Se para mim Agostinho da Silva constitui um exemplo a seguir, como constitui, é, desde logo, pela forma como conjugava o maior idealismo com o maior pragmatismo.Com efeito, Agostinho da Silva não se limitou a ter boas ideias, algumas delas visionárias. À sua escala, concretizou-as.De resto, boas ideias toda a gente tem. A diferença entre os seres humanos está entre aqueles que as procuram concretizar e aqueles que, ao primeiro obstáculo, desistem.Em última instância, tudo depende da Vontade: quem quer realmente, consegue, arranja maneira; quem tem uma vontade fraca, arranja desculpas para o seu fracasso…Vem isto a propósito de uma ideia que muitos considerarão demasiado visionária para se poder concretizar: a ideia de uma “União Lusíada”, ou seja, de uma União entre todos os países de expressão lusófona.Essa ideia já deu lugar à CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), inspirada por Agostinho da Silva, logo nos anos cinquenta, mas esta, tal o seu modelo, não nos levará longe.Provavelmente, não poderia: apesar de ter sido criada já nos anos 90, foi ainda criada sob o trauma da descolonização, reflectindo, por isso, na sua génese, os complexos dos ex-colonizadores e dos ex-colonizados. Havia, para além disso, uma dessintonia: o país ex-colonizador vivia por esse tempo a sua provinciana paixão europeísta; os países ex-colonizados, apesar da queda do Muro de Berlim, ainda seguiam a miragem de uma “união internacional dos povos”.Havia, já não há: nem paixão europeísta, nem miragem internacionalista. É, pois, tempo de lançar de novo à terra (ou, mais exactamente, ao mar) a semente da União Lusíada…Da parte de Portugal, isso passará, desde logo, por eleger um Presidente da República que assuma expressamente esse ideal.O nosso sistema político, na sua aparente esquizofrenia bicéfala, tem essa virtualidade, ainda não, de todo, explorada. Em vez de termos um Primeiro-Ministro e um Presidente que passam a vida a vigiar-se mutuamente, para gáudio dos media mas para cada vez maior indiferença da população, deveríamos ter um Primeiro-Ministro que se ocupasse apenas com o curto-médio prazo, ou seja, com a gestão económico-financeira do país (que, de resto, para simplificar, poderia mesmo passar a ser nomeado directamente por Bruxelas, já que é aí que, se facto, se define o programa de governo), e um Presidente que, liberto dessas questões, olhasse mais longe, mais alto…Teríamos, então, um Primeiro-Ministro para se preocupar com a União Europeia e um Presidente da República para se preocupar com a União Lusófona. O que acham?
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Se para mim Agostinho da Silva constitui um exemplo a seguir, como constitui, é, desde logo, pela forma como conjugava o maior idealismo com o maior pragmatismo.Com efeito, Agostinho da Silva não se limitou a ter boas ideias, algumas delas visionárias. À sua escala, concretizou-as.De resto, boas ideias toda a gente tem. A diferença entre os seres humanos está entre aqueles que as procuram concretizar e aqueles que, ao primeiro obstáculo, desistem.Em última instância, tudo depende da Vontade: quem quer realmente, consegue, arranja maneira; quem tem uma vontade fraca, arranja desculpas para o seu fracasso…Vem isto a propósito de uma ideia que muitos considerarão demasiado visionária para se poder concretizar: a ideia de uma “União Lusíada”, ou seja, de uma União entre todos os países de expressão lusófona.Essa ideia já deu lugar à CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), inspirada por Agostinho da Silva, logo nos anos cinquenta, mas esta, tal o seu modelo, não nos levará longe.Provavelmente, não poderia: apesar de ter sido criada já nos anos 90, foi ainda criada sob o trauma da descolonização, reflectindo, por isso, na sua génese, os complexos dos ex-colonizadores e dos ex-colonizados. Havia, para além disso, uma dessintonia: o país ex-colonizador vivia por esse tempo a sua provinciana paixão europeísta; os países ex-colonizados, apesar da queda do Muro de Berlim, ainda seguiam a miragem de uma “união internacional dos povos”.Havia, já não há: nem paixão europeísta, nem miragem internacionalista. É, pois, tempo de lançar de novo à terra (ou, mais exactamente, ao mar) a semente da União Lusíada…Da parte de Portugal, isso passará, desde logo, por eleger um Presidente da República que assuma expressamente esse ideal.O nosso sistema político, na sua aparente esquizofrenia bicéfala, tem essa virtualidade, ainda não, de todo, explorada. Em vez de termos um Primeiro-Ministro e um Presidente que passam a vida a vigiar-se mutuamente, para gáudio dos media mas para cada vez maior indiferença da população, deveríamos ter um Primeiro-Ministro que se ocupasse apenas com o curto-médio prazo, ou seja, com a gestão económico-financeira do país (que, de resto, para simplificar, poderia mesmo passar a ser nomeado directamente por Bruxelas, já que é aí que, se facto, se define o programa de governo), e um Presidente que, liberto dessas questões, olhasse mais longe, mais alto…Teríamos, então, um Primeiro-Ministro para se preocupar com a União Europeia e um Presidente da República para se preocupar com a União Lusófona. O que acham?