Blogue de Tiago Ildefonso: Os Chifres de Manuel Pinho

15-10-2009
marcar artigo


Actualização [2009-07-13]: A notícia de que Joe Berardo terá oferecido emprego ao ex-ministro Manuel Pinho é o "pretexto" ideal para aqui voltar, colmatando uma possível falha nesta entrada. acerca de algo que não terei deixado claro o suficiente quando aqui expressei o que penso sobre o incidente que Manuel Pinho protagonizou na Assembleia da República. A prová-lo, as dúvidas que já me tinham ficado e os 2 comentários (que aproveitarei também para esclarecer nalgumas das suas especificidades) que recebi acerca deste artigo . Não está nem nunca esteve em causa o valor profissional de Manuel Pinho para o cargo que desempenhava: não estou em condições de me pronunciar com grande margem de segurança, porque se é verdade que até acompanhei alguma actualidade referente a este ministro e ao seu ministério, também é certo que não me parece ser nada simples fazer uma avaliação do seu desempenho: se neste ministério houve muitas iniciativas "cabeça de cartaz" que acabaram arrojadas pelo chão (como foi o caso da Qimonda), menos verdade também não é que este ministro teve um mandato que claramente foi fustigado com a crise por todos os lados. E como sempre, nestas alturas temos os vários "especialistas" vir a terreno fazer as mais dispares avaliações (desde "já devia ter saído à três anos" até "é uma enorme perda para o país"). O que sempre esteve em causa neste meu artigo foi a questão de que quem ocupa um cargo destes nunca, jamais em tempo algum pode ter uma atitude como estas, que teve consequências em todas as frentes: os portugueses ficam com uma péssima imagem dos seus políticos, a Assembleia da República foi claramente desrespeitada, o país foi motivo de chacota internacional, o governo e especialmente Sócrates foram afectados (e aqui, a questão é a de um "jogador" que prejudica claramente a "equipa")...enfim: as consequências são tantas e tão óbvias que nem vale a pena continuar a enumerá-las. Se quisermos contra-argumentar este acidente dizendo que anda por aí muito incompetente (e não só na política...) que traz sempre consigo "muito boa educação e aparências"...plenamente de acordo: mas parecem-me ser duas questões completamente diferentes e independentes! E se nenhuma delas é admissível, claramente a falta de educação (nem que seja por uns momentos) detecta-se com maior facilidade: sobretudo sendo um dos cargos mais VIP para uma nação! Vai daí que seja "lei da vida" e "ordem natural das coisas" que ministros que andem por aí a fazer cornos (já para não falar nas ameaças que os acompanharam, a fazer fé nas declarações de Bernardino Soares que Manuel Pinho não desmentiu...) a outros deputados em plena Assembleia da República sejam mais facilmente "detectáveis como não apropriados para o cargo" do que outros menos competentes, mas que efectivamente pelo menos não nos andem por aí a envergonhar a todos! Para terminar esta contra análise, só tenho tudo a favor que a competência seja uma cultura...e vendo aqui ainda alguma utopia, ao menos que seja directamente proporcional à importância dos cargos, seja na política, seja em empresas, seja onde for! Outra questão pertinente: e que dizer de outros insultos, outros impropérios, e outras figuras controversas (especialmente) da política nacional que não se demitiram e/ou foram demitidas? Falou um dos meus leitores em Alberto João Jardim...e quanto a "figura polémica", falou muito bem: declarações completamente inadmissíveis como estas (e de memória, acrescentaria o "não queremos cá chineses nem indianos na ilha da Madeira"). Mas aqui o caso não é tão simples: a) estamos a falar do chefe de governo de uma região autónoma, que faça o que fizer, não tem o impacto de um ministro da república; b) raramente Alberto João visou alguém em particular (que tem mais impacto do que visar-se um grupo) de modo tão