DOTeCOMe...o Blog: A Greve Geral e a Ofensiva do Governo

28-05-2010
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Foto de Brigitte Boitel BonfilsA Greve Geral de 30 de Maio tem sido objecto nos últimos dias de grandes discussões, acima de tudo sobre o alcance e o êxito obtidos. Para o Governo foi um fracasso, o que justifica a continuação da sua política, para o PCP, tal como para a corrente maioritária da INTER, foi "um poderoso aviso ao Governo", segundo noticia o Avante na primeira página de hoje (1/6/07).Sobre estas duas perspectivas tem-se vindo a desenrolar toda a argumentação, que, como era de prever, encontra nos números que o Governo forneceu e os parciais que a INTER foi revelando a sua principal fonte de confrontação. Resumindo, o Governo afirma que a greve não foi geral mas sim parcialíssima e a CGTP a garantir que não era esse o seu objectivo, visto que pretendia mostrar unicamente o grande descontentamento dos trabalhadores.Quanto a mim, sendo a apreciação do seu êxito ou fracasso um aspecto importante, e os números, pelo menos em termos mediáticos, um tema não despiciendo, penso que a principal conclusão política que se pode tirar desta greve é a excessiva intervenção do Governo, que parece ser um facto novo e de extrema importância.Noutras ocasiões, já durante a maioria absoluta do PS, o Governo tem ignorado com olímpico desdém as greves da Função Pública, avançando com números facilmente contraditados ou afirmando mesmo que não se mete nessa discussão. Neste caso foi diferente. O Governo teve a preocupação, em todos os campos, de afrontar a greve e de a transformar, com dados reais ou fictícios, com conferências de imprensa à hora do almoço e do jantar e ainda com o Silva Pereira, à noite, na SIC Notícias, num fracasso para a CGTP e por tabela para o PCP e para o Bloco, o primeiro porque a marcou e o segundo por se sentir obrigado a apoiá-la. Segundo António Filipe no “Debate da Nação”, na RTP I, houve mesmo sete membros do Governo envolvidos nesta operação.Nesta contra-ofensiva governamental houve de tudo. Os serviços públicos de transportes ameaçaram os trabalhadores e deturparam os serviços mínimos, na Função Pública houve alguns organismos que queriam elaborar listas nominais de grevistas, anuladas pela Comissão Nacional de Protecção de Dados, e um Secretário de Estado fez de porta-voz das entidades patronais anunciando o resultado da greve nos privados. Para terminar, e sem descrever exaustivamente todas as ameaças que foram feitas, gostaria de chamar a atenção para um facto gravíssimo, que transforma os jornalistas em cães de guarda do Governo, ao interromperem uma conferência de imprensa de Carvalho da Silva para lhe pedirem números sobre a greve, quando momentos antes tinham ouvido com todo o respeito, como é prática corrente em todas as conferências de imprensa, os Secretários de Estado a darem a sua opinião sobre a greve.Num momento de grande desgaste governativo, como sejam os casos, primeiro da licenciatura do Primeiro-Ministro e mais recentemente das declarações de Mário Lino ou da suspensão do professor Charrua, da DREN, em que Governo se tem limitado a resistir ou a fingir que não percebe, verificamos que, neste caso, este passou à ofensiva, tentou humilhar os sindicatos e ainda recorreu à UGT, que fez no dia a seguir à greve declarações perfeitamente provocatórias – "foi a menos participada de sempre das convocadas pela CGTP e demonstrou a arrogância daquela central sindical" –, para atacar a CGTP. Ou seja, o Governo preparou a ofensiva e está a explorar o sucesso da mesma.Podemos dizer que o PCP, e a INTER por tabela, levado pelo seu desvio esquerdista e sectário, não foi capaz de compreender na ratoeira em que se meteu e transformou os êxitos, por todos reconhecidos, das últimas manifestações dos professores e dos trabalhadores em geral, numa jornada de luta de contornos e conteúdo mal compreendidos no conjunto da sociedade, facilitando de algum modo os ataques do governo e da imprensa alinhada.Podemos concluir que o Governo escolheu a Greve Geral e a contestação dos trabalhadores como os seus inimigos principais e pretendeu, combatendo no terreno a paralisação e no campo ideológico promovendo a sua desvalorização e realçando o suposto apoio que tem da população para empreender as reformas de direita, acabar de vez com a contestação laboral. Estamos neste caso perante um velho problema do movimento operário em que a social-democracia, utilizando aqui a sua denominação histórica, aparece como a guarda avançada dos interesses económicos e do patronato, no fundo da direita, e a esquerda da social-democracia, obcecada com este inimigo, se deixa arrastar para o esquerdismo e o sectarismo. Temos pois que romper com este velho dilema.


