A censura chumbada do BE, o "fantasma" de Cavaco e a ameaça da moção vermelha

16-03-2011
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Bloco de Esquerda defende eleições antecipadas contra a degradação política. Sócrates respondeu indirectamente às críticas do Presidente. PCP mantém moção no horizonte

O discurso de posse de Cavaco Silva pairou ontem no debate de uma moção de censura do Bloco de Esquerda (BE), condenada ao "chumbo" desde o seu anúncio, há um mês. José Sócrates e o Governo só indirectamente responderam ao Presidente e ao seu diagnóstico de "verdade", arrasador para os socialistas. Chumbada esta moção, o cenário de uma nova moção mantém-se. Para os comunistas, disse ao PÚBLICO o líder parlamentar, Bernardino Soares, a moção "é um instrumento constitucional" de que o PCP não abdicará para "combater esta política" do Governo.

O debate da moção de ontem, "em defesa das gerações sacrificadas", começou com Francisco Louçã, líder do Bloco, a fazer a defesa de eleições antecipadas para responder à crise nacional e à "degradação continuada da política".

Por várias vezes, Louçã citou o discurso de Cavaco Silva, na véspera, e retirou conclusões. "No pântano, nem o Governo confia no Presidente nem o Presidente confia no Governo", disse Louçã, que, mais uma vez, justificou a censura com a clarificação de "quem governa" o país. E considera que - chumbada a moção - será nas manifestações que se irá ver a censura. "Se a moção de censura for recusada, ouçam o que dirá o país na rua, porque, onde está a democracia, ela vencerá."

Portas: "novo ciclo"

A resposta de Sócrates foi ideológica, tentando "sovar" o "radicalismo de esquerda" do BE. A moção dos "extremistas", como lhe chamou, não era só contra o Governo. "É também contra o interesse nacional." O interesse nacional que foi afectado, atirou, com o atraso do PSD em definir-se quanto ao sentido de voto.

A moção significa a vontade do Bloco para que "Portugal mergulhe numa crise política, que Portugal acrescente às suas actuais dificuldades económicas a instabilidade política e social" uma crise política, afirmou.

E Sócrates apontou cinco erros ao "radicalismo" da moção do Bloco: "irresponsabilidade", "imoderação", "demagogia", "sectarismo" e "arrogância intelectual". Além de se prestar a "fazer um jeito à direita".

Cavaco Silva pairou durante grande parte da tarde - Paulo Portas arriscou dizer que o discurso abriu "um novo ciclo político". Nem Sócrates nem Vieira da Silva, o ministro da Economia encarregue de encerrar o debate, disseram o seu nome. Mas contestaram os números que o Presidente levou para o discurso de posse, nomeadamente a "década perdida" de que falou Cavaco. O primeiro-ministro justificou-se, uma vez mais, com a crise económica mundial - ignorada por Cavaco - e lembrou que a taxa de pobreza caiu de 2004 a 2008. E que, antes de crise, Portugal estava a convergir com os restantes países da Europa - ao contrário do que tinha sido afirmado um dia antes.

Mais: os dados dos seis anos de governação não podem ser confundidos com os últimos dois. "Pretender estender esses resultados [dos anos de crise] a todos esses anos é errado e pouco sério", afirmou Sócrates.

A resposta era para Miguel Macedo. O líder parlamentar do PSD - indirectamente visada na moção de censura - acusou o Bloco de "matar a censura nas suas mãos" e de "dar ao Governo um pretexto de se vitimizar". Macedo não poupou críticas à iniciativa do BE: "É uma irrelevância, um frete e resulta em ricochete político para os autores." Apontando a falta de propostas de soluções, Macedo chamou-lhe uma "moção de megafone", que resultou da tentativa de o BE se demarcar da "pesada derrota" das presidenciais. Ao Governo o líder da bancada "laranja" somou os resultados da política dos últimos seis anos: "O país está mais empobrecido, tem mais dívida, mais défice, mais despesa, mais pobreza e mais desigualdade social." O Governo que comece "a governar" por que "tem todas as condições políticas" para "governar e cumprir o Orçamento".

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Em defesa do executivo saiu Francisco Assis. O líder parlamentar do PS alertou para a tentativa de "manipular a rua" contra as instituições democráticas. "Uma coisa é compreender o que dizem as pessoas e o seu sofrimento. Outra coisa é manipular a rua para a pôr contra o Parlamento", disse, lembrando que foi assim que começaram "alguns dos pesadelos do século XX".

Moção de confiança, não

Para Bernardino Soares, do PCP, o que o Governo quer é "um país ainda mais precário". Um país onde "o despedimento é baratinho, onde o contrato não é efectivo, à medida do patrão".

Na hora da votação, a moção bloquista foi chumbada com a abstenção do PSD e CDS, os votos contra do PS. PCP, PEV e BE votaram a favor. E ainda houve um episódio que motivou risos nas bancadas da oposição: um deputado socialista votou ao lado do BE. Mal acabou a reunião, a bancada foi rápida a informar os jornalistas que se tratara de um lapso da deputada Teresa Venda. No fim, aos jornalistas, Sócrates recusou a ideia de apresentar uma moção de confiança, dizendo que o Governo depende do Parlamento.