forte (como o fez Manuel Pinho); e muito menos com gestos (que obviamente, também têm mais impacto...) c) e já agora, também não o fez no pior local possível, na pior altura possível, e com toda a cobertura mediática sobre o evento onde se encontrava! d) a falta de educação e sentido de oportunidade são claramente menos discutíveis do que a competência. e) para quem não saiba, na maioria dos países democráticos ainda existe a figura de imunidade parlamentar: em suma, teve a sua origem entre outras coisas na resolução do potencial quebra-cabeças de os políticos começarem a mover processos judiciais uns aos outros na sequência da sua actividade parlamentar (que nem sempre decorre nos moldes de discussão mais pacíficos, como sabemos e compreenderemos até certo ponto...). Portanto, uma coisa é um político como Alberto João Jardim que sabe perfeitamente que o povo da Madeira não o penaliza por aí além pelo que possa dizer (especialmente, se o tom for de defesa à região autónoma); e sabe também Alberto João que pode não ganhar muitos amigos na restante esfera política; mas não são as suas declarações (mesmo mais as deploráveis) que põem em causa a sua legitimidade ao nível da lei legal...sobretudo, quando apesar da sua inadmissibilidade, as faz com a inteligência suficiente de não as focar. No caso de Manuel Pinho...não foi o facto de ter ameaçado Bernardino Soares que teria aquecido ou arrefecido a situação: foi mesmo a figura que fez e como a fez! Vai daí que espero ter deixado o meu ponto de vista claro (e a realidade que com ele bate certo): há uma grande diferença (sobretudo na prática) entre a figura de Manuel Pinho e outras figuras como as de Alberto João: porque na prática, o primeiro ficou de imediato em xeque (mate), e o segundo, ainda governará a Madeira por bem mais do que os mais de vinte anos que já leva! Em suma: não posso de maneira nenhuma pactuar com uma figura pública (e respectivas responsabilidades associadas) como Alberto João Jardim (que relembro, estou apenas a usar aqui como exemplo de comparação...)...ter declarações como "Há aqui uns bastardos na comunicação social do continente...eu digo bastardos para não ter que lhes chamar filhos da puta ..." (Diário de Notícias, 5 Junho 2005)". Mas a pergunta que deixo a quem se "escandaliza" com o ter havido dois pesos e duas medidas comparando por exemplo a cena de Manuel Pinho com outras cenas de (por exemplo) Alberto João Jardim...é: consequências? Para além do próprio se ter auto-manchado terrivelmente (ironicamente, até considero, na minha humilde opinião, que é uma pena: porque Alberto João tem outras características de bom político...e podia defender as suas fortes convicções de outro modo...), pergunto: quem faria, e o quê? Só vos posso dar razão na parte de muito boa gente que não se escandaliza com uns se escandalizar com outros...mas relembrando a diferença de "maneiras de estar na vida", Manuel Pinho demitiu-se voluntariamente. Alberto João creio que nem desculpas terá pedido...Fazer o quê? Lá volto a relembrar a existência da tal de imunidade parlamentar Outro aspecto que me chamaram a atenção foi para a definição de "simples" que caracterizou Manuel Pinho...bom: aqui só posso responder que a "simplicidade comunicativa" de Manuel Pinho pode-lhe ter valido muita crítica...mas da simplicidade à ofensa para mim vai um grande passo: e "aparentemente, "há mais quem" concorde comigo! Para terminar (e a ver se isto termina o melhor possível)...devo dizer que tenho uma grande (enorme) admiração por Joe Berardo. E ironia das ironias, se Joe Berardo teve a iniciativa de oferecer um emprego a Manuel Pinho na administração da sua fundação...pode ser que efectivamente, o que até pode ter sido um ministro competente (se Berardo o diz...quem sou eu!) venha ainda a recuperar o possível do tombo que deu com este incidente. E já agora, houve mais exemplos de solidariedade