Portugueses regressam aos poucos

28-02-2011
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Cansados e aliviados, mas à espera que haja condições de segurança na Líbia para poderem regressar

As viagens foram longas, com adiamentos sucessivos, muitas paragens e trocas de voos. Mas, ontem, começaram a chegar alguns dos 80 portugueses que, a bordo do C-130 da Força Aérea, deixaram a Líbia na noite de segunda-feira. Iam chegando a Lisboa, aos poucos, em voos da TAP a partir de Roma, e traziam consigo histórias que pouco condiziam com os relatos de caos e de violência reproduzidos pelos media.

No aeroporto, Ana Simões da Silva esperava o pai. "À meia-noite e meia, quando já estavam na Sicília [onde fica a base da NATO para onde foram transportados pela Força Aérea], falei com ele e disse-lhe o que tinha sabido pela CNN: "Olhem que os manifestantes estão a ser bombardeados". Ele repetiu alto o que eu dizia e todos perguntaram: O quê?"

O pai, Joaquim Simões da Silva, 72 anos, sai acompanhado apenas de uma pequena mala e um saco no carrinho. "Voltar? Amanhã, se a minha empresa o permitir e se houver condições mínimas de segurança." O engenheiro da Consulgal, uma empresa de consultoria em engenharia e gestão, diz não ter testemunhado situações de violência, "apenas vestígios", e "manifestações como as que há cá nos jogos de futebol".

"A gente ainda não morreu, pá." O grito, numa gargalhada, era de um homem com ar de marinheiro, que descia a rampa à saída da porta das chegadas, e anunciava o grupo de mais de 30 portugueses que vinham também de Roma. Vários casais saíam acompanhados de crianças ao colo ou de mão dada. Manuel Morais, 56 anos, conta que estava em casa, no domingo à noite, e "via as balas", "ouvia os gritos de pessoas, ao longe". Mas voltava? "Se me permitirem."

Manuel, responsável de obra, partilha das poupadas críticas ao regime de Muammar Khadafi, gerais entre os portugueses. "É um líder africano, como há outros em África, com a sua política, que nós temos de respeitar", considera José Casaleiro, 42 anos, arquitecto da Consulgal.

Em Trípoli "vive-se bem, embora com todas as condicionantes que tem um país daqueles para nós, que gostamos de álcool e de vinho, que não há lá", observava Joaquim Simões da Silva. "De resto há tudo e as pessoas viviam em tranquilidade até agora".

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Os que chegaram no voo da noite estavam visivelmente mais abalados - se uns chegavam orgulhosos das memórias que traziam, outros vinham banhados em lágrimas. José Eduardo, 41 anos, medidor contabilístico, vivia perto de um aeroporto militar. "Tínhamos receio que houvesse bombardeamentos. Nós viemos embora mesmo na linha amarela".

Depois de ontem ter regressado a Trípoli para outro voo de repatriamento, o C-130 terá chegado ao Aeroporto Militar do Figo Maduro, Lisboa, de madrugada. Para os 26 portugueses que estavam em Benghazi continuava ontem "tudo na mesma" e, adiantou ao PÚBLICO uma fonte do gabinete do secretário de Estado das Comunidades, António Braga, só hoje seriam retomadas as tentativas para os retirar do país.

Ao início da tarde, um voo mistério aparecia nos painéis das chegadas do aeroporto: o voo BUR301, proveniente de Trípoli, com chegada prevista às 17h55. Descobriu-se durante a tarde que seria um voo fretado, da Air Budapeste. O Instituto Nacional de Aviação Civil, que autoriza a aterragem de todos os voos civis em Portugal, não tinha conhecimento do tal BUR301. Seria um voo de Estado? O Ministério dos Negócios Estrangeiros também disse desconhecer a existência deste voo, que não chegou a sobrevoar o espaço aéreo português. Misteriosamente também, o voo desapareceu dos ecrãs das chegadas ao aeroporto, era já noite. Cláudia Sobral

Cansados e aliviados, mas à espera que haja condições de segurança na Líbia para poderem regressar

As viagens foram longas, com adiamentos sucessivos, muitas paragens e trocas de voos. Mas, ontem, começaram a chegar alguns dos 80 portugueses que, a bordo do C-130 da Força Aérea, deixaram a Líbia na noite de segunda-feira. Iam chegando a Lisboa, aos poucos, em voos da TAP a partir de Roma, e traziam consigo histórias que pouco condiziam com os relatos de caos e de violência reproduzidos pelos media.

