie”, escrever um pouco sobre a história desta mulher, que bem podia ser sobre a história das mulheres, que bem podia ser, ainda, sobre a “culpa”, que bem podia ser, também, sobre o “adultério”, tudo na perspectiva da República Islâmica do Irão.Fiquei ainda com mais vontade de vos escrever sobre ela depois de hoje se conhecerem os insultos da imprensa iraniana contra Carla Bruni, a esposa do presidente francês Nicolas Sarkozy - apresentada como uma "prostituta" por um jornal e pelo site governamental do Irão, que denunciou a 'imoralidade' de Carla Bruni por esta ter expressado o seu apoio à iraniana condenada à morte por apedrejamento sob acusação de adultério e assassinato.O que está em causa, no caso de Sakineh, é um grito de solidariedade e de coragem contra o regime da lapidação (a morte à pedrada, lançando pedras de tamanho certo para que a morte seja lenta e atroz, para que a mulher enterrada até ao pescoço possa sobreviver a dezenas de golpes) a pretexto de se fazer “a vontade de deus”. O que os juízes iranianos assumem é que têm um papel de intermediários divinos, com procuração daquele que entendem como seu deus, para torturar, ferir e matar. Obviamente que não existe nenhuma religião que entenda deus como uma entidade tão sanguinária, a violência está no coração dos homens que usam e abusam de conceitos religiosos para impor a atrocidade dos seus fundamentalismos, a pretexto da ordem e do bem comum.O presidente francês ficou ofendido. Como ofendidos ficaram os 950 ciganos que, até Agosto, recambiou para a Roménia. A pretexto da ordem e do bem comum.Assim começou Hitler a sua epopeia genocídia contra ciganos, judeus, intelectuais, revolucionários e maçons. A pretexto da ordem e do bem comum.Os fundamentalismos são anti-natura e qualquer ser divino que ame os seus filhos abominará e sancionará – in extremis, aquando do julgamento final – tais actos.Mas, para já, todos devemos tirar uma lição da História, incluindo Sarkozy, que vê os ciganos como a classe responsável por todos os males que afectam a sociedade francesa: olhar o uno pelo todo apresenta o maior dos riscos: o de vitimizar, o de ferir, o de agredir.Um homem deve ser respeitado pelo que é, as generalizações conduzem inevitavelmente a juízos injustos e perigosos. Hoje são os ciganos - como antes foram os judeus -, os negros, os emigrantes, os homossexuais, os dissidentes e prisioneiros políticos, os que “pecam”, amanhã, por outra causa qualquer somos nós, os nossos filhos, pais, irmãos, amigos e vizinhos. É por isso que Sakineh nos diz assim tanto.Claro que estamos contra a República Islâmica do Irão, como estamos contra Sarkozy, mas se sente assim tão atingido pela ofensa à mulher talvez seja bom olhar para o umbigo e perceber que o “erro” de ambos é exactamente o mesmo: apontar para um comportamento individual e generalizá-lo por classes, tipos, géneros ou outro. Todos os ciganos são ladrões para Sarkozy, como todas as mulheres solidárias com Sakineh cometem “pecados” e são prostitutas para o Irão.Ambas as atitudes são totalitárias, apenas escolheram alvos diferentes.Por: Anabela Melão


As máquinas totalitárias desprezam o ser humano.Tinha pensado, depois de, no sábado, estar presente na manifestação no Largo Camões, “Lisboa por Sakineh – 100 cidades contra a barbárie”, escrever um pouco sobre a história desta mulher, que bem podia ser sobre a história das mulheres, que bem podia ser, ainda, sobre a “culpa”, que bem podia ser, também, sobre o “adultério”, tudo na perspectiva da República Islâmica do Irão.Fiquei ainda com mais vontade de vos escrever sobre ela depois de hoje se conhecerem os insultos da imprensa iraniana contra Carla Bruni, a esposa do presidente francês Nicolas Sarkozy - apresentada como uma "prostituta" por um jornal e pelo site governamental do Irão, que denunciou a 'imoralidade' de Carla Bruni por esta ter expressado o seu apoio à iraniana condenada à morte por apedrejamento sob acusação de adultério e assassinato.O que está em causa, no caso de Sakineh, é um grito de solidariedade e de coragem contra o regime da lapidação (a morte à pedrada, lançando pedras de tamanho certo para que a morte seja lenta e atroz, para que a mulher enterrada até ao pescoço possa sobreviver a dezenas de golpes) a pretexto de se fazer “a vontade de deus”. O que os juízes iranianos assumem é que têm um papel de intermediários divinos, com procuração daquele que entendem como seu deus, para torturar, ferir e matar. Obviamente que não existe nenhuma religião que entenda deus como uma entidade tão sanguinária, a violência está no coração dos homens que usam e abusam de conceitos religiosos para impor a atrocidade dos seus fundamentalismos, a pretexto da ordem e do bem comum.O presidente francês ficou ofendido. Como ofendidos ficaram os 950 ciganos que, até Agosto, recambiou para a Roménia. A pretexto da ordem e do bem comum.Assim começou Hitler a sua epopeia genocídia contra ciganos, judeus, intelectuais, revolucionários e maçons. A pretexto da ordem e do bem comum.Os fundamentalismos são anti-natura e qualquer ser divino que ame os seus filhos abominará e sancionará – in extremis, aquando do julgamento final – tais actos.Mas, para já, todos devemos tirar uma lição da História, incluindo Sarkozy, que vê os ciganos como a classe responsável por todos os males que afectam a sociedade francesa: olhar o uno pelo todo apresenta o maior dos riscos: o de vitimizar, o de ferir, o de agredir.Um homem deve ser respeitado pelo que é, as generalizações conduzem inevitavelmente a juízos injustos e perigosos. Hoje são os ciganos - como antes foram os judeus -, os negros, os emigrantes, os homossexuais, os dissidentes e prisioneiros políticos, os que “pecam”, amanhã, por outra causa qualquer somos nós, os nossos filhos, pais, irmãos, amigos e vizinhos. É por isso que Sakineh nos diz assim tanto.Claro que estamos contra a República Islâmica do Irão, como estamos contra Sarkozy, mas se sente assim tão atingido pela ofensa à mulher talvez seja bom olhar para o umbigo e perceber que o “erro” de ambos é exactamente o mesmo: apontar para um comportamento individual e generalizá-lo por classes, tipos, géneros ou outro. Todos os ciganos são ladrões para Sarkozy, como todas as mulheres solidárias com Sakineh cometem “pecados” e são prostitutas para o Irão.Ambas as atitudes são totalitárias, apenas escolheram alvos diferentes.Por: Anabela Melão

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