e/ou reconhecimento de obra feita para com o ex-ministro... Actualização [2009-07-03 04:06h]: Nesta entrevista dada à SIC notícias, Manuel Pinho acabou por sair-se bem a limpar o que ainda foi possível limpar da sua imagem após o incidente que protagonizou. Actualização [2009-07-02 22:34h]: Manuel Pinho provou afinal, no fim soube ter o tal "mínimo de dignidade": ao contrário do que chegou a sustentar antes (dizendo que tinha todas as condições para continuar...) o ministro demitiu-se. Foi o que fez de melhor, depois do episódio lamentável que protagonizou. Dou-lhe uma réstia de credibilidade e dignidade finais por rapidamente, conseguir reagir à altura do incidente que provocou. Uma palavra também para José Sócrates: esteve muito bem a reagir e a demarcar-se da atitude do seu ministro, considerando-a também de todo inadmissível (sim, outra coisa também não seria de esperar: mas mesmo assim, há certas coisas que convém sempre serem referidas...). (Só de cabeça...) Por ventura, os portugueses não estarão ainda esquecidos do "homem que gostava de malhar com especial prazer em certos sujeitos e sujeitas". Depois, também ficou célebre um tal de "avô cantigas versão peixeirada" (com muitos outros "atributos de duvidosa índole", como discuti aqui e aqui"); mas num partido como o PS, que durante este último mandato governativo deu uma imagem muito triste da quantidade de potenciais arruaceiros que emprega nas suas fileiras...elejo um deles como o supra-supremo do arruaceirismo: refiro-me (claro está) ao ministro da economia Manuel Pinho. Já não lhe bastando a infelicidade de querer andar por aí a patrocinar "papas com supostos efeitos de crescimento"...agora, vemos o ministro (supostamente obrigado a um mínimo de dignidade que o cargo lhe exige por definição) a responder aos seus adversários políticos dentro da assembleia da república (supostamente, local de eleição para se "dar o exemplo")...pasme-se: COM CORNOS! Não há desculpa possível nem para um acto destes, nem para a falta de inteligência (meu Deus: e foi este o homem que foi responsável por uma das mais importantes pastas ministeriais durante os últimos anos neste país...) de um político que sabendo do sítio de onde está, sabendo que está a ser filmado (ao contrário desta figura do PS que também ficou célebre, quando não sabia que estava a ser escutada), etc...etc...se põe a fazer esta triste figura perante um país inteiro (mais de metade do qual o elegeu). O seu pedido de desculpas (em voz contrastantemente pianinha, como registada e observada por muita comunicação social) definitivamente não chega: e se esta pessoa tivesse um mínimo de dignidade e responsabilidade que se exige a quem ocupa um cargo destes...nem precisaria de esperar que outrem abrisse sequer a boca, para pedir a sua demissão de forma voluntária (e imediata)! Não há desculpas para um acto destes: se ninguém é de ferro (e eu sou o primeiro a admiti-lo e a compreendê-lo), há limites e há responsabilidades a que não se pode fugir, sobre a pena de no mínimo se perder toda e qualquer credibilidade suposta e/ou adquirida. Porque quando os direitos roçam a estupidez e o absoluto descontrolo, há consequências que são inevitáveis. E também não me venham com desculpas que "o desespero era grande, porque eram empregos, porque passamos noites sem dormir, porque etc...": isto seria do bom e do bonito se todas as pessoas que têm que tomar decisões difíceis ou se encontram no meio de processos complicados...começassem agora a enveredar por caminhos com chifres e sabe-se lá o que mais viria de seguida! Afinal, onde é que a má educação e má formação (por exemplo, já que o pano de fundo eram empregos: a empresários. que em várias situações terão de se preocupar com bem mais que 100, 200 ou 300 empregos que sejam!) servem de desculpa para justificar resposta a outrem? E quanto a resolver as coisas, resolvem alguma coisa? Mas este homem é mesmo um caso perdido: quem esteve atento, ainda terá reparado na expressão "safar empregos"...não, sr. ministro: nem a dizer que "o ofenderam quando andava a safar empregos" vai apagar a péssima imagem que deixou hoje perante o seu país. E depois, pedem aos portugueses que acreditem nos políticos...