Retoma alemã e crise árabe podem ajudar o sector turístico

08-04-2011
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Diz que Portugal vai ser beneficiado pela recuperação da economia alemã e pela instabilidade no Médio Oriente e Norte de África, mas tem "dúvidas" quanto ao desempenho do mercado interno. Apesar da contestação, o governante frisa que a redução do orçamento do Turismo de Portugal e das Entidades Regionais de Turismo deve ser visto como "oportunidade".

Como avalia o ano de 2010 para o sector do turismo?

Os dados evidenciam uma recuperação, não só relativamente a 2009, mas também a 2008, que tinha sido o melhor ano turístico de sempre. Começámos a perceber, em meados do Verão, que essa trajectória era possível. E isto mesmo com a questão da Madeira, que é o terceiro destino turístico nacional e, por isso, um mau desempenho tem consequências. Além disso, tivemos o vulcão islandês, que paralisou o espaço aéreo europeu. E, apesar disto, o país teve um comportamento muito positivo, atingindo a maior cifra de sempre.

Há actividades que continuam débeis, como é o caso das agências de viagens, cujas insolvências subiram 110 por cento. Há actividades que estão a travar uma recuperação ainda maior do sector?

Um estudo recente mostrou que 25 por cento destas empresas têm margens brutas inferiores a cinco por cento, que 75 por cento tem um capital social inferior a 500 mil euros e que a autonomia financeira média ronda os 12 por cento. Além disso, o consumidor vai tendo cada vez mais uma primazia no processo de decisão, o que significa que as agências têm de caminhar para o papel de consultor, que propicia experiências. Também a restauração teve um 2010 difícil, com o encerramento sucessivo de estabelecimentos. É, provavelmente, o sector nacional com maior mudança na titularidade. O que se verifica é que, em simultâneo, o número de novos estabelecimentos não pára de crescer. Mas é um negócio que, além da exigência física, exige também um esforço grande, do lado dos capitais. Algo que as pessoas individualmente podem não ter capacidade para fazer.

No que se refere ao jogo, casinos e bingos continuam a registar quebras nas receitas. Por que motivo não acompanharam o crescimento de 2010?

É uma actividade que está associada ao clima da economia nacional. As famílias têm menos rendimento disponível e, por isso, têm menos capacidade para fazer despesas em actividades dessa natureza. O que estamos a fazer, nomeadamente com a aprovação de uma nova regulamentação para o bingo, é criar condições de atractividade das salas, que tornem esta área susceptível de merecer a confiança dos consumidores.

Que sectores alimentaram a recuperação do sector?

A hotelaria e todos os serviços ligados ao turismo. E também há o facto de haver uma dispersão no crescimento. Tendemos a concentrar toda a atenção em destinos como o Algarve e a Madeira, mas é preciso não esquecer que o restante país turístico vai acontecendo.

A Madeira foi a única região que manteve as perdas em 2010. Qual é a sua opinião sobre a estratégia seguida para o arquipélago?

Não quero estar a introduzir instabilidade, sobretudo num processo que, em 2011, pode ser invertido. As indicações que temos relativamente ao Verão são mais positivas do que eram no ano passado. O que é importante é que as autoridades locais percebam se a oferta turística está adequada à circunstância de vivermos num mundo global e se há inovação do ponto de vista de produto. Por outro lado, é preciso perceber se todos os recursos endógenos, como o património e a confiança, estão conservados para que possamos apresentar a Madeira da forma mais competitiva possível.

Quais são as suas previsões para o sector em 2011?

Depois de atingirmos esta cifra em 2010, recai sobre nós uma responsabilidade acrescida de, pelo menos, manter esta tendência. A recuperação da economia alemã vai ter reflexos ao nível dos mercados receptores de turismo. Depois há uma ligação directa ao que está a acontecer no mundo árabe. A instabilidade faz com que a atenção dos turistas para países como Portugal volte a ser uma realidade. Outro caso interessante é o comportamento do mercado inglês. Em 2009, teve um forte decréscimo, mas já houve uma mudança de tendência e, no ano passado, cresceu cerca de sete por cento. E depois há aspectos que tendencialmente vão consolidar a trajectória ascendente, como é o caso do mercado brasileiro, que cresceu mais de 57 por cento em 2010. São tudo sinais positivos.

E que factores podem penalizar?

As minhas dúvidas estão relacionadas com a forma como se vai comportar o mercado nacional, atendendo ao momento em que vivemos. Se os portugueses vão valorizar Portugal ou procurar outras alternativas. Ou se, simplesmente, não vão fazer férias.

