Jornal de Espinho: Família de Paramos perto do desespero

03-08-2010
marcar artigo


Alzira Fernandes, António Braga e os seus dois filhos passam actualmente por uma situação desesperante. A família tem a renda da casa atrasada, vive sem luz, a água que usam é da chuva e tem de ir aos campos apanhar alguma coisa para conseguir fazer uma sopa. António, o único trabalhador do agregado familiar, está de baixa e os rendimentos escasseiam. O casal solicitou o Rendimento Social de Inserção, mas só teve direito a 27 euros mensais. Sem dinheiro, o casal já passa fome. O início de 2009 está a ser muito complicado para Alzira Fernandes, António Braga e os seus dois filhos, uma menina deficiente e um menino, com 14 e 7 anos, respectivamente. O casal, residente em Paramos, passa por uma situação de desespero e, sem ver outra alternativa, decidiu contar a sua história ao Jornal de Espinho.Alzira Fernandes está desempregada há dois anos e, por muito que procure, não consegue arranjar emprego. Sem direito ao fundo de desemprego, é com o salário mínimo do seu marido, António Braga, que esta família de quatro pessoas tem conseguido sobreviver. No entanto, no passado dia 2 de Janeiro, António teve um bloqueamento de uma veia no coração e teve que ser transportado de urgência para o Hospital S. António, no Porto. O único trabalhador da família ficou de baixa.Porém, e, como diz o ditado popular, “um mal nunca vem só”, o homem sofreu, no dia 2 de Fevereiro, um deslocamento da retina e teve que ser operado na passa segunda-feira. Por ser uma operação delicada, havendo a possibilidade de ficar com uma visão de 30 por cento, António Braga terá, pela sua frente, mais dois ou três meses de recuperação e de baixa.Devido a todos estes problemas, os últimos rendimentos que entraram na casa de Alzira Fernandes e de António Braga foram as verbas respeitantes ao mês de Dezembro. Para agravar a situação, e como a sua empresa só paga ao dia 12, o homem não chegou a receber a totalidade do ordenado.Rendimento mínimo de 27 eurosNeste momento, o casal vive desesperado. A renda da casa está atrasada um mês e, por isso mesmo, a senhoria cortou-lhes a água. Para agravar a situação, por falta de pagamentos, a EDP anulou o contrato, cortando também a luz.Sem dinheiro e sem soluções, pelo menos, para um futuro próximo, Alzira Fernandes e António Braga foram pedir ajuda ao Centro Social de Paramos, onde expuseram a sua história. O casal foi aconselhado, por Carlos ……., a pedir o Rendimento Social de Inserção (RSI) e assim o fez. Toda a documentação foi reunida e entregue no Centro Social e, uns tempos depois, receberam em casa uma carta da Segurança Social a avisar que tinham tido direito a cerca de 27 euros por mês do RSI.Entretanto, Alzira Fernandes começou a frequentar um curso de informática nas instalações do centro social paramense, todas as segundas, quartas e sextas. Por cada “aula”, explicou ao JE António Braga, a sua esposa ganha três euros e oitenta cêntimos, valor que, no final do mês, vai ser descontado dos 27 euros que recebem do rendimento social de inserção.O casal pediu também a Carlos ……… ajuda com a renda da sua habitação, já que, se os 200 euros que deviam à senhoria fossem pagos, teriam novamente água. Conseguiram que lhes pagassem o valor da renda, mas o mês de Fevereiro continua por pagar. Até para poderem tomar banho, Alzira Fernandes e António Braga tiveram que pedir ajuda e conseguiram que lhes fosse arranjados dois banhos semanais, para os quatro elementos, nas instalações do centro social que se situam junto ao apeadeiro de Paramos. Nessas idas aos “banhos”, a família, explicou ao JE António Braga, tem que ir separada, dois a dois. “A roupa que levamos no corpo fica lá para ser lavada. Como essa é apenas uma parte, já