Um santuário único na Europa

08-06-2011
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É um esforço de conservação singular na União Europeia. Quando apenas um por cento dos oceanos tem algum estatuto de protecção, nos Açores, quatro por cento dos fundos marinhos vão ser parque marinho. O peixe-relógio vai poder voltar a chegar aos 150 anos

A riqueza marinha dos Açores não se esgota nas baleias-azuis e nos golfinhos. Jardins de corais frios, peixes-relógio que podem viver até aos 150 anos e fontes hidrotermais são tesouros escondidos nas águas do arquipélago que vão passar a ter santuários onde viver agora que a criação do Parque Marinho dos Açores, um esforço de conservação único na União Europeia, está prestes a sair do papel.

Uma rede de 11 áreas marinhas protegidas, que abrangerá quatro por cento dos fundos marinhos da região, visa proteger directamente e estudar os jardins de corais frios, com até quatro mil anos de idade, as fontes hidrotermais e as espécies que lá vivem, bem como o peixe-relógio, ameaçado pela pesca. Indirectamente, a rede protegerá toda a vida na zona.

Ricardo Serrão Santos, director do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, acompanhou desde o início o processo de criação do Parque Marinho, previsto desde 2007 num decreto-legislativo regional e agora em discussão na assembleia legislativa açoriana. "Esta iniciativa é muito abrangente e dá substância às áreas marinhas propostas desde 2002", diz ao P2 .

No ano passado ficou terminado o esboço da rede das 11 áreas marinhas do arquipélago, reconhecidas por convenções internacionais e escolhidas com base nos critérios da União Mundial da Conservação da Natureza (UICN, sigla em inglês). Na lista estão as fontes hidrotermais de profundidade - Lucky Strike, Menez Gwuen e Rainbow -, assim como os montes submarinos Sedlo, Altair, Antialtair e a área marinha Marna.

Alguns dos locais estão situados fora das 200 milhas da zona económica exclusiva açoriana e já em águas internacionais, ainda que perto do arquipélago. Nestes casos, o governo regional teve de pedir jurisdição, algo que foi aceite pela Comissão Internacional Oslo-Paris (OSPAR). Este esforço de protecção dos valores marinhos é tão mais importante se se pensar que, actualmente, apenas um por cento dos oceanos tem algum estatuto de protecção.

A 1800 metros

São as negociações a decorrer à superfície. Lá em baixo, a uma profundidade entre os 800 e os 1800 metros, o peixe-relógio () espera "luz verde" para que o parque marinho entre em vigor. Esta espécie de peixe de águas profundas vive com temperaturas entre os 3 e os 9 graus Célsius, pode pesar até sete quilos e é muito procurada pelas redes de pesca. A sua extrema vulnerabilidade à sobreexploração explica-se com um crescimento lento e uma maturidade tardia, aumentado as hipóteses de ser capturado antes de chegar a reproduzir-se.

Uma das formas de o ajudar é proteger o monte submarino Sedlo, onde vive, a cem milhas da ilha da Graciosa. "Este local tem importantes populações de espécies de peixes de profundidade, como o peixe-relógio, que tem sido dizimada pela pesca. Aqui, a protecção é integral", diz Ricardo Serrão Santos, sublinhando que, ainda assim, nos Açores "estas zonas ainda estão relativamente bem preservadas porque há algum tempo que está proibida a pesca de arrasto em profundidade".

À superfície do monte Sedlo ocorrem baleias-comuns (Balaenoptera physalus), cachalotes (Physeter macrocephalus), aves marinhas como o cagarro (Calonectris diomedea borealis) e a pardela-de-bico preto (Puffinus gravis). O especialista salienta que a criação do parque marinho vai ajudar a conservar maciços de esponjas e recifes, baleias e golfinhos, aves marinhas e tartarugas. O objectivo será fazer a gestão das áreas e corredores de passagem com importância para a migração, alimentação e reprodução das espécies que ali vivem.

De início, a rede de 11 áreas protegidas apenas vai proteger quatro por cento dos fundos marinhos da região dos Açores. "É um primeiro passo e um começo estratégico. Mas a rede pode vir a ser alargada com a integração de outras áreas marinhas. Há abertura para integrar novas áreas e expandir a rede", adianta.

"Aqui não se trata de impedir o desenvolvimento de actividades, mas geri-las deforma sustentável."

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Gerir, fiscalizarFrederico Cardigos, director regional para os Assuntos do Mar, explicou ao P2 em Março que a direcção do "parque marinho vai pensar todas estas áreas do ponto de vista da conservação da natureza". Os objectivos de gestão, monitorização e fiscalização serão conseguidos através de convénios com várias instituições, como, por exemplo, a Universidade dos Açores. "A direcção regional vai fazer a coordenação e auxiliar a fiscalização, integrando as diferentes equipas no terreno", explicou. Frederico Cardigos contará com as imagens de satélite sobre o mar dos Açores, que incluem a medição da temperatura da água, a produção de matéria orgânica à superfície e a identificação de eventuais derrames de hidrocarbonetos, e que permitirão caracterizar o mar dos Açores e até que ponto este consegue suportar a sua biodiversidade.

O diploma determina diferentes níveis de protecção, acrescentou o responsável. Nas áreas que forem reservas naturais haverá uma gestão mais rigorosa, mas outras serão "absolutamente permissivas". "O que é fulcral é conseguirmos responder aos desígnios que presidiram à sua criação."

