O Cachimbo de Magritte: Tocqueville em Alfragide

07-08-2010
marcar artigo


Se Tocqueville hoje visitasse Portugal, escrevia um livro sobre a IKEA. Poucos coisas terão feito mais pela mistura de classes e pela democratização do gosto cá na aldeia do que o triunfo da marca sueca. Sempre que lá vou, arrastado pela fúria mobilizadora de uma certa donzela, observo as pessoas enquanto digo a todas as compras que sim. O que significa geralmente o fim das minhas economias e o princípio da minha sociologia. Por aqueles corredores, às cotoveladas, é a sociedade portuguesa que abre caminho: gerações de suburbanos em passeio semanal, betas na véspera de dar o nó com a mãezinha, solitários de gosto alternativo, donas-de-casa em peregrinação desopilante, casais provincianos com aspirações cosmopolitas, imigrantes brasileiros e eslavos e paquistaneses, namorados cheios de projectos com ar de namorados cheios de projectos, jovens profissionais de sucesso a mudar de casa (ou de carreira, ou de amor, ou de vida), famílias da classe média com orçamentos abaixo da média (o nosso caso, claro). Esqueçam a cidadania, a Europa e a globalização. O futuro da democracia portuguesa está no contraplacado de bétula.


Se Tocqueville hoje visitasse Portugal, escrevia um livro sobre a IKEA. Poucos coisas terão feito mais pela mistura de classes e pela democratização do gosto cá na aldeia do que o triunfo da marca sueca. Sempre que lá vou, arrastado pela fúria mobilizadora de uma certa donzela, observo as pessoas enquanto digo a todas as compras que sim. O que significa geralmente o fim das minhas economias e o princípio da minha sociologia. Por aqueles corredores, às cotoveladas, é a sociedade portuguesa que abre caminho: gerações de suburbanos em passeio semanal, betas na véspera de dar o nó com a mãezinha, solitários de gosto alternativo, donas-de-casa em peregrinação desopilante, casais provincianos com aspirações cosmopolitas, imigrantes brasileiros e eslavos e paquistaneses, namorados cheios de projectos com ar de namorados cheios de projectos, jovens profissionais de sucesso a mudar de casa (ou de carreira, ou de amor, ou de vida), famílias da classe média com orçamentos abaixo da média (o nosso caso, claro). Esqueçam a cidadania, a Europa e a globalização. O futuro da democracia portuguesa está no contraplacado de bétula.

marcar artigo