Ok, eu até aguento que Cavaco Silva promulgue a lei do aborto sem nenhuma contra-indicação, para além da sua mensagem de bons conselhos que a maioria socialista fez questão de enviar às malvas. O referendo teve um resultado claro, apesar da abstenção, e não há grande margem para vetos ou estados de alma. Mas já acho um pouco surrealista, para dizer o mínimo, a envergonhada declaração do nosso Presidente na Letónia, sugerindo que, enfim, talvez o melhor seja mesmo aprovar a famosa Constituição europeia sem referendo (o que se segue, aliás, a vagas notícias sobre um entendimento entre PS e o PSD a este respeito - ou desrespeito). Como foi lá longe, numa cimeira decorativa e para bruxelês ver, a coisa não se pode levar a sério. Porque seria simplesmente escandaloso que Cavaco se prestasse a uma tal pantomina dos candidatos a big brother que nos governam, lá e cá. De que têm medo os caciques da aldeia? Que a populaça, pouco esclarecida em subtilezas jurídico-messiânicas, cometa a deselegância de chumbar o leviatã? Tal qual os povos avançados de Franças e Araganças?Seremos menos do que eles? Os mesmos portugueses que votaram o aborto não podem votar este novo aborto? Dá-se à plebe o direito de decidir sobre a vida de um embrião mas não o de se pronunciar sobre o futuro de um continente?Tenha cuidado, Professor Cavaco. Não foi para isto que o elegemos.
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Ok, eu até aguento que Cavaco Silva promulgue a lei do aborto sem nenhuma contra-indicação, para além da sua mensagem de bons conselhos que a maioria socialista fez questão de enviar às malvas. O referendo teve um resultado claro, apesar da abstenção, e não há grande margem para vetos ou estados de alma. Mas já acho um pouco surrealista, para dizer o mínimo, a envergonhada declaração do nosso Presidente na Letónia, sugerindo que, enfim, talvez o melhor seja mesmo aprovar a famosa Constituição europeia sem referendo (o que se segue, aliás, a vagas notícias sobre um entendimento entre PS e o PSD a este respeito - ou desrespeito). Como foi lá longe, numa cimeira decorativa e para bruxelês ver, a coisa não se pode levar a sério. Porque seria simplesmente escandaloso que Cavaco se prestasse a uma tal pantomina dos candidatos a big brother que nos governam, lá e cá. De que têm medo os caciques da aldeia? Que a populaça, pouco esclarecida em subtilezas jurídico-messiânicas, cometa a deselegância de chumbar o leviatã? Tal qual os povos avançados de Franças e Araganças?Seremos menos do que eles? Os mesmos portugueses que votaram o aborto não podem votar este novo aborto? Dá-se à plebe o direito de decidir sobre a vida de um embrião mas não o de se pronunciar sobre o futuro de um continente?Tenha cuidado, Professor Cavaco. Não foi para isto que o elegemos.