é que no meio de "erros infantis" (como já apontei vários a José Sócrates), de "discursos tipicamente bem agressivos" (leia-se: Bloco/Louça), e de outras situações mais discutíveis para quem vai acompanhando minimamente a política nacional...francamente, não tenho memória de uma personagem como Manuel Pinho! Ironia final: foi mesmo Augusto Santos Silva (o tal que gosta de malhar em tudo e mais alguma coisa...) a ter de pedir desculpas também aos políticos e grupos parlamentares potencialmente visados pelo sr. Manuel Pinho. E vou-me ficar por aqui: este ministro da economia já terá os seus dias de político mais que contados...para a história (e em todos os recantos da Internet), só restará mesmo a sua triste figura em fotografia e vídeo, este último que apresento de seguida. Já será castigo suficiente para Manuel Pinho e vergonha mais que suficiente para a democracia portuguesa: não vale a pena sequer dizer mais nada. Os cornos do ministro Manuel Pinho: Fontes de informação:[2009-07-04] Bernardino Soares diz que foi ameaçado por Pinho: "Tu estás tramado!" [2009-07-03 22:41h] Bernardino Soares conta que Pinho o ameaçou [2009-07-03] Gesto de Manuel Pinho na primeira página da imprensa espanhola [2009-07-03] Eu show Pinho [2009-07-03] Pinho ao i: Os corninhos "não eram para Louçã, eram para Bernardino" [2009-07-02] Pinho: "Há uma sensação de impunidade que atrasa o progresso do país" [2009-07-02] Manuel Pinho: "Fiquei muito ferido" com as "graçolas" do PCP [2009-07-02] El País: Pinho sai por «llamar cornudo a un diputado» [2009-07-02] El ministro de Economía de Portugal dimite tras llamar cornudo a un diputado [2009-07-02] Basílio Horta: demissão de Pinho não altera lealdade da aicep [2009-07-02] Confederação do Turismo diz não ser afectada com demissão de Pinho [2009-07-02] Associação Empresarial Portuguesa lamenta demissão de Manuel Pinho [2009-07-02] Demissão de Pinho é o segundo afastamento de ministro por incidentes embaraçosos [2009-07-02] Manuel Pinho: as gaffes do ex-ministro [2009-07-02] Nogueira Leite e Manuela Arcanjo: Pinho foi bom ministro mas teve má imagem política [2009-07-02] Confederação das Indústrias Portuguesas elogia trabalho feito por Manuel Pinho [2009-07-02] Manuel Pinho forçado a demitir-se, acredita politólogo [2009-07-02] Demissão de Manuel Pinho origina sexta mudança no actual governo [2009-07-02] CDS: demissão do ministro da Economia foi consequência natural [2009-07-02] BE: demissão de Pinho era inevitável e demonstra desorientação do governo [2009-07-02] Paulo Rangel diz que demissão de Manuel Pinho “era a solução natural” [2009-07-02] Manuel Pinho demite-se. Sócrates diz que "nada justifica o gesto" [2009-07-02] PCP afirma que demissão de Pinho mostra "desnorte" do Executivo [2009-07-02] António Costa Pinto diz que demissão de ministro resulta de "clássico erro de performance" [2009-07-02] Bloco de Esquerda diz que Pinho deveria pedir desculpa perante a Assembleia [2009-07-02] Pinho sai do plenário e reúne-se com ministros a Presidência e os Assuntos Parlamentares [2009-07-02] PCP diz que insulto de Pinho é mais uma razão para ministro abandonar governo [2009-07-02] Portas pede a Sócrates que se demarque de gesto de Manuel Pinho perante deputados [2009-07-02] Sócrates pede desculpa e diz que acto de Manuel Pinho foi "injustificável" [2009-07-02] Este gesto valeu a demissão de Manuel Pinho - vídeo [2009-07-02] Manuel Pinho insulta Bernardino Soares - vídeo [2009-07-02] Manuel Pinho: "Excedi-me, pedi desculpa" [2009-02-05 20:41h] "Malhar na Oposição" é prioridade de Santos Silva

