Negociações para ajuda externa só vão ser feitas com a oposição à direita

19-04-2011
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PSD e CDS devem reunir-se hoje com a troika. Os outros partidos da oposição decidiram ficar de fora. À falta de acordo político somam-se divisões entre a CE e o FMI

O primeiro dia de negociações entre o Governo português e a troika - o grupo de peritos da Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) - foi ensombrado pelas divisões políticas. Três partidos da oposição - o PCP, o Bloco de Esquerda e os Verdes - recusaram reunir-se com as equipas que estão em Portugal para negociar a ajuda externa. A agravar o cenário, a CE e o FMI dividem-se no plano de ajustamento a aplicar.

Hoje, o PSD deverá encontrar-se com a troika. O interlocutor será Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças e o economista que mediou a negociação do Orçamento do Estado de 2011 entre o Governo e os sociais--democratas.

Já o CDS-PP está a definir a sua equipa e deverá reunir-se hoje ou amanhã com os representantes da CE, do BCE e do FMI, disse ontem ao PÚBLICO fonte oficial do partido. O líder dos democratas-cristãos, Paulo Portas, vai fazer hoje uma comunicação sobre a ajuda externa, às 13h, na Assembleia da República.

Além dos encontros diários com o Governo e com os parceiros sociais, a troika pretendia reunir-se com a oposição, visto que precisa de obter, no final das negociações, a garantia de que os partidos que poderão formar o próximo governo irão aplicar as medidas do programa de resgate. Contudo, tanto o BE, como o PCP e os Verdes recusaram os convites para se reunirem ontem à tarde com a equipa que está a negociar a ajuda externa.

"O Governo é que tem de liderar as conversações com a troika, não fazemos parte do consenso sobre a intervenção externa, nem consideramos oportuno ter conversações paralelas às do Governo", justificou ao PÚBLICO Luís Fazenda, o deputado do BE que está com a "pasta" da ajuda externa.

O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, alinha no mesmo sentido, recusando envolver-se "num processo que constitui uma inaceitável atitude de abdicação e submissão nacional". Enquanto isso, o PSD dá sinais de não estar disposto a ceder num ponto - o Governo tem de mostrar a real situação das públicas - e vai transmitir essa posição à troika.

Depois de ter entregue um conjunto de 27 perguntas ao Governo sobre a situação das contas públicas do país, o líder social-democrata disse ontem: "Se quisermos ter de cumprir daqui para a frente e temos de cumprir, toda a situação real do país tem de estar em cima da mesa. Isto mesmo dissemos ao Governo e é isso que vamos transmitir ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira e ao FMI." Pedro Passos Coelho sublinhou ser "muito importante" que no pedido de ajuda externa que está a ser negociado "tudo seja tido em linha de conta", referindo-se, por exemplo, à contabilização da dívida das empresas públicas de transportes.

Após uma semana de análise da situação económica e financeira do país, as equipas da CE, BCE e FMI (lideradas, respectivamente, por Jürgen Kröger, Rasmus Rüffer e Poul Thomsen) iniciaram ontem as negociações para um pacote de ajuda que poderá chegar aos 100 mil milhões de euros e deverá ser aprovado a 16 de Maio. A reunião de ontem com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, contou com a presença do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Hoje, a troika deverá reunir-se com as centrais sindicais, tendo adiado para amanhã os encontros com as confederações patronais.

FMI modera receita

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À crispação no campo político junta-se a própria tensão entre a Europa e o FMI quanto aos moldes da ajuda externa. Ao arrepio do que tem sido a sua tradição histórica, o Fundo parece estar, agora, a adoptar uma postura mais flexível e até menos austera do que a da Comissão Europeia.

A experiência da Grécia (que está em forte recessão e teve de prolongar o prazo de pagamento do empréstimo à UE e ao FMI), e também algumas intervenções anteriores desastrosas (como a da Argentina, em 2001) parecem ter feito o Fundo mudar de rumo e procurar uma cura que não mate o doente. Enquanto isso, a Europa, esmagada entre as agendas políticas dos vários países, mostra-se irredutível: o défice e a dívida têm de ser reduzidos a todo o custo.

"É preciso que os europeus façam o seu trabalho [para resolver a crise da dívida]", avisou o director-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, no sábado passado, em Washington, antes de se encontrar com o ministro das Finanças português. Numa entrevista recente à TVI, o responsável do Fundo defendeu mesmo juros mais baixos no empréstimo a Portugal e afirmou que o país deveria ter mais tempo para corrigir as contas públicas.