que os miúdos têm que trocar de roupa diariamente, temos uma amiga que nos vai ajudando”, acrescentou.Roubar para não passar fomePerante tal cenário, o casal foi falar com o presidente da Junta de Freguesia de Paramos, Américo Castro. Da sua parte, o autarca prometeu tentar arranjar emprego para Alzira Fernandes e conseguiu que os banhos semanais passassem de dois para três. Por seu intermédio na Conferência Mista de Paramos, a família conseguiu, como enumerou ao JE, dois quilos de arroz, dois pacotes de massa esparguete, cinco pacotes de leite em pó, dois pacotes de bolacha Maria, dois pacotes de massa riscada, um de aletria, e dois pacotes de um creme para as crianças. No entanto, “essa ajuda não se vai repetir”, disse António Braga, “pelo menos este ano”. Com os armários quase vazios e sem nada para dar aos filhos, Alzira Fernandes tem tomado medidas desesperadas. “Vou aos campos de noite para não ser apanhada, e tudo o que puder roubar para comer, eu tenho roubado. Couves, nabos, tudo o que for necessário para que não falte, pelo menos, a sopa para os miúdos”. Até agora, explicou, “com aquilo que me deram e aquilo que eu roubo, tenho conseguido viver”. A água da chuva, aproveita-a, “ para lavar a louça e para a casa de banho”. Para a alimentação, Alzira Fernandes tem que ir de garrafões buscar água aos fontanários. E o pão, consegue-o dado numa padaria, mas não é fresco: “eu peço pão seco, recesso, e eles dão-me, em vez de deitarem fora”.Só precisa de alguma ajudaAlzira Fernandes garantiu ao JE que já pediu ajuda em todos os lados de que se lembrou. “Não me fecham as portas, mas também não me estão a ajudar”, concluiu tristemente. E continuou: “Sem água, sem luz, sem comida, com o meu marido com baixa, o que é que vou fazer? O que vou dar aos miúdos?” A mãe de família esclarece que não quer dinheiro de ninguém, apenas alguém que a ajude. No Centro Social de Paramos, foi-lhes dito que havia uma verba de 200 euros disponível para toda a freguesia e que, na lista das prioridades “primeiro estavam os medicamentos”. Alzira Fernandes afirmou que, aos responsáveis, perguntou quem estava numa situação pior que a dela. Responderam-lhe que o seu problema era económico. “Se não pagar a casa, venho para o olho da rua. E nós só queremos estar na nossa casa com os nossos filhos. Esta é uma situação temporária. Daqui a uns meses, quando o meu marido recuperar e voltar ao trabalho, haveremos de ficar bem. Porém, por ser temporária, não há não ninguém que nos ajude”, referiu, quase sem voz. António Braga concluiu: “Darem-nos 27 euros de rendimento social de inserção é uma brincadeira. Estão a gozar com quem precisa…. Cada criança recebia 42 euros de abono, por causa do RSI, passamos a receber 32 euros. O subsídio de deficiência da menina foi também cortado em Janeiro. Como vamos sobreviver”. Responsável não se pronunciouCarlos Pinto, responsável pela acção social, na qual se inclui o rendimento social de inserção, na freguesia de Paramos, não quis comentar o caso de Alzira Fernandes e de António Braga. “Devido ao sigilo profissional, não me vou pronunciar sobre o caso em concreto”, afirmou ao JE. No entanto, Carlos Pinto garantiu que “o processo está devidamente acompanhado e que está a ser feito tudo o que se podia fazer”.O responsável pela acção social em Paramos explicou também à nossa reportagem que, para se obter os valores do RSI, é necessário ter em conta diversas variantes. Cada adulto do agregado familiar tem direito a cerca de 187 euros, enquanto as crianças recebem 90 euros. A essa soma são retirados todos os valores que componham os rendimentos da família (salários, ajudas familiares, pensões de alimentos) para se chegar ao Rendimento Social de Inserção. Por isso mesmo, o RSI é diferente para cada caso específico.José António Moreira


