O Quatro: Um velho munícipe exigente

22-12-2009
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Não sei se é história que mereça ser contada. Merece a minha atenção só porque interrompe o nosso dia de formalidades e protocolo. É o caso de um munícipe muito idoso que nos costuma visitar, trazendo sempre um ar zangado, com tudo o que de mal encontra na cidade. É a falta de sinalização das casas de banho públicas, a calçada que está levantada, a água que não corre no chafariz, o estacionamento indevido, a árvore seca, o roubo dos sinais de trânsito, enfim, detalhes com importância.Apesar da sua rudeza, chega a provocar-me irritação, mantém um limite que demarca o respeito que temos um pelo outro.Mas as suas últimas observações ultrapassaram o âmbito habitual da discussão e chegaram à fulanização das discordâncias. Tive a maldade de lhe dizer que aquilo que ele pretendia ninguém lhe podia dar (a volta aos tempos em que acreditava num ideal e em que esse ideal ainda era respeitável). Mas senti-me mal imediatamente. Encurralei-o e não se encurrala um homem. Vi a sua atrapalhação e senti a minha. Corrigi o possível. Pousei a minha mão nas costas da mão dele e desafiei: faça uma lista do que lhe prometeram cumprir e não cumpriram. Eu tratarei de justificar o que for justificável. Acordou.Despedi-me constrangido. Saí do gabinete deixando-o a confessar à Maria Helena que tinha uma sobrinha despejada da anterior casa e que esperava há muito tempo por uma "casa da Câmara" . E que a situação o estava a amargurar.Afinal não se trata de idealismo.


Não sei se é história que mereça ser contada. Merece a minha atenção só porque interrompe o nosso dia de formalidades e protocolo. É o caso de um munícipe muito idoso que nos costuma visitar, trazendo sempre um ar zangado, com tudo o que de mal encontra na cidade. É a falta de sinalização das casas de banho públicas, a calçada que está levantada, a água que não corre no chafariz, o estacionamento indevido, a árvore seca, o roubo dos sinais de trânsito, enfim, detalhes com importância.Apesar da sua rudeza, chega a provocar-me irritação, mantém um limite que demarca o respeito que temos um pelo outro.Mas as suas últimas observações ultrapassaram o âmbito habitual da discussão e chegaram à fulanização das discordâncias. Tive a maldade de lhe dizer que aquilo que ele pretendia ninguém lhe podia dar (a volta aos tempos em que acreditava num ideal e em que esse ideal ainda era respeitável). Mas senti-me mal imediatamente. Encurralei-o e não se encurrala um homem. Vi a sua atrapalhação e senti a minha. Corrigi o possível. Pousei a minha mão nas costas da mão dele e desafiei: faça uma lista do que lhe prometeram cumprir e não cumpriram. Eu tratarei de justificar o que for justificável. Acordou.Despedi-me constrangido. Saí do gabinete deixando-o a confessar à Maria Helena que tinha uma sobrinha despejada da anterior casa e que esperava há muito tempo por uma "casa da Câmara" . E que a situação o estava a amargurar.Afinal não se trata de idealismo.

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