No aeroporto, Ana Simões da Silva esperava o pai. "À meia-noite e meia, quando já estavam na Sicília [onde fica a base da NATO para onde foram transportados pela Força Aérea], falei com ele e disse-lhe o que tinha sabido pela CNN: "Olhem que os manifestantes estão a ser bombardeados". Ele repetiu alto o que eu dizia e todos perguntaram: O quê?"

O pai, Joaquim Simões da Silva, 72 anos, sai acompanhado apenas de uma pequena mala e um saco no carrinho. "Voltar? Amanhã, se a minha empresa o permitir e se houver condições mínimas de segurança." O engenheiro da Consulgal, uma empresa de consultoria em engenharia e gestão, diz não ter testemunhado situações de violência, "apenas vestígios", e "manifestações como as que há cá nos jogos de futebol".

"A gente ainda não morreu, pá." O grito, numa gargalhada, era de um homem com ar de marinheiro, que descia a rampa à saída da porta das chegadas, e anunciava o grupo de mais de 30 portugueses que vinham também de Roma. Vários casais saíam acompanhados de crianças ao colo ou de mão dada. Manuel Morais, 56 anos, conta que estava em casa, no domingo à noite, e "via as balas", "ouvia os gritos de pessoas, ao longe". Mas voltava? "Se me permitirem."

Manuel, responsável de obra, partilha das poupadas críticas ao regime de Muammar Khadafi, gerais entre os portugueses. "É um líder africano, como há outros em África, com a sua política, que nós temos de respeitar", considera José Casaleiro, 42 anos, arquitecto da Consulgal.

Em Trípoli "vive-se bem, embora com todas as condicionantes que tem um país daqueles para nós, que gostamos de álcool e de vinho, que não há lá", observava Joaquim Simões da Silva. "De resto há tudo e as pessoas viviam em tranquilidade até agora".

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Os que chegaram no voo da noite estavam visivelmente mais abalados - se uns chegavam orgulhosos das memórias que traziam, outros vinham banhados em lágrimas. José Eduardo, 41 anos, medidor contabilístico, vivia perto de um aeroporto militar. "Tínhamos receio que houvesse bombardeamentos. Nós viemos embora mesmo na linha amarela".

Depois de ontem ter regressado a Trípoli para outro voo de repatriamento, o C-130 terá chegado ao Aeroporto Militar do Figo Maduro, Lisboa, de madrugada. Para os 26 portugueses que estavam em Benghazi continuava ontem "tudo na mesma" e, adiantou ao PÚBLICO uma fonte do gabinete do secretário de Estado das Comunidades, António Braga, só hoje seriam retomadas as tentativas para os retirar do país.

Ao início da tarde, um voo mistério aparecia nos painéis das chegadas do aeroporto: o voo BUR301, proveniente de Trípoli, com chegada prevista às 17h55. Descobriu-se durante a tarde que seria um voo fretado, da Air Budapeste. O Instituto Nacional de Aviação Civil, que autoriza a aterragem de todos os voos civis em Portugal, não tinha conhecimento do tal BUR301. Seria um voo de Estado? O Ministério dos Negócios Estrangeiros também disse desconhecer a existência deste voo, que não chegou a sobrevoar o espaço aéreo português. Misteriosamente também, o voo desapareceu dos ecrãs das chegadas ao aeroporto, era já noite. Cláudia Sobral

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