Já há resultados concretos dos ganhos com a instabilidade no Médio Oriente e no Norte de África?

O que fizemos foi manifestar total disponibilidade para reequacionarmos essa operação turística para o nosso país. Os destinos do Sul da Europa foram perdendo mercado para esses países, muito resultado do fenómeno preço. Em termos de resultados concretos, há uma companhia de aviação, a Jet2, que reprogramou a capacidade para o Algarve em mais de 50 por cento e, para a Madeira, em mais 300 por cento, resultado de uma nova ligação aérea.

Pode comprometer-se com uma meta de receitas de oito mil milhões de euros em 2011?

Aquilo que prometo é muito trabalho e construir uma relação de forte confiança com os consumidores e com o sector, que está a valorizar-se no quadro da economia nacional. É um legado que deixamos ao sector.

Como é que Portugal se vai posicionar para atrair mais turistas e segurar os portugueses em 2011?

No caso de Espanha, estamos hoje com uma abordagem que visa mostrar aos espanhóis um país vizinho, com quem temos relações de grande proximidade, numa visão mais moderna, onde podemos ter as questões da gastronomia e dos vinhos como um elemento fortemente apelativo. Vamos continuar, no caso da Alemanha, a trabalhar com os operadores turísticos, nesta nova conjuntura de fragilidade do mundo árabe. No que diz respeito ao mercado do Reino Unido, onde os novos canais de distribuição têm um peso significativo, nomeadamente a Internet, vamos estar actuantes neste domínio. No Brasil, temos de nos concentrar na lógica de grande proximidade.

Só faltou falar dos portugueses...

Sou sempre suspeito para o dizer, mas entendo que Portugal tem hoje condições únicas de acolhimento. Muitas vezes verifico que, quando falamos de realidades turísticas, há sempre uma tendência para desvalorizar Portugal em detrimento de outras realidades longínquas, mas hoje o país está indiscutivelmente melhor para reforçar a relação de confiança com os portugueses.

Em que medida a redução do orçamento das Entidades Regionais de Turismo pode comprometer esse legado?

Temos de ver esta questão como uma oportunidade. A redução do orçamento não foi uma decisão isolada. O próprio orçamento do Turismo de Portugal decresceu ligeiramente mais do que o das entidades regionais, chegando a 25 por cento em 2011. E isso implicou que tivéssemos de fazer opções, que tivéssemos de gerir os recursos públicos, uma vez escassos, com cada vez maior critério. O que decidimos, dentro deste quadro, foi identificar matérias para as quais haveria prioridade máxima. Em primeiro lugar, a contribuição das entidades regionais para a promoção externa. E, por outro lado, assegurar a contrapartida nacional nas candidaturas a programas comunitários.

O turismo tem a difícil tarefa de fazer mais com menos?

Estou convicto de que estas situações muitas vezes criam oportunidades. A questão da redução dos orçamentos não deve ser dissociada desta nova área de co-financiamento de candidaturas a programas comunitários, que, no passado, estavam direccionados para o co-financiamento das infra-estruturas físicas. Por isso, não devemos avaliar a redução de forma isolada.

Em 2010 foram dados passos que vão alterar o sector, nomeadamente a criação de um grupo de trabalho para estudar o jogo online. A que conclusões chegaram?

Não vou fazer comentários porque o relatório foi apresentado e estamos numa fase de avaliação para avançar, numa fase seguinte, para o processo legislativo.

Mas, se fala em revisão legislativa, é porque há conclusões suficientemente importantes para se alterar a lei.

É um objectivo do Governo. Aliás, foi por isso que criámos o grupo de trabalho, que envolveu todo um conjunto de parceiros importantes. Vamos acertar um modo de actuação e seguir-se-á o processo legislativo.

Que acontecerá ainda este ano?

Penso que sim.

A legalização do jogo online é encarada como uma forma de aumentar as receitas do Estado?

O jogo online era uma realidade que escapava ao controlo das autoridades, nomeadamente fiscais. E era também um elemento que distorcia o regular funcionamento da actividade dos jogos, quer os sociais, quer os de fortuna e azar, uma vez que não tinha fiscalização e contrapartidas associadas. E foi neste quadro que o Governo decidiu criar o grupo de trabalho.

E qual é a solução para fiscalizar e obter ganhos fiscais de uma actividade baseada na Internet?

Isso seria desvendar as conclusões do relatório.

