NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: PROPOSTAS MIL

05-08-2010
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Numa breve conversa sobre a revista NA e o MIL pensámos em alguns tópicos que ora submetemos à vossa apreciação.Defendendo que, num primeiro momento da acção do MIL, será proveitoso apostar na intervenção cultural, formulámos algumas propostas que deverão ser lidas apenas como hipóteses de trabalho.Temos consciência de que elas se referem a acções concretas que implicarão muito trabalho e muitos contactos institucionais e informais, mas também nos parece que o movimento poderá, a curto e médio prazo, assumir a sua realização. Para esse efeito, os vários núcleos terão de ser mobilizados.Desde o início da discussão, a ideia da realização de encontros informais, com alguma periodicidade em diferentes locais do país, na linha do que tem vindo a ser organizado todos os anos, no Domingo de Pentecostes na Serra da Arrábida, tem vindo a ser aflorada. Cremos que estas iniciativas constituiriam o melhor ponto de partida para unificar os núcleos do MIL, criando situações, presenciais, de discussão de ideias. Para além disso, haveria ocasião de obter mais contactos, de conhecer mais pessoas e de fortalecer os laços que nos unem. Não se deverá pensar que estes encontros possuam uma natureza meramente lúdica, mas antes tratando-se de momentos de afirmação, de discussão e, porque não, de realização daquilo a que aspiramos.A nível da realização de contactos, para além da criação de núcleos MIL em que se deverão discutir os manifestos NA e MIL, pensamos que se devem encetar ligações institucionais com entidades que, de alguma forma, promovam a Lusofonia. Entre estas, dever-se-á interagir quer com a) associações de apoio a imigrantes, quer com b) associações de imigrantes ou de residentes oriundos de espaços lusófonos (de que são exemplo diversas associações locais), quer com c) as Casas de Cultura dos vários países lusófonos.Cumprindo o que subjaz ao espírito da declaração de princípios do MIL, sem prejuízo da nossa afirmação própria e de acordo com um conceito largo de cultura, cremos que assim se prestará um bom serviço à comunidade e que se dignificará o nosso projecto se nos associarmos a instituições humanitárias, firmando links nos sítios da web em que tenhamos algum tipo de intervenção, promovendo e divulgando actividades e cedendo o nosso espaço para reuniões, cursos ou acções de divulgação.Outra proposta que nos ocorreu implica o levantamento das acções actualmente realizadas pelo Instituto Camões no âmbito da Lusofonia, como por exemplo: número e qualidade das bibliotecas nos diferentes espaços lusófonos; diferentes leitorados e sua projecção sócio-cultural. A espantosa amplitude geográfica que o MIL assume neste momento permite-nos pensar que esse levantamento poderá ser realizado, em parte, por pessoas que se encontram in loco. Não é necessário que esse trabalho seja demasiado exaustivo. Ele deverá permitir-nos não só exigir e confrontar o Instituto Camões com as possíveis lacunas, como também reunir esforços para, tanto quanto possível, procurarmos, desde já, preenche-las, quer apelando à sociedade civil, quer tomando medidas nos termos das nossas possibilidades.No seguimento desta proposta, pensámos também que seria interessante contactar com as organizações que se encontram já no terreno, sobretudo em África e Ásia, e que possuem um conhecimento mais alargado das necessidade concretas das populações.Considerando que a escola e a academia constituem um campo de intervenção fundamental na construção de um projecto com alcance social, julgámos que seria também interessante retomar um dos projectos que tínhamos no âmbito do Centenário de Agostinho da Silva: a criação de um programa de intercâmbio de estudantes – à semelhança do Erasmus europeu – destinado ao espaço lusófono. Sabemos que existem actualmente bolsas destinadas a estudantes lusófonos que queiram estudar em Portugal, mas não existe um verdadeiro "intercâmbio". Julgamos que, ao fomentar a partida de estudantes de todos para todos os lados, criar-se-iam verdadeiros laços humanos e culturais, de onde decorreriam, inevitavelmente, positivas consequências económicas e sociais.Pensando que este intercâmbio se deve aplicar a todas as disciplinas ou áreas de saber, sugerimos igualmente que seja pensada a criação de áreas curriculares dedicadas a temáticas lusófonas (desde o 12.