Todos nos recordamos da visita de Estado do então Presidente da República, Jorge Sampaio, às escolas da Finlândia, cioso de dar a conhecer uma experiência modelar que evidenciasse o nosso atraso comparativo em matéria de organização e de resultados educativos e que, em simultâneo, funcionasse como legitimação de um caminho e de opções futuras.
A esta distância, e tendo em conta a constatação do fracasso das políticas educativas de Sócrates, no seu transcurso prepotente, crispado, inconsistente, errático e desqualificador, verifica-se que a iniciativa de Sampaio caiu em saco roto, porque o próprio presidente e o poder político a utilizaram, de modo parcelar e demagógico, para atacar os professores e não para censurar e informar as políticas educativas. Assim sendo, o socratismo tem sido incapaz de ir além da obstinação manhosa pelo fado das decisões mal fundamentadas e de efeitos desastrados (como já ocorrera com a divisão na carreira, com o modelo de avaliação e com o estatuto do aluno), que, nos casos do encerramento de escolas e da criação de megagrupamentos, ainda se vêem debilitadas por uma espécie de novel versão do orgulhosamente sós: o equivocamente sós.
Vem isto a propósito da urgência em travar-se mais um desastre anunciado para a escola pública, o qual se prende com o encerramento de escolas e com a fusão de agrupamentos, cuja fundamentação, na Resolução do Conselho de Ministros n.º 44/2010, de 14 de Junho, é de uma pobreza franciscana: nenhuma referência a experiências internacionais; ausência de estudos, de natureza organizacional e pedagógica, que aconselhem esta opção por unidades sobredimensionadas; ninguém sabe entre que escolas e com base em que parâmetros e metodologias se comparou o (in)sucesso dos alunos em escolas pequenas com o sucesso dos alunos em escolas grandes (podemos sempre suspeitar de "achismo" presumido); não se demonstra qual é a vantagem de um projecto educativo único do pré-escolar aos 12º ano de escolaridade, pois tal até parece algo preocupantemente empobrecedor e redutor; ignora-se uma multiplicidade de variáveis e de dimensões, reduzindo tudo a espaços físicos e a computadores (nada que não pudesse ser investido em escolas de menor dimensão e de maior proximidade), quando o essencial é o espaço suportivo em termos psicológicos (afectivos) e pedagógicos, o qual, nos megagrupamentos, fica mais exíguo e distanciado, com custos para a formação e o desenvolvimento dos alunos.
A tudo isto acresce a circunstância de os países mais desenvolvidos da Europa estarem a abandonar a política das escolas concentracionárias de grandes massas de alunos e a optar pelas potencialidades educativas e psicopedagógicas das escolas pequenas.
Porquê persistir em cometer os mesmos erros que os outros países já cometeram e estão, agora, a corrigir?
É, neste contexto, que deixo aqui um desafio a Cavaco Silva:
- sendo conhecida e respeitada a apetência do actual Presidente da República pela divulgação da exemplaridade dos bons exemplos e das boas práticas, sugiro a organização de um Roteiro temático que permita levar membros do governo e representantes das autarquias e das organizações ou estruturas ligadas ao Ensino a visitarem experiências de outros países (Reino Unido, Finlândia, entre outros) e a tentarem perceber as razões do regresso à opção por escolas de menor dimensão, evitando-se, desta forma, que se incorra num grave erro de gestão e de organização educacional e pedagógica, com custos irreversíveis para as gerações futuras.
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Todos nos recordamos da visita de Estado do então Presidente da República, Jorge Sampaio, às escolas da Finlândia, cioso de dar a conhecer uma experiência modelar que evidenciasse o nosso atraso comparativo em matéria de organização e de resultados educativos e que, em simultâneo, funcionasse como legitimação de um caminho e de opções futuras.
A esta distância, e tendo em conta a constatação do fracasso das políticas educativas de Sócrates, no seu transcurso prepotente, crispado, inconsistente, errático e desqualificador, verifica-se que a iniciativa de Sampaio caiu em saco roto, porque o próprio presidente e o poder político a utilizaram, de modo parcelar e demagógico, para atacar os professores e não para censurar e informar as políticas educativas. Assim sendo, o socratismo tem sido incapaz de ir além da obstinação manhosa pelo fado das decisões mal fundamentadas e de efeitos desastrados (como já ocorrera com a divisão na carreira, com o modelo de avaliação e com o estatuto do aluno), que, nos casos do encerramento de escolas e da criação de megagrupamentos, ainda se vêem debilitadas por uma espécie de novel versão do orgulhosamente sós: o equivocamente sós.
Vem isto a propósito da urgência em travar-se mais um desastre anunciado para a escola pública, o qual se prende com o encerramento de escolas e com a fusão de agrupamentos, cuja fundamentação, na Resolução do Conselho de Ministros n.º 44/2010, de 14 de Junho, é de uma pobreza franciscana: nenhuma referência a experiências internacionais; ausência de estudos, de natureza organizacional e pedagógica, que aconselhem esta opção por unidades sobredimensionadas; ninguém sabe entre que escolas e com base em que parâmetros e metodologias se comparou o (in)sucesso dos alunos em escolas pequenas com o sucesso dos alunos em escolas grandes (podemos sempre suspeitar de "achismo" presumido); não se demonstra qual é a vantagem de um projecto educativo único do pré-escolar aos 12º ano de escolaridade, pois tal até parece algo preocupantemente empobrecedor e redutor; ignora-se uma multiplicidade de variáveis e de dimensões, reduzindo tudo a espaços físicos e a computadores (nada que não pudesse ser investido em escolas de menor dimensão e de maior proximidade), quando o essencial é o espaço suportivo em termos psicológicos (afectivos) e pedagógicos, o qual, nos megagrupamentos, fica mais exíguo e distanciado, com custos para a formação e o desenvolvimento dos alunos.
A tudo isto acresce a circunstância de os países mais desenvolvidos da Europa estarem a abandonar a política das escolas concentracionárias de grandes massas de alunos e a optar pelas potencialidades educativas e psicopedagógicas das escolas pequenas.
Porquê persistir em cometer os mesmos erros que os outros países já cometeram e estão, agora, a corrigir?
É, neste contexto, que deixo aqui um desafio a Cavaco Silva:
- sendo conhecida e respeitada a apetência do actual Presidente da República pela divulgação da exemplaridade dos bons exemplos e das boas práticas, sugiro a organização de um Roteiro temático que permita levar membros do governo e representantes das autarquias e das organizações ou estruturas ligadas ao Ensino a visitarem experiências de outros países (Reino Unido, Finlândia, entre outros) e a tentarem perceber as razões do regresso à opção por escolas de menor dimensão, evitando-se, desta forma, que se incorra num grave erro de gestão e de organização educacional e pedagógica, com custos irreversíveis para as gerações futuras.