Icerocket (ligações)
Technorati (ligações)


Actualização [2009-07-13]: A notícia de que Joe Berardo terá oferecido emprego ao ex-ministro Manuel Pinho é o "pretexto" ideal para aqui voltar, colmatando uma possível falha nesta entrada. acerca de algo que não terei deixado claro o suficiente quando aqui expressei o que penso sobre o incidente que Manuel Pinho protagonizou na Assembleia da República. A prová-lo, as dúvidas que já me tinham ficado e os 2 comentários (que aproveitarei também para esclarecer nalgumas das suas especificidades) que recebi acerca deste artigo . Não está nem nunca esteve em causa o valor profissional de Manuel Pinho para o cargo que desempenhava: não estou em condições de me pronunciar com grande margem de segurança, porque se é verdade que até acompanhei alguma actualidade referente a este ministro e ao seu ministério, também é certo que não me parece ser nada simples fazer uma avaliação do seu desempenho: se neste ministério houve muitas iniciativas "cabeça de cartaz" que acabaram arrojadas pelo chão (como foi o caso da Qimonda), menos verdade também não é que este ministro teve um mandato que claramente foi fustigado com a crise por todos os lados. E como sempre, nestas alturas temos os vários "especialistas" vir a terreno fazer as mais dispares avaliações (desde "já devia ter saído à três anos" até "é uma enorme perda para o país"). O que sempre esteve em causa neste meu artigo foi a questão de que quem ocupa um cargo destes nunca, jamais em tempo algum pode ter uma atitude como estas, que teve consequências em todas as frentes: os portugueses ficam com uma péssima imagem dos seus políticos, a Assembleia da República foi claramente desrespeitada, o país foi motivo de chacota internacional, o governo e especialmente Sócrates foram afectados (e aqui, a questão é a de um "jogador" que prejudica claramente a "equipa")...enfim: as consequências são tantas e tão óbvias que nem vale a pena continuar a enumerá-las. Se quisermos contra-argumentar este acidente dizendo que anda por aí muito incompetente (e não só na política...) que traz sempre consigo "muito boa educação e aparências"...plenamente de acordo: mas parecem-me ser duas questões completamente diferentes e independentes! E se nenhuma delas é admissível, claramente a falta de educação (nem que seja por uns momentos) detecta-se com maior facilidade: sobretudo sendo um dos cargos mais VIP para uma nação! Vai daí que seja "lei da vida" e "ordem natural das coisas" que ministros que andem por aí a fazer cornos (já para não falar nas ameaças que os acompanharam, a fazer fé nas declarações de Bernardino Soares que Manuel Pinho não desmentiu...) a outros deputados em plena Assembleia da República sejam mais facilmente "detectáveis como não apropriados para o cargo" do que outros menos competentes, mas que efectivamente pelo menos não nos andem por aí a envergonhar a todos! Para terminar esta contra análise, só tenho tudo a favor que a competência seja uma cultura...e vendo aqui ainda alguma utopia, ao menos que seja directamente proporcional à importância dos cargos, seja na política, seja em empresas, seja onde for! Outra questão pertinente: e que dizer de outros insultos, outros impropérios, e outras figuras controversas (especialmente) da política nacional que não se demitiram e/ou foram demitidas? Falou um dos meus leitores em Alberto João Jardim...e quanto a "figura polémica", falou muito bem: declarações completamente inadmissíveis como estas (e de memória, acrescentaria o "não queremos cá chineses nem indianos na ilha da Madeira"). Mas aqui o caso não é tão simples: a) estamos a falar do chefe de governo de uma região autónoma, que faça o que fizer, não tem o impacto de um ministro da república; b) raramente Alberto João visou alguém em particular (que tem mais impacto do que visar-se um grupo) de modo tão forte (como o fez Manuel Pinho); e muito menos com