Bloco de Esquerda defende eleições antecipadas contra a degradação política. Sócrates respondeu indirectamente às críticas do Presidente. PCP mantém moção no horizonte

O discurso de posse de Cavaco Silva pairou ontem no debate de uma moção de censura do Bloco de Esquerda (BE), condenada ao "chumbo" desde o seu anúncio, há um mês. José Sócrates e o Governo só indirectamente responderam ao Presidente e ao seu diagnóstico de "verdade", arrasador para os socialistas. Chumbada esta moção, o cenário de uma nova moção mantém-se. Para os comunistas, disse ao PÚBLICO o líder parlamentar, Bernardino Soares, a moção "é um instrumento constitucional" de que o PCP não abdicará para "combater esta política" do Governo.

O debate da moção de ontem, "em defesa das gerações sacrificadas", começou com Francisco Louçã, líder do Bloco, a fazer a defesa de eleições antecipadas para responder à crise nacional e à "degradação continuada da política".

Por várias vezes, Louçã citou o discurso de Cavaco Silva, na véspera, e retirou conclusões. "No pântano, nem o Governo confia no Presidente nem o Presidente confia no Governo", disse Louçã, que, mais uma vez, justificou a censura com a clarificação de "quem governa" o país. E considera que - chumbada a moção - será nas manifestações que se irá ver a censura. "Se a moção de censura for recusada, ouçam o que dirá o país na rua, porque, onde está a democracia, ela vencerá."

Portas: "novo ciclo"

A resposta de Sócrates foi ideológica, tentando "sovar" o "radicalismo de esquerda" do BE. A moção dos "extremistas", como lhe chamou, não era só contra o Governo. "É também contra o interesse nacional." O interesse nacional que foi afectado, atirou, com o atraso do PSD em definir-se quanto ao sentido de voto.

A moção significa a vontade do Bloco para que "Portugal mergulhe numa crise política, que Portugal acrescente às suas actuais dificuldades económicas a instabilidade política e social" uma crise política, afirmou.

E Sócrates apontou cinco erros ao "radicalismo" da moção do Bloco: "irresponsabilidade", "imoderação", "demagogia", "sectarismo" e "arrogância intelectual". Além de se prestar a "fazer um jeito à direita".

Cavaco Silva pairou durante grande parte da tarde - Paulo Portas arriscou dizer que o discurso abriu "um novo ciclo político". Nem Sócrates nem Vieira da Silva, o ministro da Economia encarregue de encerrar o debate, disseram o seu nome. Mas contestaram os números que o Presidente levou para o discurso de posse, nomeadamente a "década perdida" de que falou Cavaco. O primeiro-ministro justificou-se, uma vez mais, com a crise económica mundial - ignorada por Cavaco - e lembrou que a taxa de pobreza caiu de 2004 a 2008. E que, antes de crise, Portugal estava a convergir com os restantes países da Europa - ao contrário do que tinha sido afirmado um dia antes.

Mais: os dados dos seis anos de governação não podem ser confundidos com os últimos dois. "Pretender estender esses resultados [dos anos de crise] a todos esses anos é errado e pouco sério", afirmou Sócrates.

A resposta era para Miguel Macedo. O líder parlamentar do PSD - indirectamente visada na moção de censura - acusou o Bloco de "matar a censura nas suas mãos" e de "dar ao Governo um pretexto de se vitimizar". Macedo não poupou críticas à iniciativa do BE: "É uma irrelevância, um frete e resulta em ricochete político para os autores." Apontando a falta de propostas de soluções, Macedo chamou-lhe uma "moção de megafone", que resultou da tentativa de o BE se demarcar da "pesada derrota" das presidenciais. Ao Governo o líder da bancada "laranja" somou os resultados da política dos últimos seis anos: "O país está mais empobrecido, tem mais dívida, mais défice, mais despesa, mais pobreza e mais desigualdade social." O Governo que comece "a governar" por que "tem todas as condições políticas" para "governar e cumprir o Orçamento".

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Em defesa do executivo saiu Francisco Assis. O líder parlamentar do PS alertou para a tentativa de "manipular a rua" contra as instituições democráticas. "Uma coisa é compreender o que dizem as pessoas e o seu sofrimento. Outra coisa é manipular a rua para a pôr contra o Parlamento", disse, lembrando que foi assim que começaram "alguns dos pesadelos do século XX".

Moção de confiança, não

Para Bernardino Soares, do PCP, o que o Governo quer é "um país ainda mais precário". Um país onde "o despedimento é baratinho, onde o contrato não é efectivo, à medida do patrão".

Na hora da votação, a moção bloquista foi chumbada com a abstenção do PSD e CDS, os votos contra do PS. PCP, PEV e BE votaram a favor. E ainda houve um episódio que motivou risos nas bancadas da oposição: um deputado socialista votou ao lado do BE. Mal acabou a reunião, a bancada foi rápida a informar os jornalistas que se tratara de um lapso da deputada Teresa Venda. No fim, aos jornalistas, Sócrates recusou a ideia de apresentar uma moção de confiança, dizendo que o Governo depende do Parlamento.

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