O Cachimbo de Magritte: O Conservadorismo Triste

07-08-2010
marcar artigo


Não foi a primeira vez, nem será a última. Há já algum tempo que se repetem os lamentos de que os partidos conservadores são cada vez menos conservadores na forma e no estilo, ou até no conteúdo. Queixam-se os conservadores que os partidos que os representavam perderam intencionalmente alguns traços distintivos da sua identidade, como uma certa dureza nas palavras, a disponibilidade para recorrer no seu discurso à “autoridade do Estado”, a formalidade na exposição, a resistência à dissipação da gravidade na vida pública. Anteriormente, a solenidade dos propósitos políticos dos partidos conservadores tinha um discurso e uma forma particularmente adequados. Os propósitos e a forma estavam indissoluvelmente ligados numa equação entendida por todos, e que não poderia manter a sua validade se um dos termos fosse alterado. Numa palavra, havia uma certa relação entre conservadorismo e gravidade. Essa relação era importante até porque deixava perceber as raízes aristocráticas do conservadorismo. Hoje, observam alguns com tristeza, os partidos conservadores adoptaram sem vergonha, e nem sempre com a mesma habilidade, a forma de exposição pública dos partidos mais liberais ou mais esquerdistas. Multiplicam os sorrisos tolos, prescindem com regularidade das gravatas e procuram desesperadamente ser cool.Claro que se poderá retorquir que tudo foi já explicado pela proposta de análise de Otto Kirchheimer. Enquanto os partidos conservadores ambicionarem ser partidos de poder terão de diluir os seus discursos e conteúdos mais característicos numa massa maleável que atraia o maior número de eleitores. Para utilizar a terminologia certa, terão de se tornar partidos catch-all. O modelo do catch-all party pode descrever uma boa parte do processo; porém, não o explica. Quando os partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas se livraram dos vestígios do “socialismo democrático”, o fenómeno foi aplaudido também por gente à direita como o retorno à sobriedade e ao bom-senso. Contudo, nem todos perceberam que o realinhamento dos partidos de esquerda obrigaria a um realinhamento dos partidos de direita. Mas o que desgosta verdadeiramente os conservadores mais conscientes é que esse realinhamento se jogue na direcção da infantilização da política. Custa-lhes reconhecer que, em sociedades que se infantilizam quase imperceptivelmente, a política tenha de acompanhar o passo. Numa sociedade cada vez mais envelhecida, o elogio e a admiração vão inteirinhos para os rasgos brilhantes da juventude. E o mais leve cheiro gerontocrático é prenúncio de bolor. É verdade que o conservadorismo não pode ser simplesmente identificado com inclinações gerontocráticas e que a dinâmica intrínseca da política não pode ser entregue à reticência da velhice. Mas os que teimam em se não deixar persuadir também sabem que os “jovens” que Maquiavel admirava não eram estas figuras que percorrem as terras do Ocidente exibindo a sua “juventude” em campanhas eleitorais.


Não foi a primeira vez, nem será a última. Há já algum tempo que se repetem os lamentos de que os partidos conservadores são cada vez menos conservadores na forma e no estilo, ou até no conteúdo. Queixam-se os conservadores que os partidos que os representavam perderam intencionalmente alguns traços distintivos da sua identidade, como uma certa dureza nas palavras, a disponibilidade para recorrer no seu discurso à “autoridade do Estado”, a formalidade na exposição, a resistência à dissipação da gravidade na vida pública. Anteriormente, a solenidade dos propósitos políticos dos partidos conservadores tinha um discurso e uma forma particularmente adequados. Os propósitos e a forma estavam indissoluvelmente ligados numa equação entendida por todos, e que não poderia manter a sua validade se um dos termos fosse alterado. Numa palavra, havia uma certa relação entre conservadorismo e gravidade. Essa relação era importante até porque deixava perceber as raízes aristocráticas do conservadorismo. Hoje, observam alguns com tristeza, os partidos conservadores adoptaram sem vergonha, e nem sempre com a mesma habilidade, a forma de exposição pública dos partidos mais liberais ou mais esquerdistas. Multiplicam os sorrisos tolos, prescindem com regularidade das gravatas e procuram desesperadamente ser cool.Claro que se poderá retorquir que tudo foi já explicado pela proposta de análise de Otto Kirchheimer. Enquanto os partidos conservadores ambicionarem ser partidos de poder terão de diluir os seus discursos e conteúdos mais característicos numa massa maleável que atraia o maior número de eleitores. Para utilizar a terminologia certa, terão de se tornar partidos catch-all. O modelo do catch-all party pode descrever uma boa parte do processo; porém, não o explica. Quando os partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas se livraram dos vestígios do “socialismo democrático”, o fenómeno foi aplaudido também por gente à direita como o retorno à sobriedade e ao bom-senso. Contudo, nem todos perceberam que o realinhamento dos partidos de esquerda obrigaria a um realinhamento dos partidos de direita. Mas o que desgosta verdadeiramente os conservadores mais conscientes é que esse realinhamento se jogue na direcção da infantilização da política. Custa-lhes reconhecer que, em sociedades que se infantilizam quase imperceptivelmente, a política tenha de acompanhar o passo. Numa sociedade cada vez mais envelhecida, o elogio e a admiração vão inteirinhos para os rasgos brilhantes da juventude. E o mais leve cheiro gerontocrático é prenúncio de bolor. É verdade que o conservadorismo não pode ser simplesmente identificado com inclinações gerontocráticas e que a dinâmica intrínseca da política não pode ser entregue à reticência da velhice. Mas os que teimam em se não deixar persuadir também sabem que os “jovens” que Maquiavel admirava não eram estas figuras que percorrem as terras do Ocidente exibindo a sua “juventude” em campanhas eleitorais.

marcar artigo