gestos (que obviamente, também têm mais impacto...) c) e já agora, também não o fez no pior local possível, na pior altura possível, e com toda a cobertura mediática sobre o evento onde se encontrava! d) a falta de educação e sentido de oportunidade são claramente menos discutíveis do que a competência. e) para quem não saiba, na maioria dos países democráticos ainda existe a figura de imunidade parlamentar: em suma, teve a sua origem entre outras coisas na resolução do potencial quebra-cabeças de os políticos começarem a mover processos judiciais uns aos outros na sequência da sua actividade parlamentar (que nem sempre decorre nos moldes de discussão mais pacíficos, como sabemos e compreenderemos até certo ponto...). Portanto, uma coisa é um político como Alberto João Jardim que sabe perfeitamente que o povo da Madeira não o penaliza por aí além pelo que possa dizer (especialmente, se o tom for de defesa à região autónoma); e sabe também Alberto João que pode não ganhar muitos amigos na restante esfera política; mas não são as suas declarações (mesmo mais as deploráveis) que põem em causa a sua legitimidade ao nível da lei legal...sobretudo, quando apesar da sua inadmissibilidade, as faz com a inteligência suficiente de não as focar. No caso de Manuel Pinho...não foi o facto de ter ameaçado Bernardino Soares que teria aquecido ou arrefecido a situação: foi mesmo a figura que fez e como a fez! Vai daí que espero ter deixado o meu ponto de vista claro (e a realidade que com ele bate certo): há uma grande diferença (sobretudo na prática) entre a figura de Manuel Pinho e outras figuras como as de Alberto João: porque na prática, o primeiro ficou de imediato em xeque (mate), e o segundo, ainda governará a Madeira por bem mais do que os mais de vinte anos que já leva! Em suma: não posso de maneira nenhuma pactuar com uma figura pública (e respectivas responsabilidades associadas) como Alberto João Jardim (que relembro, estou apenas a usar aqui como exemplo de comparação...)...ter declarações como "Há aqui uns bastardos na comunicação social do continente...eu digo bastardos para não ter que lhes chamar filhos da puta ..." (Diário de Notícias, 5 Junho 2005)". Mas a pergunta que deixo a quem se "escandaliza" com o ter havido dois pesos e duas medidas comparando por exemplo a cena de Manuel Pinho com outras cenas de (por exemplo) Alberto João Jardim...é: consequências? Para além do próprio se ter auto-manchado terrivelmente (ironicamente, até considero, na minha humilde opinião, que é uma pena: porque Alberto João tem outras características de bom político...e podia defender as suas fortes convicções de outro modo...), pergunto: quem faria, e o quê? Só vos posso dar razão na parte de muito boa gente que não se escandaliza com uns se escandalizar com outros...mas relembrando a diferença de "maneiras de estar na vida", Manuel Pinho demitiu-se voluntariamente. Alberto João creio que nem desculpas terá pedido...Fazer o quê? Lá volto a relembrar a existência da tal de imunidade parlamentar Outro aspecto que me chamaram a atenção foi para a definição de "simples" que caracterizou Manuel Pinho...bom: aqui só posso responder que a "simplicidade comunicativa" de Manuel Pinho pode-lhe ter valido muita crítica...mas da simplicidade à ofensa para mim vai um grande passo: e "aparentemente, "há mais quem" concorde comigo! Para terminar (e a ver se isto termina o melhor possível)...devo dizer que tenho uma grande (enorme) admiração por Joe Berardo. E ironia das ironias, se Joe Berardo teve a iniciativa de oferecer um emprego a Manuel Pinho na administração da sua fundação...pode ser que efectivamente, o que até pode ter sido um ministro competente (se Berardo o diz...quem sou eu!) venha ainda a recuperar o possível do tombo que deu com este incidente. E já agora, houve mais exemplos de solidariedade e/ou reconhecimento de obra feita para com o