º ano de escolaridade até às licenciaturas e pós-graduações). Actualmente, existem áreas de estudos de cultura relativas ao espaço africano (Estudos Africanos / Estudos Europeus). Porém, cremos que se justificaria pensar a extensão da abordagem à Lusofonia em muitos outros campos de estudo, como são exemplo a Antropologia, a História, a Economia e a Gestão, a Política, o Direito Internacional, etc.Tal como se provou ao longo do Centenário do nascimento do Agostinho, os audiovisuais, tal como a Internet, são um bom veículo de mensagens junto de um público mais alargado. Nesse âmbito, julgamos que deveria ser pensada a promoção do cinema lusófono a vários níveis: parcerias com cine-clubes de Lisboa e não só, para permanente divulgação do cinema lusófono; ciclos na cinemateca; prémios de documentário, um por cada país lusófono; uma sala de cinema de exclusiva programação lusófona em Lisboa; uma "quota" na RTP ou pressão do Camões e RTP para permanente difusão da filmografia lusófona.Poder-se-ia também pensar numa promoção do livro lusófono: uma livraria lusófona; uma feira do livro lusófono (num espaço nobre da cidade - Fórum Picoas, Terreiro do Paço, Pavilhão Atlântico e em vários pontos do país).Estas últimas propostas integram-se numa lógica de promoção da cultura lusófona, no âmbito da qual se poderá pensar em muitas outras medidas: por exemplo, os prémios literários lusófonos, que já existem em magra escala poderão ser alargados a prémios de cinema documental e de outras áreas de criação cultural e artística.As propostas que aqui apresentamos procuram assim um enriquecimento dos dados culturais e vivenciais que fundamentarão a acção do MIL. Acreditamos que será crucial promover um vasto intercâmbio de experiências e de ideias no espaço lusófono. O MIL não se deverá limitar a reproduzir e a reinterpretar as ideias de alguns autores da Cultura Portuguesa: deverá também observar a realidade social e cultural dos países lusófonos e pensar a Lusofonia de acordo com os factos actuais. Em suma, o MIL deve promover uma investigação colectiva de base sobre o significado actual e real da Lusofonia nos seus diferentes contextos; sobretudo, o MIL deverá ser pensado, à partida, como um movimento de intercâmbio de experiências e de promoção do conhecimento entre diferentes realidades culturais. Só quando houver essa efectiva abertura entre todas as comunidades lusófonas, poderão as afinidades linguísticas, o passado histórico e os projectos em comum ser pensados com maior lucidez. Entendemos assim que os portugueses só poderão contribuir de forma enriquecedora para esse movimento, se abdicarem da falsa ideia de que possuem qualquer espécie de direito de primazia sobre os dados da “cultura lusófona” e se entenderem a Lusofonia como um eficaz veículo de entendimento num projecto de fraternidade entre diferentes culturas de diferentes espaços mundiais.Contamos com a participação de todos para a sua discussão, como para o seu planeamento, divulgação e concretização!Rui LopoDuarte D. BragaRicardo Ventura


Numa breve conversa sobre a revista NA e o MIL pensámos em alguns tópicos que ora submetemos à vossa apreciação.Defendendo que, num primeiro momento da acção do MIL, será proveitoso apostar na intervenção cultural, formulámos algumas propostas que deverão ser lidas apenas como hipóteses de trabalho.Temos consciência de que elas se referem a acções concretas que implicarão muito trabalho e muitos contactos institucionais e informais, mas também nos parece que o movimento poderá, a curto e médio prazo, assumir a sua realização. Para esse efeito, os vários núcleos terão de ser mobilizados.Desde o início da discussão, a ideia da realização de encontros informais, com alguma periodicidade em diferentes locais do país, na linha do que tem vindo a ser organizado todos os anos, no Domingo de Pentecostes na Serra da Arrábida, tem vindo a ser aflorada. Cremos que estas iniciativas constituiriam o melhor ponto de partida para unificar os núcleos do MIL, criando situações, presenciais, de discussão de ideias. Para além disso, haveria ocasião de obter mais contactos, de conhecer mais pessoas e de fortalecer os laços que nos unem. Não se deverá pensar que estes encontros possuam uma natureza meramente lúdica, mas antes tratando-se de momentos de afirmação, de discussão e, porque não, de realização daquilo a que aspiramos.A nível da realização de contactos, para além da criação de núcleos MIL em que se deverão discutir os manifestos NA e MIL, pensamos que se devem encetar ligações institucionais com entidades que, de alguma forma, promovam a Lusofonia. Entre estas, dever-se-á interagir quer com a) associações de apoio a imigrantes, quer com b) associações de imigrantes ou de residentes oriundos de espaços lusófonos (de que são exemplo diversas associações locais), quer com c) as Casas de Cultura dos vários países lusófonos.Cumprindo o que subjaz ao espírito da declaração de princípios do MIL, sem prejuízo da nossa afirmação própria e de acordo com um conceito largo de cultura, cremos que assim se prestará um bom serviço à comunidade e que se dignificará o nosso projecto se nos associarmos a instituições humanitárias, firmando links nos sítios da web em que tenhamos algum tipo de intervenção, promovendo e divulgando actividades e cedendo o nosso espaço para reuniões, cursos ou acções de divulgação.Outra proposta que nos ocorreu implica o levantamento das acções actualmente realizadas pelo Instituto Camões no âmbito