Blue Everest: António Jacinto: Comboio malandro

28-05-2010
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Li este poema pela primeira vez em Estrada Larga (compilação de artigos e outros textos publicados no Suplemento Literário do Comércio do Porto). Foi com prazer que o reencontrei agora na internet. «Considerado por muitos críticos angolanos um dos maiores escritores de Angola, o poeta António Jacinto do Amaral Martins nasceu no Golungo Alto, em 1924. Como escritor de contos, Jacinto usa o pseudónimo de Orlando Távora. Por razões políticas, esteve preso entre 1960 e 1972, tendo-lhe sida dada residência fixa em Lisboa, em liberdade condicional. Evadiu-se e foi juntar-se aos guerrilheiros em Brazzaville. Integrou o movimento pela independência do seu país (MPLA), tornando-se Ministro da Cultura aquando da mesma, nomeadamente entre 1975 e 1978. Co-fundador da União de escritores Angolanos e membro do Movimento de Novos Intelectuais de Angola, António Jacinto sempre foi um activista participante na cultura de Angola. Em 1993, o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) do então Ministério da Cultura, instituiu o «Prémio Literário António Jacinto» como uma homenagem ao poeta e contista angolano.» [Lusomátria]Obra: Poemas, 1961; Vôvô Bartolomeu, 1979; Poemas, 1982; Em Kilunje do Golungo, 1984; Sobreviver em Tarrafal de Santiago, 1985; Prometeu, 1987; Fábulas de Sanji, 1988.Prémios: Prémio LOTUS da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos, em 1979; Prémio Nacional de Literatura, em 1987; Prémio NOMA; Ordem Félix Varela de 1ª Classe, do Conselho de Estado da República de Cuba.CASTIGO PRÓ COMBOIO MALANDROEsse comboio malandropassapassa sempre com força deleué ué uéhii hii hiite-quem-tem te-quem-tem te-quem-temo comboio malandropassaNas janelas muita gente:ai bô viajeadeujo homéén'ganas bonitasquitandeiras de lenço encarnadolevam cana no Luanda pra venderhii hii hiiaquele vagon de grades tem boismúu múu múutem outroigual como este dos boisleva gente,muita gente como eucheio de poeiragente triste como os boisgente que vai no contratoTem bois que morre no viajemas o preto não morrecanta como é criança:"Mulonde ia Késsua uádibaléuádibalé uádibalé..."Esse comboio malandrosozinho na estrada de ferropassapassasem respeitoué ué uécom muito fumo na tráshii hii hiite-quem-tem te-quem-tem te-quem-temComboio malandroo fogo que sai do corpo delevai no capim e queimavai nas casas dos pretos e queimaesse comboio malandrojá queimou o meu milho.Se na lavra do milho tem pacaçaseu faço armadilha no chão,se na lavra tem kiomboseu tiro a espingarda de Kimbundoe mato nelesmas se vai lá fogo do comboio malandro— deixa! —ué ué uéte-quem-tem te-quem-tem te-quem-temsó fica fumomuito fumo mesmo.Mas espera sóQuando esse comboio malandro descarrilare os brancos chamar os pretos para empurrareu voumas não empurro— nem com chicote —finjo só que faço forçaaka!Comboio malandrovocê vai ver só o castigovai dormir mesmo no meio do caminho. (Versão publicada por António Filipe Soares, Poesia Angolana, Antologia. Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes e Instituto Cultural Português, Porto Alegre, 1979)


Li este poema pela primeira vez em Estrada Larga (compilação de artigos e outros textos publicados no Suplemento Literário do Comércio do Porto). Foi com prazer que o reencontrei agora na internet. «Considerado por muitos críticos angolanos um dos maiores escritores de Angola, o poeta António Jacinto do Amaral Martins nasceu no Golungo Alto, em 1924. Como escritor de contos, Jacinto usa o pseudónimo de Orlando Távora. Por razões políticas, esteve preso entre 1960 e 1972, tendo-lhe sida dada residência fixa em Lisboa, em liberdade condicional. Evadiu-se e foi juntar-se aos guerrilheiros em Brazzaville. Integrou o movimento pela independência do seu país (MPLA), tornando-se Ministro da Cultura aquando da mesma, nomeadamente entre 1975 e 1978. Co-fundador da União de escritores Angolanos e membro do Movimento de Novos Intelectuais de Angola, António Jacinto sempre foi um activista participante na cultura de Angola. Em 1993, o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) do então Ministério da Cultura, instituiu o «Prémio Literário António Jacinto» como uma homenagem ao poeta e contista angolano.» [Lusomátria]Obra: Poemas, 1961; Vôvô Bartolomeu, 1979; Poemas, 1982; Em Kilunje do Golungo, 1984; Sobreviver em Tarrafal de Santiago, 1985; Prometeu, 1987; Fábulas de Sanji, 1988.Prémios: Prémio LOTUS da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos, em 1979; Prémio Nacional de Literatura, em 1987; Prémio NOMA; Ordem Félix Varela de 1ª Classe, do Conselho de Estado da República de Cuba.CASTIGO PRÓ COMBOIO MALANDROEsse comboio malandropassapassa sempre com força deleué ué uéhii hii hiite-quem-tem te-quem-tem te-quem-temo comboio malandropassaNas janelas muita gente:ai bô viajeadeujo homéén'ganas bonitasquitandeiras de lenço encarnadolevam cana no Luanda pra venderhii hii hiiaquele vagon de grades tem boismúu múu múutem outroigual como este dos boisleva gente,muita gente como eucheio de poeiragente triste como os boisgente que vai no contratoTem bois que morre no viajemas o preto não morrecanta como é criança:"Mulonde ia Késsua uádibaléuádibalé uádibalé..."Esse comboio malandrosozinho na estrada de ferropassapassasem respeitoué ué uécom muito fumo na tráshii hii hiite-quem-tem te-quem-tem te-quem-temComboio malandroo fogo que sai do corpo delevai no capim e queimavai nas casas dos pretos e queimaesse comboio malandrojá queimou o meu milho.Se na lavra do milho tem pacaçaseu faço armadilha no chão,se na lavra tem kiomboseu tiro a espingarda de Kimbundoe mato nelesmas se vai lá fogo do comboio malandro— deixa! —ué ué uéte-quem-tem te-quem-tem te-quem-temsó fica fumomuito fumo mesmo.Mas espera sóQuando esse comboio malandro descarrilare os brancos chamar os pretos para empurrareu voumas não empurro— nem com chicote —finjo só que faço forçaaka!Comboio malandrovocê vai ver só o castigovai dormir mesmo no meio do caminho. (Versão publicada por António Filipe Soares, Poesia Angolana, Antologia. Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes e Instituto Cultural Português, Porto Alegre, 1979)

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