O Cachimbo de Magritte: Esta mulher não é do Norte

05-08-2010
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Uma razão para a inexistência de verdadeiras políticas de cultura em Portugal é que, num meio pequeno, todas as decisões ganham uma pesada carga de fulanismo. Não há grandes critérios políticos ou ideológicos na acção do chamado Ministério da Cultura. Há apenas, quase sempre, a tentação de calar as capelinhas mendicantes, sobretudo se têm acesso à comunicação social.Hoje, no Público, Isabel Pires de Lima critica asperamente João Bénard da Costa, director da Cinemateca, por não ter cedido à petição de 4000 assinaturas que defende um pólo da instituição no Porto. Há muito motivos para criticar esta recusa, que invoca os riscos de conservação das películas, mas a "deputada do PS pelo Porto" perde metade do artigo em ataques pessoais. "Independentemente dos bons serviços que na direcção da Cinemateca prestou no passado - desde 80 como subdirector e de 91 como director - e da sua reconhecida dimensão intelectual, de há muito que J.B.C., no seu cargo aparentemente vitalício, contribui para a estagnação da Cinemateca, reconhecida por amplos sectores do meio cultural sem que haja coragem para dizer com todas as letras que o rei vai nu. O autismo que caracteriza aquela instituição, quer na vertente de preservação e de salvaguarda, quer na da divulgação. decorre do autismo de J.B.C." E assim por diante.Há aqui qualquer coisa que incomoda muito, e não é o mau gosto das metáforas. Quem ler estas linhas, poderá pensar que Isabel Pires de Lima nunca teve responsabilidades sobre a Cinemateca. Ora, se bem me lembro, a senhora foi Ministra da Cultura até há poucos meses. E foi ela que reconduziu Bénard da Costa no "cargo aparentemente vitalício", de resto através de uma discutível excepção à lei, quando este atingiu o limite de idade.Porquê? Porque na altura circulou um outro abaixo-assinado, com os nomes ilustres de Luís Miguel Cintra, Jorge Silva Melo, João Fiadeiro ou Maria João Seixas, a pedir que assim fosse. Ao qual Isabel Pires de Lima deu o conveniente despacho, declarando ter "o maior apreço" pelo trabalho do autista e ver "com bons olhos" a sua estagnação na Cinemateca.O erro de casting da passagem pireslimiana pela Ajuda não se deve só à falta de competência. Deve-se também à falta de coluna.Já se sabia, mas hoje vem no Público.


Uma razão para a inexistência de verdadeiras políticas de cultura em Portugal é que, num meio pequeno, todas as decisões ganham uma pesada carga de fulanismo. Não há grandes critérios políticos ou ideológicos na acção do chamado Ministério da Cultura. Há apenas, quase sempre, a tentação de calar as capelinhas mendicantes, sobretudo se têm acesso à comunicação social.Hoje, no Público, Isabel Pires de Lima critica asperamente João Bénard da Costa, director da Cinemateca, por não ter cedido à petição de 4000 assinaturas que defende um pólo da instituição no Porto. Há muito motivos para criticar esta recusa, que invoca os riscos de conservação das películas, mas a "deputada do PS pelo Porto" perde metade do artigo em ataques pessoais. "Independentemente dos bons serviços que na direcção da Cinemateca prestou no passado - desde 80 como subdirector e de 91 como director - e da sua reconhecida dimensão intelectual, de há muito que J.B.C., no seu cargo aparentemente vitalício, contribui para a estagnação da Cinemateca, reconhecida por amplos sectores do meio cultural sem que haja coragem para dizer com todas as letras que o rei vai nu. O autismo que caracteriza aquela instituição, quer na vertente de preservação e de salvaguarda, quer na da divulgação. decorre do autismo de J.B.C." E assim por diante.Há aqui qualquer coisa que incomoda muito, e não é o mau gosto das metáforas. Quem ler estas linhas, poderá pensar que Isabel Pires de Lima nunca teve responsabilidades sobre a Cinemateca. Ora, se bem me lembro, a senhora foi Ministra da Cultura até há poucos meses. E foi ela que reconduziu Bénard da Costa no "cargo aparentemente vitalício", de resto através de uma discutível excepção à lei, quando este atingiu o limite de idade.Porquê? Porque na altura circulou um outro abaixo-assinado, com os nomes ilustres de Luís Miguel Cintra, Jorge Silva Melo, João Fiadeiro ou Maria João Seixas, a pedir que assim fosse. Ao qual Isabel Pires de Lima deu o conveniente despacho, declarando ter "o maior apreço" pelo trabalho do autista e ver "com bons olhos" a sua estagnação na Cinemateca.O erro de casting da passagem pireslimiana pela Ajuda não se deve só à falta de competência. Deve-se também à falta de coluna.Já se sabia, mas hoje vem no Público.

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