O Cachimbo de Magritte: Desobediência incivil

05-08-2010
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A gente lê e não acredita. Miguel Portas classificou os actos de vandalismo do obscuro Movimento Verde Eufémia (não seria mais claro chamar-se Verde Melancia - verde por fora e vermelho por dentro?) como "desobediência civil ecológica". E declarou ternamente a sua "simpatia com o gesto" por ter alertado a opinião pública, pois claro, para o problema dos transgénicos. Uma nobre luta que deve estar isenta de "motivos de ordem moralista" (leia-se: respeito pela propriedade privada) e ser levada a cabo "se necessário nos limites da lei". Ou mesmo para lá dos limites da lei, digo eu.Convém lembrar que os meninos eufémios não fizeram apenas uma manif, por ilegal que fosse, nem uns inofensivos grafittis, nem sequer uma daquelas raves em que o pessoal, depois de umas ganzas, exige o casamento gay. Isso é o fim da civilização, mas nada mais. Não senhor: os meninos eufémios invadiram uma exploração agrícola e destruíram o trabalho de um pacato cidadão, cujo único crime foi plantar milho transgénico. Um crime que não é crime porque a plantação era legal, ao contrário do cultivo das tais coisas das tais festas que os meninos talvez queiram legalizar e que produzem os resultados à vista da tal opinião pública.Convém também lembrar que Miguel Portas é eurodeputado e um dos principais dirigentes do Bloco de Esquerda, partido com representação parlamentar. Uma coisa é ver os meninos eufémios, azougados como todos os jovens e de lenço beduíno a tapar a cara, no simpático gesto de trocar galhardetes com os plantadores de transgénicos. É giro, anima a malta enquanto a bola não começa e fica bem nos jornais. Outra coisa é ver Portas elder, dentro das melhores camisas sem gravata que o dinheiro de Estrasburgo pode comprar, invectivando as perversões do capitalismo. Já sei que é para chamar a atenção da opinião pública. Os transgénicos, pois claro. E porque não estender os mesmos gestos a outras causas? Por exemplo, invadir as urgências do Santa Maria e partir tudo em protesto contra as listas de espera? Ou linchar um preto para mostrar a nossa preocupação com o racismo? Ah, como é belo lutar por ideais...


A gente lê e não acredita. Miguel Portas classificou os actos de vandalismo do obscuro Movimento Verde Eufémia (não seria mais claro chamar-se Verde Melancia - verde por fora e vermelho por dentro?) como "desobediência civil ecológica". E declarou ternamente a sua "simpatia com o gesto" por ter alertado a opinião pública, pois claro, para o problema dos transgénicos. Uma nobre luta que deve estar isenta de "motivos de ordem moralista" (leia-se: respeito pela propriedade privada) e ser levada a cabo "se necessário nos limites da lei". Ou mesmo para lá dos limites da lei, digo eu.Convém lembrar que os meninos eufémios não fizeram apenas uma manif, por ilegal que fosse, nem uns inofensivos grafittis, nem sequer uma daquelas raves em que o pessoal, depois de umas ganzas, exige o casamento gay. Isso é o fim da civilização, mas nada mais. Não senhor: os meninos eufémios invadiram uma exploração agrícola e destruíram o trabalho de um pacato cidadão, cujo único crime foi plantar milho transgénico. Um crime que não é crime porque a plantação era legal, ao contrário do cultivo das tais coisas das tais festas que os meninos talvez queiram legalizar e que produzem os resultados à vista da tal opinião pública.Convém também lembrar que Miguel Portas é eurodeputado e um dos principais dirigentes do Bloco de Esquerda, partido com representação parlamentar. Uma coisa é ver os meninos eufémios, azougados como todos os jovens e de lenço beduíno a tapar a cara, no simpático gesto de trocar galhardetes com os plantadores de transgénicos. É giro, anima a malta enquanto a bola não começa e fica bem nos jornais. Outra coisa é ver Portas elder, dentro das melhores camisas sem gravata que o dinheiro de Estrasburgo pode comprar, invectivando as perversões do capitalismo. Já sei que é para chamar a atenção da opinião pública. Os transgénicos, pois claro. E porque não estender os mesmos gestos a outras causas? Por exemplo, invadir as urgências do Santa Maria e partir tudo em protesto contra as listas de espera? Ou linchar um preto para mostrar a nossa preocupação com o racismo? Ah, como é belo lutar por ideais...

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