O relatório do grupo de trabalho tem uma solução para isto?

Também.

Diz que Portugal vai ser beneficiado pela recuperação da economia alemã e pela instabilidade no Médio Oriente e Norte de África, mas tem "dúvidas" quanto ao desempenho do mercado interno. Apesar da contestação, o governante frisa que a redução do orçamento do Turismo de Portugal e das Entidades Regionais de Turismo deve ser visto como "oportunidade".

Como avalia o ano de 2010 para o sector do turismo?

Os dados evidenciam uma recuperação, não só relativamente a 2009, mas também a 2008, que tinha sido o melhor ano turístico de sempre. Começámos a perceber, em meados do Verão, que essa trajectória era possível. E isto mesmo com a questão da Madeira, que é o terceiro destino turístico nacional e, por isso, um mau desempenho tem consequências. Além disso, tivemos o vulcão islandês, que paralisou o espaço aéreo europeu. E, apesar disto, o país teve um comportamento muito positivo, atingindo a maior cifra de sempre.

Há actividades que continuam débeis, como é o caso das agências de viagens, cujas insolvências subiram 110 por cento. Há actividades que estão a travar uma recuperação ainda maior do sector?

Um estudo recente mostrou que 25 por cento destas empresas têm margens brutas inferiores a cinco por cento, que 75 por cento tem um capital social inferior a 500 mil euros e que a autonomia financeira média ronda os 12 por cento. Além disso, o consumidor vai tendo cada vez mais uma primazia no processo de decisão, o que significa que as agências têm de caminhar para o papel de consultor, que propicia experiências. Também a restauração teve um 2010 difícil, com o encerramento sucessivo de estabelecimentos. É, provavelmente, o sector nacional com maior mudança na titularidade. O que se verifica é que, em simultâneo, o número de novos estabelecimentos não pára de crescer. Mas é um negócio que, além da exigência física, exige também um esforço grande, do lado dos capitais. Algo que as pessoas individualmente podem não ter capacidade para fazer.

No que se refere ao jogo, casinos e bingos continuam a registar quebras nas receitas. Por que motivo não acompanharam o crescimento de 2010?

É uma actividade que está associada ao clima da economia nacional. As famílias têm menos rendimento disponível e, por isso, têm menos capacidade para fazer despesas em actividades dessa natureza. O que estamos a fazer, nomeadamente com a aprovação de uma nova regulamentação para o bingo, é criar condições de atractividade das salas, que tornem esta área susceptível de merecer a confiança dos consumidores.

Que sectores alimentaram a recuperação do sector?

A hotelaria e todos os serviços ligados ao turismo. E também há o facto de haver uma dispersão no crescimento. Tendemos a concentrar toda a atenção em destinos como o Algarve e a Madeira, mas é preciso não esquecer que o restante país turístico vai acontecendo.

A Madeira foi a única região que manteve as perdas em 2010. Qual é a sua opinião sobre a estratégia seguida para o arquipélago?

Não quero estar a introduzir instabilidade, sobretudo num processo que, em 2011, pode ser invertido. As indicações que temos relativamente ao Verão são mais positivas do que eram no ano passado. O que é importante é que as autoridades locais percebam se a oferta turística está adequada à circunstância de vivermos num mundo global e se há inovação do ponto de vista de produto. Por outro lado, é preciso perceber se todos os recursos endógenos, como o património e a confiança, estão conservados para que possamos apresentar a Madeira da forma mais competitiva possível.

Quais são as suas previsões para o sector em 2011?

Depois de atingirmos esta cifra em 2010, recai sobre nós uma responsabilidade acrescida de, pelo menos, manter esta tendência. A recuperação da economia alemã vai ter reflexos ao nível dos mercados receptores de turismo. Depois há uma ligação directa ao que está a acontecer no mundo árabe. A instabilidade faz com que a atenção dos turistas para países como Portugal volte a ser uma realidade. Outro caso interessante é o comportamento do mercado inglês. Em 2009, teve um forte decréscimo, mas já houve uma mudança de tendência e, no ano passado, cresceu cerca de sete por cento. E depois há aspectos que tendencialmente vão consolidar a trajectória ascendente, como é o caso do mercado brasileiro, que cresceu mais de 57 por cento em 2010. São tudo sinais positivos.

E que factores podem penalizar?

As minhas dúvidas estão relacionadas com a forma como se vai comportar o mercado nacional, atendendo ao momento em que vivemos. Se os portugueses vão valorizar Portugal ou procurar outras alternativas. Ou se, simplesmente, não vão fazer férias.

