O Cachimbo de Magritte: A moral da história do sapato

08-08-2010
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Lemos na primeira página do DN de hoje que o jornalista que atirou o sapato a Bush é herói em Bagdade (a primeira página do PÚBLICO é mais comedida: Dois sapatos contra Bush. Muntadar é culpado ou herói?). Parece que o atirador está detido, ainda em lugar desconhecido, mas que já conta com 200 advogados dispostos para o defender: "Este herói deve ter um processo justo", garantiu o advogado Al Duleimi, enquanto milhares de iraquianos saíram à rua em várias cidades do país para "louvar" o gesto do jovem e lembrar a Bush que "saiu do Iraque com uma sapatada na cabeça". O que o DN não diz - e deveria dizer - é que o jornalista teria sido um herói - um verdadeiro herói - se tivesse antes atirado um sapato a Saddam no tempo em que o tirano ainda era dono e senhor do Iraque. Entretanto, lemos no PÚBLICO que o executivo de Maliki pediu à televisão Al-Baghdadyia, uma estação iraquiana com sede no Cairo, que se desculpasse. Mas esta respondeu apelando ao Governo que libertasse o seu repórter, uma medida "em linha com a democracia e liberdade de expressão que as autoridades americanas prometeram ao povo iraquiano". Bem bom. Alguns anos atrás, com o tirano Saddam a governar, o jornalista Muntadar al-Zaidi já estaria mutilado ou morto. Que o alvo do atirador do sapato seja a mesma pessoa que tornou o Iraque um país muito melhor é apenas mais uma daquelas ironias que a história não deixará de evidenciar. Obrigado G. W. Bush.(O Miguel Morgado alertou-me agora para o facto de a mesma interpretação do episódio ter sido avançada ontem pelo Nuno Gouveia, no blog Atlântico. Ainda que uma verdade não passe a ser menos verdadeira porque repetida muitas vezes, fica aqui a devida referência.)


Lemos na primeira página do DN de hoje que o jornalista que atirou o sapato a Bush é herói em Bagdade (a primeira página do PÚBLICO é mais comedida: Dois sapatos contra Bush. Muntadar é culpado ou herói?). Parece que o atirador está detido, ainda em lugar desconhecido, mas que já conta com 200 advogados dispostos para o defender: "Este herói deve ter um processo justo", garantiu o advogado Al Duleimi, enquanto milhares de iraquianos saíram à rua em várias cidades do país para "louvar" o gesto do jovem e lembrar a Bush que "saiu do Iraque com uma sapatada na cabeça". O que o DN não diz - e deveria dizer - é que o jornalista teria sido um herói - um verdadeiro herói - se tivesse antes atirado um sapato a Saddam no tempo em que o tirano ainda era dono e senhor do Iraque. Entretanto, lemos no PÚBLICO que o executivo de Maliki pediu à televisão Al-Baghdadyia, uma estação iraquiana com sede no Cairo, que se desculpasse. Mas esta respondeu apelando ao Governo que libertasse o seu repórter, uma medida "em linha com a democracia e liberdade de expressão que as autoridades americanas prometeram ao povo iraquiano". Bem bom. Alguns anos atrás, com o tirano Saddam a governar, o jornalista Muntadar al-Zaidi já estaria mutilado ou morto. Que o alvo do atirador do sapato seja a mesma pessoa que tornou o Iraque um país muito melhor é apenas mais uma daquelas ironias que a história não deixará de evidenciar. Obrigado G. W. Bush.(O Miguel Morgado alertou-me agora para o facto de a mesma interpretação do episódio ter sido avançada ontem pelo Nuno Gouveia, no blog Atlântico. Ainda que uma verdade não passe a ser menos verdadeira porque repetida muitas vezes, fica aqui a devida referência.)

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