O Cachimbo de Magritte: Crónicas da Renascença: A Montanha Mágica

21-01-2011
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Para quem tenha vontade de fugir às férias na praia, os ares da serra são uma boa alternativa. Do Gerês a S. Mamede, de Montesinho a Monchique, passando pela Estrela, a oferta nacional é maior do que parece. Há preços muito acessíveis, apesar dos custos da distância e da necessidade de ter sempre um carro à mão. Mas a melhor maneira de visitar uma montanha é percorrê-la a pé, beber as paisagens durante longas horas de caminhada, respirar sem pressa as cores, os cheiros, as texturas que já desaprendemos na cidade.Caminhar faz bem: cansa o corpo e liberta a alma. Caminhar nas alturas faz ainda melhor. Os cumes chamam-nos, rasgam horizontes, exigem tempo e esforço, recordam o essencial. Uma vez perguntaram a Edmund Hillary, o primeiro homem a subir ao Everest, porque é que dedicava a vida a trepar montanhas. E ele respondeu: porque estão lá. Nem todos podemos igualar os feitos desportivos de Hillary nos Himalaias, mas todos somos convidados ter esta simplicidade de coração diante da grandeza das coisas. Chesterton, que não era um atleta, confessava-se grato pela existência do Matterhorn, um pico alpino, porque Deus podia não o ter criado. Ou seja, porque podia não estar lá.Compreende-se que os românticos, com um sentido agudo da natureza, associassem as montanhas à busca da transcendência. Vejam-se os quadros do pintor alemão Caspar David Friedrich, por exemplo. Na época em que começava o turismo de massas, redescobriram que ninguém sobe ao alto de um monte sem ficar mais perto de Deus. É certo que a vastidão inquieta do mar, um negativo das montanhas, também os aproximava das perguntas últimas. Mas esse era um tempo em que só ondas, ventos e gaivotas se ouviam na praia: a não ser os pescadores, pouca gente lá ia no frio do Inverno e ninguém, de certeza, no calor do Verão. (15/8/2010)


Para quem tenha vontade de fugir às férias na praia, os ares da serra são uma boa alternativa. Do Gerês a S. Mamede, de Montesinho a Monchique, passando pela Estrela, a oferta nacional é maior do que parece. Há preços muito acessíveis, apesar dos custos da distância e da necessidade de ter sempre um carro à mão. Mas a melhor maneira de visitar uma montanha é percorrê-la a pé, beber as paisagens durante longas horas de caminhada, respirar sem pressa as cores, os cheiros, as texturas que já desaprendemos na cidade.Caminhar faz bem: cansa o corpo e liberta a alma. Caminhar nas alturas faz ainda melhor. Os cumes chamam-nos, rasgam horizontes, exigem tempo e esforço, recordam o essencial. Uma vez perguntaram a Edmund Hillary, o primeiro homem a subir ao Everest, porque é que dedicava a vida a trepar montanhas. E ele respondeu: porque estão lá. Nem todos podemos igualar os feitos desportivos de Hillary nos Himalaias, mas todos somos convidados ter esta simplicidade de coração diante da grandeza das coisas. Chesterton, que não era um atleta, confessava-se grato pela existência do Matterhorn, um pico alpino, porque Deus podia não o ter criado. Ou seja, porque podia não estar lá.Compreende-se que os românticos, com um sentido agudo da natureza, associassem as montanhas à busca da transcendência. Vejam-se os quadros do pintor alemão Caspar David Friedrich, por exemplo. Na época em que começava o turismo de massas, redescobriram que ninguém sobe ao alto de um monte sem ficar mais perto de Deus. É certo que a vastidão inquieta do mar, um negativo das montanhas, também os aproximava das perguntas últimas. Mas esse era um tempo em que só ondas, ventos e gaivotas se ouviam na praia: a não ser os pescadores, pouca gente lá ia no frio do Inverno e ninguém, de certeza, no calor do Verão. (15/8/2010)

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