Já há resultados concretos dos ganhos com a instabilidade no Médio Oriente e no Norte de África?

O que fizemos foi manifestar total disponibilidade para reequacionarmos essa operação turística para o nosso país. Os destinos do Sul da Europa foram perdendo mercado para esses países, muito resultado do fenómeno preço. Em termos de resultados concretos, há uma companhia de aviação, a Jet2, que reprogramou a capacidade para o Algarve em mais de 50 por cento e, para a Madeira, em mais 300 por cento, resultado de uma nova ligação aérea.

Pode comprometer-se com uma meta de receitas de oito mil milhões de euros em 2011?

Aquilo que prometo é muito trabalho e construir uma relação de forte confiança com os consumidores e com o sector, que está a valorizar-se no quadro da economia nacional. É um legado que deixamos ao sector.

Como é que Portugal se vai posicionar para atrair mais turistas e segurar os portugueses em 2011?

No caso de Espanha, estamos hoje com uma abordagem que visa mostrar aos espanhóis um país vizinho, com quem temos relações de grande proximidade, numa visão mais moderna, onde podemos ter as questões da gastronomia e dos vinhos como um elemento fortemente apelativo. Vamos continuar, no caso da Alemanha, a trabalhar com os operadores turísticos, nesta nova conjuntura de fragilidade do mundo árabe. No que diz respeito ao mercado do Reino Unido, onde os novos canais de distribuição têm um peso significativo, nomeadamente a Internet, vamos estar actuantes neste domínio. No Brasil, temos de nos concentrar na lógica de grande proximidade.

Só faltou falar dos portugueses...

Sou sempre suspeito para o dizer, mas entendo que Portugal tem hoje condições únicas de acolhimento. Muitas vezes verifico que, quando falamos de realidades turísticas, há sempre uma tendência para desvalorizar Portugal em detrimento de outras realidades longínquas, mas hoje o país está indiscutivelmente melhor para reforçar a relação de confiança com os portugueses.

Em que medida a redução do orçamento das Entidades Regionais de Turismo pode comprometer esse legado?

Temos de ver esta questão como uma oportunidade. A redução do orçamento não foi uma decisão isolada. O próprio orçamento do Turismo de Portugal decresceu ligeiramente mais do que o das entidades regionais, chegando a 25 por cento em 2011. E isso implicou que tivéssemos de fazer opções, que tivéssemos de gerir os recursos públicos, uma vez escassos, com cada vez maior critério. O que decidimos, dentro deste quadro, foi identificar matérias para as quais haveria prioridade máxima. Em primeiro lugar, a contribuição das entidades regionais para a promoção externa. E, por outro lado, assegurar a contrapartida nacional nas candidaturas a programas comunitários.

O turismo tem a difícil tarefa de fazer mais com menos?

Estou convicto de que estas situações muitas vezes criam oportunidades. A questão da redução dos orçamentos não deve ser dissociada desta nova área de co-financiamento de candidaturas a programas comunitários, que, no passado, estavam direccionados para o co-financiamento das infra-estruturas físicas. Por isso, não devemos avaliar a redução de forma isolada.

Em 2010 foram dados passos que vão alterar o sector, nomeadamente a criação de um grupo de trabalho para estudar o jogo online. A que conclusões chegaram?

Não vou fazer comentários porque o relatório foi apresentado e estamos numa fase de avaliação para avançar, numa fase seguinte, para o processo legislativo.

Mas, se fala em revisão legislativa, é porque há conclusões suficientemente importantes para se alterar a lei.

É um objectivo do Governo. Aliás, foi por isso que criámos o grupo de trabalho, que envolveu todo um conjunto de parceiros importantes. Vamos acertar um modo de actuação e seguir-se-á o processo legislativo.

Que acontecerá ainda este ano?

Penso que sim.

A legalização do jogo online é encarada como uma forma de aumentar as receitas do Estado?

O jogo online era uma realidade que escapava ao controlo das autoridades, nomeadamente fiscais. E era também um elemento que distorcia o regular funcionamento da actividade dos jogos, quer os sociais, quer os de fortuna e azar, uma vez que não tinha fiscalização e contrapartidas associadas. E foi neste quadro que o Governo decidiu criar o grupo de trabalho.

E qual é a solução para fiscalizar e obter ganhos fiscais de uma actividade baseada na Internet?

Isso seria desvendar as conclusões do relatório.

O relatório do grupo de trabalho tem uma solução para isto?

Também.

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