da Lusofonia, como por exemplo: número e qualidade das bibliotecas nos diferentes espaços lusófonos; diferentes leitorados e sua projecção sócio-cultural. A espantosa amplitude geográfica que o MIL assume neste momento permite-nos pensar que esse levantamento poderá ser realizado, em parte, por pessoas que se encontram in loco. Não é necessário que esse trabalho seja demasiado exaustivo. Ele deverá permitir-nos não só exigir e confrontar o Instituto Camões com as possíveis lacunas, como também reunir esforços para, tanto quanto possível, procurarmos, desde já, preenche-las, quer apelando à sociedade civil, quer tomando medidas nos termos das nossas possibilidades.No seguimento desta proposta, pensámos também que seria interessante contactar com as organizações que se encontram já no terreno, sobretudo em África e Ásia, e que possuem um conhecimento mais alargado das necessidade concretas das populações.Considerando que a escola e a academia constituem um campo de intervenção fundamental na construção de um projecto com alcance social, julgámos que seria também interessante retomar um dos projectos que tínhamos no âmbito do Centenário de Agostinho da Silva: a criação de um programa de intercâmbio de estudantes – à semelhança do Erasmus europeu – destinado ao espaço lusófono. Sabemos que existem actualmente bolsas destinadas a estudantes lusófonos que queiram estudar em Portugal, mas não existe um verdadeiro "intercâmbio". Julgamos que, ao fomentar a partida de estudantes de todos para todos os lados, criar-se-iam verdadeiros laços humanos e culturais, de onde decorreriam, inevitavelmente, positivas consequências económicas e sociais.Pensando que este intercâmbio se deve aplicar a todas as disciplinas ou áreas de saber, sugerimos igualmente que seja pensada a criação de áreas curriculares dedicadas a temáticas lusófonas (desde o 12.º ano de escolaridade até às licenciaturas e pós-graduações). Actualmente, existem áreas de estudos de cultura relativas ao espaço africano (Estudos Africanos / Estudos Europeus). Porém, cremos que se justificaria pensar a extensão da abordagem à Lusofonia em muitos outros campos de estudo, como são exemplo a Antropologia, a História, a Economia e a Gestão, a Política, o Direito Internacional, etc.Tal como se provou ao longo do Centenário do nascimento do Agostinho, os audiovisuais, tal como a Internet, são um bom veículo de mensagens junto de um público mais alargado. Nesse âmbito, julgamos que deveria ser pensada a promoção do cinema lusófono a vários níveis: parcerias com cine-clubes de Lisboa e não só, para permanente divulgação do cinema lusófono; ciclos na cinemateca; prémios de documentário, um por cada país lusófono; uma sala de cinema de exclusiva programação lusófona em Lisboa; uma "quota" na RTP ou pressão do Camões e RTP para permanente difusão da filmografia lusófona.Poder-se-ia também pensar numa promoção do livro lusófono: uma livraria lusófona; uma feira do livro lusófono (num espaço nobre da cidade - Fórum Picoas, Terreiro do Paço, Pavilhão Atlântico e em vários pontos do país).Estas últimas propostas integram-se numa lógica de promoção da cultura lusófona, no âmbito da qual se poderá pensar em muitas outras medidas: por exemplo, os prémios literários lusófonos, que já existem em magra escala poderão ser alargados a prémios de cinema documental e de outras áreas de criação cultural e artística.As propostas que aqui apresentamos procuram assim um enriquecimento dos dados culturais e vivenciais que fundamentarão a acção do MIL. Acreditamos que será crucial promover um vasto intercâmbio de experiências e de ideias no espaço lusófono. O MIL não se deverá limitar a reproduzir e a reinterpretar as ideias de alguns autores da Cultura Portuguesa: deverá também observar a realidade social e cultural dos países lusófonos e pensar a Lusofonia de acordo com os factos actuais. Em suma, o MIL deve promover uma investigação colectiva de base sobre o significado actual e real da Lusofonia nos seus diferentes contextos; sobretudo, o MIL deverá ser pensado, à partida, como um movimento de intercâmbio de experiências e de promoção do conhecimento entre diferentes realidades culturais. Só quando houver essa efectiva abertura entre todas as comunidades lusófonas, poderão as afinidades linguísticas, o passado histórico e os projectos em comum ser pensados com maior lucidez. Entendemos assim que os portugueses só poderão contribuir de forma enriquecedora para esse movimento, se abdicarem da falsa ideia de que possuem qualquer espécie de direito de primazia sobre os dados da “cultura lusófona” e se entenderem a Lusofonia como um eficaz veículo de entendimento num projecto de fraternidade entre diferentes culturas de diferentes espaços mundiais.Contamos com a participação de todos para a sua discussão, como para o seu planeamento, divulgação e concretização!Rui LopoDuarte D. BragaRicardo Ventura

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