Alzira Fernandes, António Braga e os seus dois filhos passam actualmente por uma situação desesperante. A família tem a renda da casa atrasada, vive sem luz, a água que usam é da chuva e tem de ir aos campos apanhar alguma coisa para conseguir fazer uma sopa. António, o único trabalhador do agregado familiar, está de baixa e os rendimentos escasseiam. O casal solicitou o Rendimento Social de Inserção, mas só teve direito a 27 euros mensais. Sem dinheiro, o casal já passa fome. O início de 2009 está a ser muito complicado para Alzira Fernandes, António Braga e os seus dois filhos, uma menina deficiente e um menino, com 14 e 7 anos, respectivamente. O casal, residente em Paramos, passa por uma situação de desespero e, sem ver outra alternativa, decidiu contar a sua história ao Jornal de Espinho.Alzira Fernandes está desempregada há dois anos e, por muito que procure, não consegue arranjar emprego. Sem direito ao fundo de desemprego, é com o salário mínimo do seu marido, António Braga, que esta família de quatro pessoas tem conseguido sobreviver. No entanto, no passado dia 2 de Janeiro, António teve um bloqueamento de uma veia no coração e teve que ser transportado de urgência para o Hospital S. António, no Porto. O único trabalhador da família ficou de baixa.Porém, e, como diz o ditado popular, “um mal nunca vem só”, o homem sofreu, no dia 2 de Fevereiro, um deslocamento da retina e teve que ser operado na passa segunda-feira. Por ser uma operação delicada, havendo a possibilidade de ficar com uma visão de 30 por cento, António Braga terá, pela sua frente, mais dois ou três meses de recuperação e de baixa.Devido a todos estes problemas, os últimos rendimentos que entraram na casa de Alzira Fernandes e de António Braga foram as verbas respeitantes ao mês de Dezembro. Para agravar a situação, e como a sua empresa só paga ao dia 12, o homem não chegou a receber a totalidade do ordenado.Rendimento mínimo de 27 eurosNeste momento, o casal vive desesperado. A renda da casa está atrasada um mês e, por isso mesmo, a senhoria cortou-lhes a água. Para agravar a situação, por falta de pagamentos, a EDP anulou o contrato, cortando também a luz.Sem dinheiro e sem soluções, pelo menos, para um futuro próximo, Alzira Fernandes e António Braga foram pedir ajuda ao Centro Social de Paramos, onde expuseram a sua história. O casal foi aconselhado, por Carlos ……., a pedir o Rendimento Social de Inserção (RSI) e assim o fez. Toda a documentação foi reunida e entregue no Centro Social e, uns tempos depois, receberam em casa uma carta da Segurança Social a avisar que tinham tido direito a cerca de 27 euros por mês do RSI.Entretanto, Alzira Fernandes começou a frequentar um curso de informática nas instalações do centro social paramense, todas as segundas, quartas e sextas. Por cada “aula”, explicou ao JE António Braga, a sua esposa ganha três euros e oitenta cêntimos, valor que, no final do mês, vai ser descontado dos 27 euros que recebem do rendimento social de inserção.O casal pediu também a Carlos ……… ajuda com a renda da sua habitação, já que, se os 200 euros que deviam à senhoria fossem pagos, teriam novamente água. Conseguiram que lhes pagassem o valor da renda, mas o mês de Fevereiro continua por pagar. Até para poderem tomar banho, Alzira Fernandes e António Braga tiveram que pedir ajuda e conseguiram que lhes fosse arranjados dois banhos semanais, para os quatro elementos, nas instalações do centro social que se situam junto ao apeadeiro de Paramos. Nessas idas aos “banhos”, a família, explicou ao JE António Braga, tem que ir separada, dois a dois. “A roupa que levamos no corpo fica lá para ser lavada. Como essa é apenas uma parte, já que os miúdos têm que trocar de roupa