Octávio V. Gonçalves: PISA 2009: o jornalismo suave ou como se existisse um auditório de atrasados mentais

25-01-2011
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Fonte: Público
Não vou dirimir mais argumentos para desmontar aquilo que para mim se tornou óbvio: houve uma preocupação e um interesse indiscutíveis do GAVE em garantir que os alunos que viessem a realizar os testes PISA 2009 fizessem boa figura, o que se traduziu numa preparação especializada de professores e alunos para esse fim, não sendo os alunos seleccionados (a que acrescem testemunhos de depurações na constituição da amostra), por conseguinte, representativos do universo escolar dos alunos portugueses de 15 anos de idade.
Todavia, não posso deixar de lamentar o facto de o jornalismo que temos, como ilustrado na peça aqui referenciada, tratar os temas e as questões a partir de abordagens que privilegiam, tanto a divulgação acrítica de notas e informações governamentais, como o resvalar para dimensões laterais ou pitorescas que distraem da substância do problema, sem que haja lugar a qualquer atitude de questionamento, de escrutínio exigente e de investigação densa.
Assim sendo, apenas me apetece levantar uma perplexidade e sugerir quatro linhas de investigação jornalística, de modo a não me sentir tratado como uma espécie de tolo que tudo aceita:
- será normal que a maioria dos alunos da amostra manifeste intenção de concluir mestrados e doutoramentos, quando um número significativo de alunos que encontramos no ensino secundário ainda evidenciam muitas dúvidas sobre orientações vocacionais e percursos académicos (muitos nem sequer dominam essa sequência ou diferenciação universitária entre licenciatura, mestrado e doutoramento)? A não ser que tenha havido uma motivação induzida a montante ou se trate dos melhores alunos que estudam com uma motivação claramente dirigida;
- apurar toda a extensão do papel e do "esforço" do GAVE no "projecto" dos testes PISA 2009, fazendo o levantamento de todas as actividades implementadas, neste âmbito;
- procurar compreender, quer a natureza e a finalidade da formação disponibilizada pelo GAVE aos professores, quer o que fizeram esses professores, nas escolas, com a formação recebida;
- inventariar os processos e as decisões de natureza metodológica, pedagógica e política relacionadas com o PISA 2009, tanto a nível do ministério da Educação, como das escolas envolvidas;
- procurar testemunhos espontâneos e não filtrados ou vigiados de professores e de alunos envolvidos nos testes (garantindo o anonimato aos professores inquiridos).

Fonte: Público
Não vou dirimir mais argumentos para desmontar aquilo que para mim se tornou óbvio: houve uma preocupação e um interesse indiscutíveis do GAVE em garantir que os alunos que viessem a realizar os testes PISA 2009 fizessem boa figura, o que se traduziu numa preparação especializada de professores e alunos para esse fim, não sendo os alunos seleccionados (a que acrescem testemunhos de depurações na constituição da amostra), por conseguinte, representativos do universo escolar dos alunos portugueses de 15 anos de idade.
Todavia, não posso deixar de lamentar o facto de o jornalismo que temos, como ilustrado na peça aqui referenciada, tratar os temas e as questões a partir de abordagens que privilegiam, tanto a divulgação acrítica de notas e informações governamentais, como o resvalar para dimensões laterais ou pitorescas que distraem da substância do problema, sem que haja lugar a qualquer atitude de questionamento, de escrutínio exigente e de investigação densa.
Assim sendo, apenas me apetece levantar uma perplexidade e sugerir quatro linhas de investigação jornalística, de modo a não me sentir tratado como uma espécie de tolo que tudo aceita:
- será normal que a maioria dos alunos da amostra manifeste intenção de concluir mestrados e doutoramentos, quando um número significativo de alunos que encontramos no ensino secundário ainda evidenciam muitas dúvidas sobre orientações vocacionais e percursos académicos (muitos nem sequer dominam essa sequência ou diferenciação universitária entre licenciatura, mestrado e doutoramento)? A não ser que tenha havido uma motivação induzida a montante ou se trate dos melhores alunos que estudam com uma motivação claramente dirigida;
- apurar toda a extensão do papel e do "esforço" do GAVE no "projecto" dos testes PISA 2009, fazendo o levantamento de todas as actividades implementadas, neste âmbito;
- procurar compreender, quer a natureza e a finalidade da formação disponibilizada pelo GAVE aos professores, quer o que fizeram esses professores, nas escolas, com a formação recebida;
- inventariar os processos e as decisões de natureza metodológica, pedagógica e política relacionadas com o PISA 2009, tanto a nível do ministério da Educação, como das escolas envolvidas;
- procurar testemunhos espontâneos e não filtrados ou vigiados de professores e de alunos envolvidos nos testes (garantindo o anonimato aos professores inquiridos).

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