Actualmente, a proposta de decreto legislativo regional que estrutura o parque marinho está na fase final e encontra-se em apreciação pela Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Em Julho, deverá ser votada no plenário da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

É um esforço de conservação singular na União Europeia. Quando apenas um por cento dos oceanos tem algum estatuto de protecção, nos Açores, quatro por cento dos fundos marinhos vão ser parque marinho. O peixe-relógio vai poder voltar a chegar aos 150 anos

A riqueza marinha dos Açores não se esgota nas baleias-azuis e nos golfinhos. Jardins de corais frios, peixes-relógio que podem viver até aos 150 anos e fontes hidrotermais são tesouros escondidos nas águas do arquipélago que vão passar a ter santuários onde viver agora que a criação do Parque Marinho dos Açores, um esforço de conservação único na União Europeia, está prestes a sair do papel.

Uma rede de 11 áreas marinhas protegidas, que abrangerá quatro por cento dos fundos marinhos da região, visa proteger directamente e estudar os jardins de corais frios, com até quatro mil anos de idade, as fontes hidrotermais e as espécies que lá vivem, bem como o peixe-relógio, ameaçado pela pesca. Indirectamente, a rede protegerá toda a vida na zona.

Ricardo Serrão Santos, director do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, acompanhou desde o início o processo de criação do Parque Marinho, previsto desde 2007 num decreto-legislativo regional e agora em discussão na assembleia legislativa açoriana. "Esta iniciativa é muito abrangente e dá substância às áreas marinhas propostas desde 2002", diz ao P2 .

No ano passado ficou terminado o esboço da rede das 11 áreas marinhas do arquipélago, reconhecidas por convenções internacionais e escolhidas com base nos critérios da União Mundial da Conservação da Natureza (UICN, sigla em inglês). Na lista estão as fontes hidrotermais de profundidade - Lucky Strike, Menez Gwuen e Rainbow -, assim como os montes submarinos Sedlo, Altair, Antialtair e a área marinha Marna.

Alguns dos locais estão situados fora das 200 milhas da zona económica exclusiva açoriana e já em águas internacionais, ainda que perto do arquipélago. Nestes casos, o governo regional teve de pedir jurisdição, algo que foi aceite pela Comissão Internacional Oslo-Paris (OSPAR). Este esforço de protecção dos valores marinhos é tão mais importante se se pensar que, actualmente, apenas um por cento dos oceanos tem algum estatuto de protecção.

A 1800 metros

São as negociações a decorrer à superfície. Lá em baixo, a uma profundidade entre os 800 e os 1800 metros, o peixe-relógio () espera "luz verde" para que o parque marinho entre em vigor. Esta espécie de peixe de águas profundas vive com temperaturas entre os 3 e os 9 graus Célsius, pode pesar até sete quilos e é muito procurada pelas redes de pesca. A sua extrema vulnerabilidade à sobreexploração explica-se com um crescimento lento e uma maturidade tardia, aumentado as hipóteses de ser capturado antes de chegar a reproduzir-se.

Uma das formas de o ajudar é proteger o monte submarino Sedlo, onde vive, a cem milhas da ilha da Graciosa. "Este local tem importantes populações de espécies de peixes de profundidade, como o peixe-relógio, que tem sido dizimada pela pesca. Aqui, a protecção é integral", diz Ricardo Serrão Santos, sublinhando que, ainda assim, nos Açores "estas zonas ainda estão relativamente bem preservadas porque há algum tempo que está proibida a pesca de arrasto em profundidade".

À superfície do monte Sedlo ocorrem baleias-comuns (Balaenoptera physalus), cachalotes (Physeter macrocephalus), aves marinhas como o cagarro (Calonectris diomedea borealis) e a pardela-de-bico preto (Puffinus gravis). O especialista salienta que a criação do parque marinho vai ajudar a conservar maciços de esponjas e recifes, baleias e golfinhos, aves marinhas e tartarugas. O objectivo será fazer a gestão das áreas e corredores de passagem com importância para a migração, alimentação e reprodução das espécies que ali vivem.

De início, a rede de 11 áreas protegidas apenas vai proteger quatro por cento dos fundos marinhos da região dos Açores. "É um primeiro passo e um começo estratégico. Mas a rede pode vir a ser alargada com a integração de outras áreas marinhas. Há abertura para integrar novas áreas e expandir a rede", adianta.

"Aqui não se trata de impedir o desenvolvimento de actividades, mas geri-las deforma sustentável."

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Gerir, fiscalizarFrederico Cardigos, director regional para os Assuntos do Mar, explicou ao P2 em Março que a direcção do "parque marinho vai pensar todas estas áreas do ponto de vista da conservação da natureza". Os objectivos de gestão, monitorização e fiscalização serão conseguidos através de convénios com várias instituições, como, por exemplo, a Universidade dos Açores. "A direcção regional vai fazer a coordenação e auxiliar a fiscalização, integrando as diferentes equipas no terreno", explicou. Frederico Cardigos contará com as imagens de satélite sobre o mar dos Açores, que incluem a medição da temperatura da água, a produção de matéria orgânica à superfície e a identificação de eventuais derrames de hidrocarbonetos, e que permitirão caracterizar o mar dos Açores e até que ponto este consegue suportar a sua biodiversidade.

O diploma determina diferentes níveis de protecção, acrescentou o responsável. Nas áreas que forem reservas naturais haverá uma gestão mais rigorosa, mas outras serão "absolutamente permissivas". "O que é fulcral é conseguirmos responder aos desígnios que presidiram à sua criação."

Actualmente, a proposta de decreto legislativo regional que estrutura o parque marinho está na fase final e encontra-se em apreciação pela Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho. Em Julho, deverá ser votada no plenário da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

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