ex-ministro... Actualização [2009-07-03 04:06h]: Nesta entrevista dada à SIC notícias, Manuel Pinho acabou por sair-se bem a limpar o que ainda foi possível limpar da sua imagem após o incidente que protagonizou. Actualização [2009-07-02 22:34h]: Manuel Pinho provou afinal, no fim soube ter o tal "mínimo de dignidade": ao contrário do que chegou a sustentar antes (dizendo que tinha todas as condições para continuar...) o ministro demitiu-se. Foi o que fez de melhor, depois do episódio lamentável que protagonizou. Dou-lhe uma réstia de credibilidade e dignidade finais por rapidamente, conseguir reagir à altura do incidente que provocou. Uma palavra também para José Sócrates: esteve muito bem a reagir e a demarcar-se da atitude do seu ministro, considerando-a também de todo inadmissível (sim, outra coisa também não seria de esperar: mas mesmo assim, há certas coisas que convém sempre serem referidas...). (Só de cabeça...) Por ventura, os portugueses não estarão ainda esquecidos do "homem que gostava de malhar com especial prazer em certos sujeitos e sujeitas". Depois, também ficou célebre um tal de "avô cantigas versão peixeirada" (com muitos outros "atributos de duvidosa índole", como discuti aqui e aqui"); mas num partido como o PS, que durante este último mandato governativo deu uma imagem muito triste da quantidade de potenciais arruaceiros que emprega nas suas fileiras...elejo um deles como o supra-supremo do arruaceirismo: refiro-me (claro está) ao ministro da economia Manuel Pinho. Já não lhe bastando a infelicidade de querer andar por aí a patrocinar "papas com supostos efeitos de crescimento"...agora, vemos o ministro (supostamente obrigado a um mínimo de dignidade que o cargo lhe exige por definição) a responder aos seus adversários políticos dentro da assembleia da república (supostamente, local de eleição para se "dar o exemplo")...pasme-se: COM CORNOS! Não há desculpa possível nem para um acto destes, nem para a falta de inteligência (meu Deus: e foi este o homem que foi responsável por uma das mais importantes pastas ministeriais durante os últimos anos neste país...) de um político que sabendo do sítio de onde está, sabendo que está a ser filmado (ao contrário desta figura do PS que também ficou célebre, quando não sabia que estava a ser escutada), etc...etc...se põe a fazer esta triste figura perante um país inteiro (mais de metade do qual o elegeu). O seu pedido de desculpas (em voz contrastantemente pianinha, como registada e observada por muita comunicação social) definitivamente não chega: e se esta pessoa tivesse um mínimo de dignidade e responsabilidade que se exige a quem ocupa um cargo destes...nem precisaria de esperar que outrem abrisse sequer a boca, para pedir a sua demissão de forma voluntária (e imediata)! Não há desculpas para um acto destes: se ninguém é de ferro (e eu sou o primeiro a admiti-lo e a compreendê-lo), há limites e há responsabilidades a que não se pode fugir, sobre a pena de no mínimo se perder toda e qualquer credibilidade suposta e/ou adquirida. Porque quando os direitos roçam a estupidez e o absoluto descontrolo, há consequências que são inevitáveis. E também não me venham com desculpas que "o desespero era grande, porque eram empregos, porque passamos noites sem dormir, porque etc...": isto seria do bom e do bonito se todas as pessoas que têm que tomar decisões difíceis ou se encontram no meio de processos complicados...começassem agora a enveredar por caminhos com chifres e sabe-se lá o que mais viria de seguida! Afinal, onde é que a má educação e má formação (por exemplo, já que o pano de fundo eram empregos: a empresários. que em várias situações terão de se preocupar com bem mais que 100, 200 ou 300 empregos que sejam!) servem de desculpa para justificar resposta a outrem? E quanto a resolver as coisas, resolvem alguma coisa? Mas este homem é mesmo um caso perdido: quem esteve atento, ainda terá reparado na expressão "safar empregos"...não, sr. ministro: nem a dizer que "o ofenderam quando andava a safar empregos" vai apagar a péssima imagem que deixou hoje perante o seu país. E depois, pedem aos portugueses que acreditem nos políticos...