A Ilha do Dia Antes: O risco de um verdadeiro projecto liberal

03-08-2010
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Um erro comum na imprensa é apelidar uma certa figura partidária de liberal. Assim, temos António Borges como hipotético representante da ala liberal do PSD; Pires de Lima como representante da ala liberal do CDS-PP; António Braga pela ala liberal do PS. O que não é verdade. Borges, Lima e Braga são, isso sim, liberais do ponto de vista económico. Por outra palavras, defendem um Estado minimalista, oposto ao Estado Social do projecto socialista e da social-democracia clássica; defendem, igualmente, a iniciativa privada e a privatização dos serviços públicos; defendem a liberdade individual com especial ênfase na esfera comercial e económica. Agora, não defendem o liberalismo social e da esfera privada dos cidadãos. Não defendem, por exemplo, a despenalização da interrumpção voluntária da gravidez - aliás, são mesmo contra como o mostraram nas campanhas durante os dois referendos. Seria, pois, o mesmo que dizer que um ornitorrinco, porque põe ovos, é uma ave - o que, naturalmente, esquecia o facto deste ser um mamífero pois, entre outros aspectos, amamenta as suas crias. Na verdade, o liberalismo defende a individualidade e a uma menor intervenção do Estado, seja no plano económico, seja no plano pessoal. Daí que, na Europa, vejamos partidos liberais que apoiam a despenalização da interrumpção voluntária da gravidez e, ao mesmo tempo, defendem a extinção de certos serviços públicos ou a privatização dos mesmos. Ora, não é isto que acontece com as chamadas alas liberais dos partidos políticos portugueses.O liberalismo político clássico é, assim, distinto. E perigoso. Perigoso para a direita pois usa uma das suas grandes bandeiras - a iniciativa privada, a importância da economia. Perigoso para a esquerda porque, do mesmo modo, defende bandeiras clássicas na mesma como a liberdade individual, o direito à liberdade expressão e a luta pela igualdade dos cidadãos. Nesse sentido, o liberalismo aproxima-se bastante de um centro. De um centro apolítico, porque não é conservador, mas porque também não é socialista. Face a isto, a criação de uma força liberal em Portugal retiraria inevitavelmente votos à esquerda e à direita e constituiria uma natural solução para uma coligação governamental para partidos de centro-esquerda e centro-direito. Isto é, levaria necessariamente a uma alteração do mapa político português.Como socialista, naturalmente, não anseio tal projecto. É verdade que enfraquecia a direita, mas temo que, no final, não fosse a a esquerda a mais prejudicada dado que é a agenda das liberdades individuais - mais do que o projecto de um Estado socialista e social - aquilo que mais caracteriza hoje as suas propostas específicas.Pedro


Um erro comum na imprensa é apelidar uma certa figura partidária de liberal. Assim, temos António Borges como hipotético representante da ala liberal do PSD; Pires de Lima como representante da ala liberal do CDS-PP; António Braga pela ala liberal do PS. O que não é verdade. Borges, Lima e Braga são, isso sim, liberais do ponto de vista económico. Por outra palavras, defendem um Estado minimalista, oposto ao Estado Social do projecto socialista e da social-democracia clássica; defendem, igualmente, a iniciativa privada e a privatização dos serviços públicos; defendem a liberdade individual com especial ênfase na esfera comercial e económica. Agora, não defendem o liberalismo social e da esfera privada dos cidadãos. Não defendem, por exemplo, a despenalização da interrumpção voluntária da gravidez - aliás, são mesmo contra como o mostraram nas campanhas durante os dois referendos. Seria, pois, o mesmo que dizer que um ornitorrinco, porque põe ovos, é uma ave - o que, naturalmente, esquecia o facto deste ser um mamífero pois, entre outros aspectos, amamenta as suas crias. Na verdade, o liberalismo defende a individualidade e a uma menor intervenção do Estado, seja no plano económico, seja no plano pessoal. Daí que, na Europa, vejamos partidos liberais que apoiam a despenalização da interrumpção voluntária da gravidez e, ao mesmo tempo, defendem a extinção de certos serviços públicos ou a privatização dos mesmos. Ora, não é isto que acontece com as chamadas alas liberais dos partidos políticos portugueses.O liberalismo político clássico é, assim, distinto. E perigoso. Perigoso para a direita pois usa uma das suas grandes bandeiras - a iniciativa privada, a importância da economia. Perigoso para a esquerda porque, do mesmo modo, defende bandeiras clássicas na mesma como a liberdade individual, o direito à liberdade expressão e a luta pela igualdade dos cidadãos. Nesse sentido, o liberalismo aproxima-se bastante de um centro. De um centro apolítico, porque não é conservador, mas porque também não é socialista. Face a isto, a criação de uma força liberal em Portugal retiraria inevitavelmente votos à esquerda e à direita e constituiria uma natural solução para uma coligação governamental para partidos de centro-esquerda e centro-direito. Isto é, levaria necessariamente a uma alteração do mapa político português.Como socialista, naturalmente, não anseio tal projecto. É verdade que enfraquecia a direita, mas temo que, no final, não fosse a a esquerda a mais prejudicada dado que é a agenda das liberdades individuais - mais do que o projecto de um Estado socialista e social - aquilo que mais caracteriza hoje as suas propostas específicas.Pedro

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