Com a instituição a perspectivar uma recessão de dois anos para Portugal e um agravamento do desemprego, um ajustamento da magnitude como a CE quer irá levar a economia à asfixia, comprometendo o próprio esforço de consolidação orçamental. com Sofia Rodrigues

PSD e CDS devem reunir-se hoje com a troika. Os outros partidos da oposição decidiram ficar de fora. À falta de acordo político somam-se divisões entre a CE e o FMI

O primeiro dia de negociações entre o Governo português e a troika - o grupo de peritos da Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) - foi ensombrado pelas divisões políticas. Três partidos da oposição - o PCP, o Bloco de Esquerda e os Verdes - recusaram reunir-se com as equipas que estão em Portugal para negociar a ajuda externa. A agravar o cenário, a CE e o FMI dividem-se no plano de ajustamento a aplicar.

Hoje, o PSD deverá encontrar-se com a troika. O interlocutor será Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças e o economista que mediou a negociação do Orçamento do Estado de 2011 entre o Governo e os sociais--democratas.

Já o CDS-PP está a definir a sua equipa e deverá reunir-se hoje ou amanhã com os representantes da CE, do BCE e do FMI, disse ontem ao PÚBLICO fonte oficial do partido. O líder dos democratas-cristãos, Paulo Portas, vai fazer hoje uma comunicação sobre a ajuda externa, às 13h, na Assembleia da República.

Além dos encontros diários com o Governo e com os parceiros sociais, a troika pretendia reunir-se com a oposição, visto que precisa de obter, no final das negociações, a garantia de que os partidos que poderão formar o próximo governo irão aplicar as medidas do programa de resgate. Contudo, tanto o BE, como o PCP e os Verdes recusaram os convites para se reunirem ontem à tarde com a equipa que está a negociar a ajuda externa.

"O Governo é que tem de liderar as conversações com a troika, não fazemos parte do consenso sobre a intervenção externa, nem consideramos oportuno ter conversações paralelas às do Governo", justificou ao PÚBLICO Luís Fazenda, o deputado do BE que está com a "pasta" da ajuda externa.

O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, alinha no mesmo sentido, recusando envolver-se "num processo que constitui uma inaceitável atitude de abdicação e submissão nacional". Enquanto isso, o PSD dá sinais de não estar disposto a ceder num ponto - o Governo tem de mostrar a real situação das públicas - e vai transmitir essa posição à troika.

Depois de ter entregue um conjunto de 27 perguntas ao Governo sobre a situação das contas públicas do país, o líder social-democrata disse ontem: "Se quisermos ter de cumprir daqui para a frente e temos de cumprir, toda a situação real do país tem de estar em cima da mesa. Isto mesmo dissemos ao Governo e é isso que vamos transmitir ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira e ao FMI." Pedro Passos Coelho sublinhou ser "muito importante" que no pedido de ajuda externa que está a ser negociado "tudo seja tido em linha de conta", referindo-se, por exemplo, à contabilização da dívida das empresas públicas de transportes.

Após uma semana de análise da situação económica e financeira do país, as equipas da CE, BCE e FMI (lideradas, respectivamente, por Jürgen Kröger, Rasmus Rüffer e Poul Thomsen) iniciaram ontem as negociações para um pacote de ajuda que poderá chegar aos 100 mil milhões de euros e deverá ser aprovado a 16 de Maio. A reunião de ontem com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, contou com a presença do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Hoje, a troika deverá reunir-se com as centrais sindicais, tendo adiado para amanhã os encontros com as confederações patronais.

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À crispação no campo político junta-se a própria tensão entre a Europa e o FMI quanto aos moldes da ajuda externa. Ao arrepio do que tem sido a sua tradição histórica, o Fundo parece estar, agora, a adoptar uma postura mais flexível e até menos austera do que a da Comissão Europeia.

A experiência da Grécia (que está em forte recessão e teve de prolongar o prazo de pagamento do empréstimo à UE e ao FMI), e também algumas intervenções anteriores desastrosas (como a da Argentina, em 2001) parecem ter feito o Fundo mudar de rumo e procurar uma cura que não mate o doente. Enquanto isso, a Europa, esmagada entre as agendas políticas dos vários países, mostra-se irredutível: o défice e a dívida têm de ser reduzidos a todo o custo.

"É preciso que os europeus façam o seu trabalho [para resolver a crise da dívida]", avisou o director-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, no sábado passado, em Washington, antes de se encontrar com o ministro das Finanças português. Numa entrevista recente à TVI, o responsável do Fundo defendeu mesmo juros mais baixos no empréstimo a Portugal e afirmou que o país deveria ter mais tempo para corrigir as contas públicas.

Com a instituição a perspectivar uma recessão de dois anos para Portugal e um agravamento do desemprego, um ajustamento da magnitude como a CE quer irá levar a economia à asfixia, comprometendo o próprio esforço de consolidação orçamental. com Sofia Rodrigues

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