é que no meio de "erros infantis" (como já apontei vários a José Sócrates), de "discursos tipicamente bem agressivos" (leia-se: Bloco/Louça), e de outras situações mais discutíveis para quem vai acompanhando minimamente a política nacional...francamente, não tenho memória de uma personagem como Manuel Pinho! Ironia final: foi mesmo Augusto Santos Silva (o tal que gosta de malhar em tudo e mais alguma coisa...) a ter de pedir desculpas também aos políticos e grupos parlamentares potencialmente visados pelo sr. Manuel Pinho. E vou-me ficar por aqui: este ministro da economia já terá os seus dias de político mais que contados...para a história (e em todos os recantos da Internet), só restará mesmo a sua triste figura em fotografia e vídeo, este último que apresento de seguida. Já será castigo suficiente para Manuel Pinho e vergonha mais que suficiente para a democracia portuguesa: não vale a pena sequer dizer mais nada. Os cornos do ministro Manuel Pinho: Fontes de informação:[2009-07-04] Bernardino Soares diz que foi ameaçado por Pinho: "Tu estás tramado!" [2009-07-03 22:41h] Bernardino Soares conta que Pinho o ameaçou [2009-07-03] Gesto de Manuel Pinho na primeira página da imprensa espanhola [2009-07-03] Eu show Pinho [2009-07-03] Pinho ao i: Os corninhos "não eram para Louçã, eram para Bernardino" [2009-07-02] Pinho: "Há uma sensação de impunidade que atrasa o progresso do país" [2009-07-02] Manuel Pinho: "Fiquei muito ferido" com as "graçolas" do PCP [2009-07-02] El País: Pinho sai por «llamar cornudo a un diputado» [2009-07-02] El ministro de Economía de Portugal dimite tras llamar cornudo a un diputado [2009-07-02] Basílio Horta: demissão de Pinho não altera lealdade da aicep [2009-07-02] Confederação do Turismo diz não ser afectada com demissão de Pinho [2009-07-02] Associação Empresarial Portuguesa lamenta demissão de Manuel Pinho [2009-07-02] Demissão de Pinho é o segundo afastamento de ministro por incidentes embaraçosos [2009-07-02] Manuel Pinho: as gaffes do ex-ministro [2009-07-02] Nogueira Leite e Manuela Arcanjo: Pinho foi bom ministro mas teve má imagem política [2009-07-02] Confederação das Indústrias Portuguesas elogia trabalho feito por Manuel Pinho [2009-07-02] Manuel Pinho forçado a demitir-se, acredita politólogo [2009-07-02] Demissão de Manuel Pinho origina sexta mudança no actual governo [2009-07-02] CDS: demissão do ministro da Economia foi consequência natural [2009-07-02] BE: demissão de Pinho era inevitável e demonstra desorientação do governo [2009-07-02] Paulo Rangel diz que demissão de Manuel Pinho “era a solução natural” [2009-07-02] Manuel Pinho demite-se. Sócrates diz que "nada justifica o gesto" [2009-07-02] PCP afirma que demissão de Pinho mostra "desnorte" do Executivo [2009-07-02] António Costa Pinto diz que demissão de ministro resulta de "clássico erro de performance" [2009-07-02] Bloco de Esquerda diz que Pinho deveria pedir desculpa perante a Assembleia [2009-07-02] Pinho sai do plenário e reúne-se com ministros a Presidência e os Assuntos Parlamentares [2009-07-02] PCP diz que insulto de Pinho é mais uma razão para ministro abandonar governo [2009-07-02] Portas pede a Sócrates que se demarque de gesto de Manuel Pinho perante deputados [2009-07-02] Sócrates pede desculpa e diz que acto de Manuel Pinho foi "injustificável" [2009-07-02] Este gesto valeu a demissão de Manuel Pinho - vídeo [2009-07-02] Manuel Pinho insulta Bernardino Soares - vídeo [2009-07-02] Manuel Pinho: "Excedi-me, pedi desculpa" [2009-02-05 20:41h] "Malhar na Oposição" é prioridade de Santos Silva

Icerocket (ligações)
Technorati (ligações)

marcar artigo