o franco atirador: Os portugueses (retratos-robô): Armindo.

01-06-2020
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Um metro e setenta, oitenta e três quilos, quarenta e oito anos, bacharelato em económicas, casado, um filho de desanove e uma filha de vinte e quatro anos, apartamento de cinco divisões em Benfica, BMW Série 3, segunda casa perto de Leiria. Armindo é sócio do SLB e frequentador do café “Arabesco”. Há um grupo de amigos no bairro, com quem vai ocasionalmente ao futebol. A mulher é professora primária, os filhos estudam arquitectura e comunicação social. Armindo tem uma pequena empresa de contabilidade, no Conde Redondo. Uma ou duas vezes por semana fica a trabalhar até tarde, e no final de cada trimestre perde um domingo. Já acompanhou clientes ao Elefante Branco e ao Gallery, mas nunca consumiu - com excepção de uma preta que lhe custou cem contos em moeda antiga, mas foi a foda do século, com direito aos três pratos, embora sem recibo. Tem alguma pena que as putas não façam retenção na fonte, pois poderiam pagar-lhe em géneros. Nas noites em que fazia serão acontecia-lhe passar com certo alheamento pelo Parque Eduardo VII, onde metia no carro o Raúl, quando estava livre, ou o pequeno Bernardo, que tinha nome de beto mas era do Casal Ventoso - embora as feições trigueiras e o cabelo à surfista não desmerecessem a baía de Cascais. Preferia o Raúl, porque era mais velhinho: como contabilista não lhe convinha ser acusado de cometer ilegalidades, já bastava o que bastava. Nessa altura ficou a saber muito da vida dos deputados e dos ministros. Quando começou o processo Casa Pia, deixou-se de aventuras. Não acreditava que os miúdos se traumatizavam por causa de uma mamada - mas cautela e caldos de galinha, como dizia a sua mãe. Agora fica pelo Conde Redondo e guarda o telemóvel de dois ou três travestis a quem dá umas pinocadas quando lhe apetece. No fim de contas, são umas boas enrabadelas, sempre com preservativo (elas exigem!) e de costas viradas para a parede, pois nunca gostou de paneleiragens. É católico não praticante, alinha com o PSD e diz que vota em Cavaco Silva, para pôr na ordem esta bandalheira. Nota: começa aqui uma série dedicada ao retrato-robô dos portugueses típicos. Espero que gostem.

Um metro e setenta, oitenta e três quilos, quarenta e oito anos, bacharelato em económicas, casado, um filho de desanove e uma filha de vinte e quatro anos, apartamento de cinco divisões em Benfica, BMW Série 3, segunda casa perto de Leiria. Armindo é sócio do SLB e frequentador do café “Arabesco”. Há um grupo de amigos no bairro, com quem vai ocasionalmente ao futebol. A mulher é professora primária, os filhos estudam arquitectura e comunicação social. Armindo tem uma pequena empresa de contabilidade, no Conde Redondo. Uma ou duas vezes por semana fica a trabalhar até tarde, e no final de cada trimestre perde um domingo. Já acompanhou clientes ao Elefante Branco e ao Gallery, mas nunca consumiu - com excepção de uma preta que lhe custou cem contos em moeda antiga, mas foi a foda do século, com direito aos três pratos, embora sem recibo. Tem alguma pena que as putas não façam retenção na fonte, pois poderiam pagar-lhe em géneros. Nas noites em que fazia serão acontecia-lhe passar com certo alheamento pelo Parque Eduardo VII, onde metia no carro o Raúl, quando estava livre, ou o pequeno Bernardo, que tinha nome de beto mas era do Casal Ventoso - embora as feições trigueiras e o cabelo à surfista não desmerecessem a baía de Cascais. Preferia o Raúl, porque era mais velhinho: como contabilista não lhe convinha ser acusado de cometer ilegalidades, já bastava o que bastava. Nessa altura ficou a saber muito da vida dos deputados e dos ministros. Quando começou o processo Casa Pia, deixou-se de aventuras. Não acreditava que os miúdos se traumatizavam por causa de uma mamada - mas cautela e caldos de galinha, como dizia a sua mãe. Agora fica pelo Conde Redondo e guarda o telemóvel de dois ou três travestis a quem dá umas pinocadas quando lhe apetece. No fim de contas, são umas boas enrabadelas, sempre com preservativo (elas exigem!) e de costas viradas para a parede, pois nunca gostou de paneleiragens. É católico não praticante, alinha com o PSD e diz que vota em Cavaco Silva, para pôr na ordem esta bandalheira. Nota: começa aqui uma série dedicada ao retrato-robô dos portugueses típicos. Espero que gostem.

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