diariamente, temos uma amiga que nos vai ajudando”, acrescentou.Roubar para não passar fomePerante tal cenário, o casal foi falar com o presidente da Junta de Freguesia de Paramos, Américo Castro. Da sua parte, o autarca prometeu tentar arranjar emprego para Alzira Fernandes e conseguiu que os banhos semanais passassem de dois para três. Por seu intermédio na Conferência Mista de Paramos, a família conseguiu, como enumerou ao JE, dois quilos de arroz, dois pacotes de massa esparguete, cinco pacotes de leite em pó, dois pacotes de bolacha Maria, dois pacotes de massa riscada, um de aletria, e dois pacotes de um creme para as crianças. No entanto, “essa ajuda não se vai repetir”, disse António Braga, “pelo menos este ano”. Com os armários quase vazios e sem nada para dar aos filhos, Alzira Fernandes tem tomado medidas desesperadas. “Vou aos campos de noite para não ser apanhada, e tudo o que puder roubar para comer, eu tenho roubado. Couves, nabos, tudo o que for necessário para que não falte, pelo menos, a sopa para os miúdos”. Até agora, explicou, “com aquilo que me deram e aquilo que eu roubo, tenho conseguido viver”. A água da chuva, aproveita-a, “ para lavar a louça e para a casa de banho”. Para a alimentação, Alzira Fernandes tem que ir de garrafões buscar água aos fontanários. E o pão, consegue-o dado numa padaria, mas não é fresco: “eu peço pão seco, recesso, e eles dão-me, em vez de deitarem fora”.Só precisa de alguma ajudaAlzira Fernandes garantiu ao JE que já pediu ajuda em todos os lados de que se lembrou. “Não me fecham as portas, mas também não me estão a ajudar”, concluiu tristemente. E continuou: “Sem água, sem luz, sem comida, com o meu marido com baixa, o que é que vou fazer? O que vou dar aos miúdos?” A mãe de família esclarece que não quer dinheiro de ninguém, apenas alguém que a ajude. No Centro Social de Paramos, foi-lhes dito que havia uma verba de 200 euros disponível para toda a freguesia e que, na lista das prioridades “primeiro estavam os medicamentos”. Alzira Fernandes afirmou que, aos responsáveis, perguntou quem estava numa situação pior que a dela. Responderam-lhe que o seu problema era económico. “Se não pagar a casa, venho para o olho da rua. E nós só queremos estar na nossa casa com os nossos filhos. Esta é uma situação temporária. Daqui a uns meses, quando o meu marido recuperar e voltar ao trabalho, haveremos de ficar bem. Porém, por ser temporária, não há não ninguém que nos ajude”, referiu, quase sem voz. António Braga concluiu: “Darem-nos 27 euros de rendimento social de inserção é uma brincadeira. Estão a gozar com quem precisa…. Cada criança recebia 42 euros de abono, por causa do RSI, passamos a receber 32 euros. O subsídio de deficiência da menina foi também cortado em Janeiro. Como vamos sobreviver”. Responsável não se pronunciouCarlos Pinto, responsável pela acção social, na qual se inclui o rendimento social de inserção, na freguesia de Paramos, não quis comentar o caso de Alzira Fernandes e de António Braga. “Devido ao sigilo profissional, não me vou pronunciar sobre o caso em concreto”, afirmou ao JE. No entanto, Carlos Pinto garantiu que “o processo está devidamente acompanhado e que está a ser feito tudo o que se podia fazer”.O responsável pela acção social em Paramos explicou também à nossa reportagem que, para se obter os valores do RSI, é necessário ter em conta diversas variantes. Cada adulto do agregado familiar tem direito a cerca de 187 euros, enquanto as crianças recebem 90 euros. A essa soma são retirados todos os valores que componham os rendimentos da família (salários, ajudas familiares, pensões de alimentos) para se chegar ao Rendimento Social de Inserção. Por isso mesmo, o RSI é diferente para cada caso específico.José António Moreira

marcar artigo