O Cachimbo de Magritte: Obama e a religião, ali para os lados do Jugular

08-08-2010
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A Fernanda Câncio e o João Galamba andam desavindos por causa dos elementos religiosos que estiveram presente na tomada de posse e discurso de Obama. A Fernanda ficou enjoada. O João vislumbrou uma oportunidade para a esquerda rever a sua posição em relação à religião. As duas reacções não podem ser dissociadas do conhecimento que aparentemente uma não tem e o outro tem do lugar que a religião ocupa na nossa herança filosófica e política. O argumento da Fernanda é o da laicidade: "Obama mostrou não saber distinguir entre aquilo em que acredita e aquilo em que a nação acredita". A minha opinião é outra. A cerimónia mostrou uma harmonia perfeita entre aquilo em que a nação acredita e aquilo em que Obama acredita. A América acredita que deve ser laica precisamente porque as pessoas não o são. A América acredita que nenhuma pessoa deve ser proibida ou obrigada a professar esta ou aquela religião. A América acredita que um Presidente cristão deve ser livre de jurar sobre a Bíblia e de fazer referências religiosas no seu discurso e acredita que um Presidente ateu deve ser livre de jurar sobre o que quer que seja e de não fazer referências religiosas no seu discurso. (Se um candidato manifestamente ateu tem grandes possibilidades de ser eleito pela maioria dos americanos é outra conversa que não importa agora discutir.) A redução da laicidade à restrição da liberdade religiosa das pessoas fere de morte o seu próprio princípio e propósitos subjacentes. A América já não será a América no dia em que os presidentes forem proíbidos de jurar sobre a Bíblia ou de fazer referências religiosas nos seus discursos. A Fernanda poderá ver os seus desejos realizados se e no dia em que um ateu for eleito presidente da América. Mas isto não acontecerá porque o presidente em causa esteja proibido de jurar sobre a Bíblia ou de fazer referências religosas - acontecerá tão só porque em liberdade escolheu não o fazer.Ps. O João Galamba, apesar de certeiro na justa relevância que atribui à religião nos assuntos políticos, não foi capaz de manter a sobriedade. Diz ele que a visão religiosa de Obama está nos antípodas do fanatismo cego e intolerante de George W Bush. Não sei quais as fontes onde o João foi buscar esta ideia do fanatismo cego e intolerante de Bush. Curiosamente, sou capaz de encontrar inúmeras fontes - imprensa, rádio, televisão - onde facilmente se conclui que a religiosidade de Obama foi contaminada por um discurso político-religioso fanático e intolerante, para não dizer violento e racista. Ou será que o João Galamba já se esqueceu da ligação de 20 anos de Obama à igreja do famoso mas recentemente esquecido Reverendo Wright... De facto, há religiões e religiões: as saudáveis e que contribuem para um mundo melhor e as perigosas.


A Fernanda Câncio e o João Galamba andam desavindos por causa dos elementos religiosos que estiveram presente na tomada de posse e discurso de Obama. A Fernanda ficou enjoada. O João vislumbrou uma oportunidade para a esquerda rever a sua posição em relação à religião. As duas reacções não podem ser dissociadas do conhecimento que aparentemente uma não tem e o outro tem do lugar que a religião ocupa na nossa herança filosófica e política. O argumento da Fernanda é o da laicidade: "Obama mostrou não saber distinguir entre aquilo em que acredita e aquilo em que a nação acredita". A minha opinião é outra. A cerimónia mostrou uma harmonia perfeita entre aquilo em que a nação acredita e aquilo em que Obama acredita. A América acredita que deve ser laica precisamente porque as pessoas não o são. A América acredita que nenhuma pessoa deve ser proibida ou obrigada a professar esta ou aquela religião. A América acredita que um Presidente cristão deve ser livre de jurar sobre a Bíblia e de fazer referências religiosas no seu discurso e acredita que um Presidente ateu deve ser livre de jurar sobre o que quer que seja e de não fazer referências religiosas no seu discurso. (Se um candidato manifestamente ateu tem grandes possibilidades de ser eleito pela maioria dos americanos é outra conversa que não importa agora discutir.) A redução da laicidade à restrição da liberdade religiosa das pessoas fere de morte o seu próprio princípio e propósitos subjacentes. A América já não será a América no dia em que os presidentes forem proíbidos de jurar sobre a Bíblia ou de fazer referências religiosas nos seus discursos. A Fernanda poderá ver os seus desejos realizados se e no dia em que um ateu for eleito presidente da América. Mas isto não acontecerá porque o presidente em causa esteja proibido de jurar sobre a Bíblia ou de fazer referências religosas - acontecerá tão só porque em liberdade escolheu não o fazer.Ps. O João Galamba, apesar de certeiro na justa relevância que atribui à religião nos assuntos políticos, não foi capaz de manter a sobriedade. Diz ele que a visão religiosa de Obama está nos antípodas do fanatismo cego e intolerante de George W Bush. Não sei quais as fontes onde o João foi buscar esta ideia do fanatismo cego e intolerante de Bush. Curiosamente, sou capaz de encontrar inúmeras fontes - imprensa, rádio, televisão - onde facilmente se conclui que a religiosidade de Obama foi contaminada por um discurso político-religioso fanático e intolerante, para não dizer violento e racista. Ou será que o João Galamba já se esqueceu da ligação de 20 anos de Obama à igreja do famoso mas recentemente esquecido Reverendo Wright... De facto, há religiões e religiões: as saudáveis e que contribuem para um mundo melhor e as perigosas.

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