UMA REFERÊNCIA NA INFORMAÇÃO ALPIARCENSE: AS PINTURAS DE MESTRE PERES NA CASA DOS MOTAS

22-01-2011
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Agosto de 1993, férias em Santa Cruz. Alguém me falou de pinturas antigas existentes na casa do senhor Joaquim Alberto Mota, que teriam sido feitas no tempo em que Antero de Quental esteve naquela praia, convidado de Jaime Batalha Reis. E logo se combinou uma visita à casa. O senhor Mota recebeu-me muito bem e desatou a desfiar memórias dos seus 85 anos. “Meu pai comprou aqui uma casa que tinha sido convento de freiras e fez a Pensão Mira-Mar que depois vendeu à Maria Sabe-Tudo.” A casa em que estávamos a ter esta conversa “foi construída por João Pinto Mendes, que teve um estabelecimento onde hoje é a casa das bicicletas, no Largo do Grilo, em Torres Vedras. Deixou esta casa às primas, uma delas era minha avó.” Joaquim Mota ia contando mas eu já estava absorvido na contemplação das tais pinturas, de que já me recordava por ter lido um trabalho de Andrade Santos na revista “Torres Cultural” de Novembro de 1991. Eram três círculos com cerca de dois metros de diâmetro cada um, pintados sobre o estuque, na sala de fora, que ocupavam os espaços de duas paredes entre as portas de ligação com as outras dependências da casa. O que eu estava ali a ver era um precioso documento iconográfico da Santa Cruz dos anos 70 do século XIX.Olhei melhor o nosso anfitrião. Homem de palavra fácil, culto, muito conhecido em Torres Vedras. Funcionário da Caixa Geral de Depósitos durante mais de trinta anos, Presidente da direcção da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, mesário da Misericórdia. “Sempre ouvi dizer que Antero de Quental assistiu à feitura destas pinturas por Mestre Peres. Ele falou disto a Jaime Batalha Reis numa carta. Esse pintor também esteve na Igreja da Ponte do Rol. Ainda hoje tem família em Torres Vedras, a Cesária Hipólito, o Alberto Peres Alves…” Nessa visita não tirei fotografias, apenas alguns apontamentos. Dois anos depois o senhor Mota morreu. Não voltei a ver as pinturas mas pensava nelas amiúde e na necessidade de guardar um registo fotográfico de qualidade para o Arquivo Municipal. A oportunidade surgiu agora, em conversa com amigos em Santa Cruz, e logo me foi dada a ligação com a filha do Sr. Mota, dona Maria Manuela. De novo fui bem recebido, desta vez com um amigo munido de máquina para o necessário registo. E o encanto renovou-se. Apesar da ingenuidade da composição, o conjunto tem um poderoso efeito evocativo. Santa Cruz, há 140 anos, era assim. Por: JMD


Agosto de 1993, férias em Santa Cruz. Alguém me falou de pinturas antigas existentes na casa do senhor Joaquim Alberto Mota, que teriam sido feitas no tempo em que Antero de Quental esteve naquela praia, convidado de Jaime Batalha Reis. E logo se combinou uma visita à casa. O senhor Mota recebeu-me muito bem e desatou a desfiar memórias dos seus 85 anos. “Meu pai comprou aqui uma casa que tinha sido convento de freiras e fez a Pensão Mira-Mar que depois vendeu à Maria Sabe-Tudo.” A casa em que estávamos a ter esta conversa “foi construída por João Pinto Mendes, que teve um estabelecimento onde hoje é a casa das bicicletas, no Largo do Grilo, em Torres Vedras. Deixou esta casa às primas, uma delas era minha avó.” Joaquim Mota ia contando mas eu já estava absorvido na contemplação das tais pinturas, de que já me recordava por ter lido um trabalho de Andrade Santos na revista “Torres Cultural” de Novembro de 1991. Eram três círculos com cerca de dois metros de diâmetro cada um, pintados sobre o estuque, na sala de fora, que ocupavam os espaços de duas paredes entre as portas de ligação com as outras dependências da casa. O que eu estava ali a ver era um precioso documento iconográfico da Santa Cruz dos anos 70 do século XIX.Olhei melhor o nosso anfitrião. Homem de palavra fácil, culto, muito conhecido em Torres Vedras. Funcionário da Caixa Geral de Depósitos durante mais de trinta anos, Presidente da direcção da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, mesário da Misericórdia. “Sempre ouvi dizer que Antero de Quental assistiu à feitura destas pinturas por Mestre Peres. Ele falou disto a Jaime Batalha Reis numa carta. Esse pintor também esteve na Igreja da Ponte do Rol. Ainda hoje tem família em Torres Vedras, a Cesária Hipólito, o Alberto Peres Alves…” Nessa visita não tirei fotografias, apenas alguns apontamentos. Dois anos depois o senhor Mota morreu. Não voltei a ver as pinturas mas pensava nelas amiúde e na necessidade de guardar um registo fotográfico de qualidade para o Arquivo Municipal. A oportunidade surgiu agora, em conversa com amigos em Santa Cruz, e logo me foi dada a ligação com a filha do Sr. Mota, dona Maria Manuela. De novo fui bem recebido, desta vez com um amigo munido de máquina para o necessário registo. E o encanto renovou-se. Apesar da ingenuidade da composição, o conjunto tem um poderoso efeito evocativo. Santa Cruz, há 140 anos, era assim. Por: JMD

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