Numa semana em que ouvimos as repetidas e constrangedoras notícias da economia mundial e reconhecemos a nossa dificuldade liliputiana em enfrentar a crise confrontámo-nos com outras crises, que por domésticas que são, parecem tornar à nossa volta tudo ainda mais difícil de suportar.O escândalo da falência do BPN que envolve figuras relevantes da política e o tropeço nas palavras de Manuela Ferreira Leite (ou os seus lapsus linguae) são acontecimentos absolutamente diferentes em valor mas que fazem parte da mesma realidade, a de um país que é mal servido de elites.Acrescente-se a este rol a guerra dos sindicatos dos professores (eficaz em colocar o meio escolar próximo da anarquia) com custos que hão-de aparecer mais tarde ou mais cedo e rapidamente se percebe porque é difícil sair deste fado da pequenez em que o País está mergulhado há demasiado tempo.A irresponsabilidade e a falta de cultura democrática são um mal profundamente enraizado na nossa sociedade e reproduzem-se nos actos de pais para filhos, dos exemplos para os que buscam modelos e de geração para geração.Esta cultura que afasta a inteligência e promove a esperteza, da culpa a morrer solteira, do salve-se quem puder e dos direitos sem deveres, vive nos nossos partidos políticos, cresce nas nossas instituições e empresas e, enfim, serve de exemplo nas nossas escolas.Daí que tudo sirva de arremesso quando se trata de tentar reformar o que quer parecer irreformável e como está bom de se ver para nós só serve a reforma que não nos atinja.Se é preciso fazer implementar medidas que ponham em causa os interesses instalados a bem do interesse geral concordamos, mas temos dificuldades em perceber que o nosso interesse está, a mais das vezes, contra o que realmente interessa ao País. E contestamos, o que pertence ao direito que temos em democracia. Quanto a deveres, esses tratamo-los contrariados e só quando obrigados.Vital Moreira escreveu em 2005 que se há revolução a fazer em Portugal, ela consiste em fazer prevalecer o interesse geral contra os interesses sectoriais e corporativos. E é interessante que tenha dito revolução e não reforma.Sobretudo porque é interessante o próprio conceito que temos de revolução e o facto de entendermos que será sempre acção de quem não governa contra quem governa, de quem está de fora contra quem está de dentro.Mas a realidade desdiz esta nossa ideia. De facto o que temos é um Governo determinado a revolucionar o que para todos parece evidente como necessário: qualificar a escola pública e reconhecer o desempenho dos professores. Pelo menos para isso foi mandatado pelos portugueses. Perante as reacções dos sindicatos reformar seria sempre um eufemismo.Para além da sua determinação o Governo está também legitimado democraticamente. O que frequentemente se esquece. Há quem defenda que a vontade de uma corporação poderosa e ruidosa deve prevalecer sobre a confiança que recebeu democraticamente do povo português um Governo que só faz o que lhe compete: governa.E como pensam que tudo se resolverá? Suspendendo. Adiando a solução com a esperança que o problema desapareça. Isto não é irresponsabilidade?Mário Nogueira, líder da FENPROF, é um sindicalista que não disfarça ao que veio.Depois de tratar os governantes do País de gente canalha (habituámo-nos à impunidade com que ofende Alberto João Jardim e este só parece mais um) vai avisando que só dialoga depois de ver cumprida a sua exigência, o que revela o nível da cultura democrática que possui.O líder sindical adiantou também, o que pessoalmente foi relevante para esclarecer a minha solidariedade com os professores, que o que está em causa é o modelo de avaliação dos professores e não a avaliação em si, acrescentando contudo que estes (os professores) nunca aceitarão qualquer modelo de avaliação que tenha repercussão na progressão da carreira docente. O que, aceite a irrelevância da referida avaliação, torna o processo espantosamente inútil.A esperteza substituiu a inteligência.Julgo que restará agora à Ministra da Educação e ao Governo insistir junto do País e em nome do interesse público que a avaliação será feita sem interrupções, nem suspensões, nem adiamentos e que a cultura do mérito será introduzida nas escolas e na progressão das carreiras dos professores, como acontece já com os funcionários públicos.Aceitar desacatos provocados por alunos que, munidos de ovos, julgam exercer um direito de contestação e promover o incumprimento da lei até pode provocar a queda de Ministros mas não deixará de fazer vítimas entre os próprios professores e, em última análise, todas as crianças que se moldam neste caldo de irresponsabilidade.É um erro que se pagará caro usá-las como escudo.
