Dada a actualidade, na prática política nacional, da percepção de uma certa distância que, frequentemente, existe entre deliberar e executar, disponibilizo os divertidos versos que a Maria Almeida me enviou e que são relativos ao seu, pela amostra não duvido que será notável, projecto de reescrever as fábulas de la Fontaine e de Esopo em versos de 7 sílabas.
A assembleia dos ratos
Certa colónia de ratos
Com enorme medo vivia
Por causa de um gato pardo
Que um a um todos comia.
Se algum deles o focinho
Fora da toca colocava
Estendendo as suas garras
No seu bucho o sepultava.
As ratazanas mais fortes
Nem essas queriam sair
E os famintos animais
Já se viam sucumbir.
Certa noite em que o gato
Versos de amor entoava
O rato mais sapiente
Seus congéneres convocava.
Em assembleia solene
O grupo se reunia
Com enorme discrição
No escuro da rataria.
E cada um dos presentes
Grandes ideias trazia
Num profundo entusiasmo
O conselho as discutia.
Por serem ineficientes
Ou difícil a execução
A noite já avançava
Sem haver deliberação.
Esquecendo o vil verdugo
Já cochilavam cansados
Algum deles buscaria
Solução para os estragos.
Então o mais lesto e jovem
De entre eles se levantou
E tomando um ar solene
A todos assim falou:
-Nós podemos estou certo
Suas ofensas sanar
Pois basta um pequeno guizo
Ao seu pescoço colocar.
Será seu próprio inimigo
Algoz o seu caminhar
E onde quer que este esteja
Fácil será escapar.
Já todos batiam palmas
Suspirando aliviados
É que tal resolução
Deixou-os extasiados.
Foi então que um velho rato
Que no canto tudo ouviu
Percebendo a insensatez
A vez para falar pediu.
- O plano é inteligente
Sei que iria resultar
Mas resta agora achar
Quem vá o guizo colocar.
- Não sei dar laços - diz um
- Eu ainda muito menos
- Eu não vou que cambaleio
- E eu tenho filhos pequenos.
Assim a nobre assembleia
Em grande consternação
Se viu logo dissolvida
Por falta de execução.
Todos sabem todos dizem
Quando é para deliberar
Mas todos logo se vão
Quando é para executar.
Lília Afonso
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Dada a actualidade, na prática política nacional, da percepção de uma certa distância que, frequentemente, existe entre deliberar e executar, disponibilizo os divertidos versos que a Maria Almeida me enviou e que são relativos ao seu, pela amostra não duvido que será notável, projecto de reescrever as fábulas de la Fontaine e de Esopo em versos de 7 sílabas.
A assembleia dos ratos
Certa colónia de ratos
Com enorme medo vivia
Por causa de um gato pardo
Que um a um todos comia.
Se algum deles o focinho
Fora da toca colocava
Estendendo as suas garras
No seu bucho o sepultava.
As ratazanas mais fortes
Nem essas queriam sair
E os famintos animais
Já se viam sucumbir.
Certa noite em que o gato
Versos de amor entoava
O rato mais sapiente
Seus congéneres convocava.
Em assembleia solene
O grupo se reunia
Com enorme discrição
No escuro da rataria.
E cada um dos presentes
Grandes ideias trazia
Num profundo entusiasmo
O conselho as discutia.
Por serem ineficientes
Ou difícil a execução
A noite já avançava
Sem haver deliberação.
Esquecendo o vil verdugo
Já cochilavam cansados
Algum deles buscaria
Solução para os estragos.
Então o mais lesto e jovem
De entre eles se levantou
E tomando um ar solene
A todos assim falou:
-Nós podemos estou certo
Suas ofensas sanar
Pois basta um pequeno guizo
Ao seu pescoço colocar.
Será seu próprio inimigo
Algoz o seu caminhar
E onde quer que este esteja
Fácil será escapar.
Já todos batiam palmas
Suspirando aliviados
É que tal resolução
Deixou-os extasiados.
Foi então que um velho rato
Que no canto tudo ouviu
Percebendo a insensatez
A vez para falar pediu.
- O plano é inteligente
Sei que iria resultar
Mas resta agora achar
Quem vá o guizo colocar.
- Não sei dar laços - diz um
- Eu ainda muito menos
- Eu não vou que cambaleio
- E eu tenho filhos pequenos.
Assim a nobre assembleia
Em grande consternação
Se viu logo dissolvida
Por falta de execução.
Todos sabem todos dizem
Quando é para deliberar
Mas todos logo se vão
Quando é para executar.
Lília Afonso