Foto de Brigitte Boitel BonfilsA Greve Geral de 30 de Maio tem sido objecto nos últimos dias de grandes discussões, acima de tudo sobre o alcance e o êxito obtidos. Para o Governo foi um fracasso, o que justifica a continuação da sua política, para o PCP, tal como para a corrente maioritária da INTER, foi "um poderoso aviso ao Governo", segundo noticia o Avante na primeira página de hoje (1/6/07).Sobre estas duas perspectivas tem-se vindo a desenrolar toda a argumentação, que, como era de prever, encontra nos números que o Governo forneceu e os parciais que a INTER foi revelando a sua principal fonte de confrontação. Resumindo, o Governo afirma que a greve não foi geral mas sim parcialíssima e a CGTP a garantir que não era esse o seu objectivo, visto que pretendia mostrar unicamente o grande descontentamento dos trabalhadores.Quanto a mim, sendo a apreciação do seu êxito ou fracasso um aspecto importante, e os números, pelo menos em termos mediáticos, um tema não despiciendo, penso que a principal conclusão política que se pode tirar desta greve é a excessiva intervenção do Governo, que parece ser um facto novo e de extrema importância.Noutras ocasiões, já durante a maioria absoluta do PS, o Governo tem ignorado com olímpico desdém as greves da Função Pública, avançando com números facilmente contraditados ou afirmando mesmo que não se mete nessa discussão. Neste caso foi diferente. O Governo teve a preocupação, em todos os campos, de afrontar a greve e de a transformar, com dados reais ou fictícios, com conferências de imprensa à hora do almoço e do jantar e ainda com o Silva Pereira, à noite, na SIC Notícias, num fracasso para a CGTP e por tabela para o PCP e para o Bloco, o primeiro porque a marcou e o segundo por se sentir obrigado a apoiá-la. Segundo António Filipe no “Debate da Nação”, na RTP I, houve mesmo sete membros do Governo envolvidos nesta operação.Nesta contra-ofensiva governamental houve de tudo. Os serviços públicos de transportes ameaçaram os trabalhadores e deturparam os serviços mínimos, na Função Pública houve alguns organismos que queriam elaborar listas nominais de grevistas, anuladas pela Comissão Nacional de Protecção de Dados, e um Secretário de Estado fez de porta-voz das entidades patronais anunciando o resultado da greve nos privados. Para terminar, e sem descrever exaustivamente todas as ameaças que foram feitas, gostaria de chamar a atenção para um facto gravíssimo, que transforma os jornalistas em cães de guarda do Governo, ao interromperem uma conferência de imprensa de Carvalho da Silva para lhe pedirem números sobre a greve, quando momentos antes tinham ouvido com todo o respeito, como é prática corrente em todas as conferências de imprensa, os Secretários de Estado a darem a sua opinião sobre a greve.Num momento de grande desgaste governativo, como sejam os casos, primeiro da licenciatura do Primeiro-Ministro e mais recentemente das declarações de Mário Lino ou da suspensão do professor Charrua, da DREN, em que Governo se tem limitado a resistir ou a fingir que não percebe, verificamos que, neste caso, este passou à ofensiva, tentou humilhar os sindicatos e ainda recorreu à UGT, que fez no dia a seguir à greve declarações perfeitamente provocatórias – "foi a menos participada de sempre das convocadas pela CGTP e demonstrou a arrogância daquela central sindical" –, para atacar a CGTP. Ou seja, o Governo preparou a ofensiva e está a explorar o sucesso da mesma.Podemos dizer que o PCP, e a INTER por tabela, levado pelo seu desvio esquerdista e sectário, não foi capaz de compreender na ratoeira em que se meteu e transformou os êxitos, por todos reconhecidos, das últimas manifestações dos professores e dos trabalhadores em geral, numa jornada de luta de contornos e conteúdo mal compreendidos no conjunto da sociedade, facilitando de algum modo os ataques do governo e da imprensa alinhada.Podemos concluir que o Governo escolheu a Greve Geral e a contestação dos trabalhadores como os seus inimigos principais e pretendeu, combatendo no terreno a paralisação e no campo ideológico promovendo a sua desvalorização e realçando o suposto apoio que tem da população para empreender as reformas de direita, acabar de vez com a contestação laboral. Estamos neste caso perante um velho problema do movimento operário em que a social-democracia, utilizando aqui a sua denominação histórica, aparece como a guarda avançada dos interesses económicos e do patronato, no fundo da direita, e a esquerda da social-democracia, obcecada com este inimigo, se deixa arrastar para o esquerdismo e o sectarismo. Temos pois que romper com este velho dilema.

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