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Numa semana em que ouvimos as repetidas e constrangedoras notícias da economia mundial e reconhecemos a nossa dificuldade liliputiana em enfrentar a crise confrontámo-nos com outras crises, que por domésticas que são, parecem tornar à nossa volta tudo ainda mais difícil de suportar.O escândalo da falência do BPN que envolve figuras relevantes da política e o tropeço nas palavras de Manuela Ferreira Leite (ou os seus lapsus linguae) são acontecimentos absolutamente diferentes em valor mas que fazem parte da mesma realidade, a de um país que é mal servido de elites.Acrescente-se a este rol a guerra dos sindicatos dos professores (eficaz em colocar o meio escolar próximo da anarquia) com custos que hão-de aparecer mais tarde ou mais cedo e rapidamente se percebe porque é difícil sair deste fado da pequenez em que o País está mergulhado há demasiado tempo.A irresponsabilidade e a falta de cultura democrática são um mal profundamente enraizado na nossa sociedade e reproduzem-se nos actos de pais para filhos, dos exemplos para os que buscam modelos e de geração para geração.Esta cultura que afasta a inteligência e promove a esperteza, da culpa a morrer solteira, do salve-se quem puder e dos direitos sem deveres, vive nos nossos partidos políticos, cresce nas nossas instituições e empresas e, enfim, serve de exemplo nas nossas escolas.Daí que tudo sirva de arremesso quando se trata de tentar reformar o que quer parecer irreformável e como está bom de se ver para nós só serve a reforma que não nos atinja.Se é preciso fazer implementar medidas que ponham em causa os interesses instalados a bem do interesse geral concordamos, mas temos dificuldades em perceber que o nosso interesse está, a mais das vezes, contra o que realmente interessa ao País. E contestamos, o que pertence ao direito que temos em democracia. Quanto a deveres, esses tratamo-los contrariados e só quando obrigados.Vital Moreira escreveu em 2005 que se há revolução a fazer em Portugal, ela consiste em fazer prevalecer o interesse geral contra os interesses sectoriais e corporativos. E é interessante que tenha dito revolução e não reforma.Sobretudo porque é interessante o próprio conceito que temos de revolução e o facto de entendermos que será sempre acção de quem não governa contra quem governa, de quem está de fora contra quem está de dentro.Mas a realidade desdiz esta nossa ideia. De facto o que temos é um Governo determinado a revolucionar o que para todos parece evidente como necessário: qualificar a escola pública e reconhecer o desempenho dos professores. Pelo menos para isso foi mandatado pelos portugueses. Perante as reacções dos sindicatos reformar seria sempre um eufemismo.Para além da sua determinação o Governo está também legitimado democraticamente. O que frequentemente se esquece. Há quem defenda que a vontade de uma corporação poderosa e ruidosa deve prevalecer sobre a confiança que recebeu democraticamente do povo português um Governo que só faz o que lhe compete: governa.E como pensam que tudo se resolverá? Suspendendo. Adiando a solução com a esperança que o problema desapareça. Isto não é irresponsabilidade?Mário Nogueira, líder da FENPROF, é um sindicalista que não disfarça ao que veio.Depois de tratar os governantes do País de gente canalha (habituámo-nos à impunidade com que ofende Alberto João Jardim e este só parece mais um) vai avisando que só dialoga depois de ver cumprida a sua exigência, o que revela o nível da cultura democrática que possui.O líder sindical adiantou também, o que pessoalmente foi relevante para esclarecer a minha solidariedade com os professores, que o que está em causa é o modelo de avaliação dos professores e não a avaliação em si, acrescentando contudo que estes (os professores) nunca aceitarão qualquer modelo de avaliação que tenha repercussão na progressão da carreira docente. O que, aceite a irrelevância da referida avaliação, torna o processo espantosamente inútil.A esperteza substituiu a inteligência.Julgo que restará agora à Ministra da Educação e ao Governo insistir junto do País e em nome do interesse público que a avaliação será feita sem interrupções, nem suspensões, nem adiamentos e que a cultura do mérito será introduzida nas escolas e na progressão das carreiras dos professores, como acontece já com os funcionários públicos.Aceitar desacatos provocados por alunos que, munidos de ovos, julgam exercer um direito de contestação e promover o incumprimento da lei até pode provocar a queda de Ministros mas não deixará de fazer vítimas entre os próprios professores e, em última análise, todas as crianças que se moldam neste caldo de irresponsabilidade.É um erro que se pagará caro usá-las como escudo.