Loja de Ideias: Algumas considerações acerca do Museu Berardo

25-05-2011
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Algumas considerações acerca do Museu BerardoAo contrário do que aqui referem, eu não considero que a abertura do recente Museu Berrado seja a «salvação da cultura nacional», marcando esta inauguração um antes e um depois na história da Arte em Portugal. Algumas pequenas considerações.1. Em primeiro lugar estou totalmente de acordo com o Pedro Magalhães, quando refere, com outros casos de sucesso português (nomeadamente o de Serralves, mas podia ter também citado a Gulbenkian), que já havia arte contemporânea em Portugal antes do «comendador» ter aparecido. Mais, entendo que Sócrates queira retirar um importante beneficio político desta aposta «cultural», mas parece-me mais interessante associá-la ao conceito de complementaridade, que ao de salvadora da pátria.2. Mas nem é esse o ponto que mais me aflige. Já o disse há tempos (num post algures no baú deste blogue) que aceitar todas as exigências do senhor Berardo era a estratégia errada. Isto porque, de uma assentada, destruiu o trabalho de 10 anos que o CCB tinha feito. Não nos esqueçamos que o CCB estava, paulatinamente, a inserir-se nas grandes redes culturais europeias e mundiais, sendo já considerado como stoping place das grandes colecções itinerantes mundiais.3. Claro que este trabalho foi deitado ao lixo. E demorará outros 10 anos a recuperar, se é que alguma vez se consiga fazer, a boa reputação entretanto alcançada. Nenhum grande museu do mundo, publico, se «curva» perante a exigência de um privado. Imaginem lá o Metropolitan a esvaziar-se, a romper contractos já assinados, a hipotecar a sua liberdade artística e exploratória para ficar com o seu espaço preenchido na íntegra por uma qualquer colecção de um qualquer milionário nova-iorquino (independentemente do valor do milionário ou da sua colecção).4. No máximo que se construa um novo museu para albergar a colecção. Aliás, como fazem as instituições privadas (ver, a titulo de exemplo, o Guggenheim de Nova Iorque)5. Mas, repito, o pior foi que para existir o «Museu Bernardo» tivesse de se extinguir todo o projecto do CCB. Exemplifico com uma metáfora futebolística:Imaginem que em vez de arte contemporânea o senhor Berardo tinha uma aquipa de futebol (como, parece, quer ter). Imaginem que, como não tinha estádio e tal, dissesse: “Tenho esta equipa e quero um estádio e instalações para ela poder jogar. É uma equipa de topo”.O Estado, perante tal oferenda, oferecia o… Estádio da Luz!. Sem se importar que por lá já estivesse uma outra equipa que soubesse jogar à bola; ou que tivesse passado as últimas décadas a construir um nome para si, um nome reconhecível e de prestígio.Podia ter posto o nova equipa no Jamor, ou ter construído um novo estádio, mas não. Teve de ocupar um em funcionamento. E em bom funcionamento.É este o processo do «Museu Berardo»Nada tenho, entenda-se, que exista em Lisboa um espaço expositivo com uma colecção do nível da agora posta ao nosso dispor. O que tenho contra é que deixe de ter CCB.E ainda temos a questão dos subsídios que o MC já assumiu com a Fundação entretanto criada. Mas esse é tema para outro post (tema entretanto já abordado pelo Daniel Oliveira).Concluindo: nada contra a colecção, pelo contrário, irei vê-a concerteza. Nada contra o senhor Berardo, que apenas quer se promover. Tudo contra a solução encontrada (que, pelo que sei, já levou à demissão de Mega Ferreira do CCB).Não creio ser este um bom exemplo de se fazer política. nem todos os fins justificam todos os meios.


Algumas considerações acerca do Museu BerardoAo contrário do que aqui referem, eu não considero que a abertura do recente Museu Berrado seja a «salvação da cultura nacional», marcando esta inauguração um antes e um depois na história da Arte em Portugal. Algumas pequenas considerações.1. Em primeiro lugar estou totalmente de acordo com o Pedro Magalhães, quando refere, com outros casos de sucesso português (nomeadamente o de Serralves, mas podia ter também citado a Gulbenkian), que já havia arte contemporânea em Portugal antes do «comendador» ter aparecido. Mais, entendo que Sócrates queira retirar um importante beneficio político desta aposta «cultural», mas parece-me mais interessante associá-la ao conceito de complementaridade, que ao de salvadora da pátria.2. Mas nem é esse o ponto que mais me aflige. Já o disse há tempos (num post algures no baú deste blogue) que aceitar todas as exigências do senhor Berardo era a estratégia errada. Isto porque, de uma assentada, destruiu o trabalho de 10 anos que o CCB tinha feito. Não nos esqueçamos que o CCB estava, paulatinamente, a inserir-se nas grandes redes culturais europeias e mundiais, sendo já considerado como stoping place das grandes colecções itinerantes mundiais.3. Claro que este trabalho foi deitado ao lixo. E demorará outros 10 anos a recuperar, se é que alguma vez se consiga fazer, a boa reputação entretanto alcançada. Nenhum grande museu do mundo, publico, se «curva» perante a exigência de um privado. Imaginem lá o Metropolitan a esvaziar-se, a romper contractos já assinados, a hipotecar a sua liberdade artística e exploratória para ficar com o seu espaço preenchido na íntegra por uma qualquer colecção de um qualquer milionário nova-iorquino (independentemente do valor do milionário ou da sua colecção).4. No máximo que se construa um novo museu para albergar a colecção. Aliás, como fazem as instituições privadas (ver, a titulo de exemplo, o Guggenheim de Nova Iorque)5. Mas, repito, o pior foi que para existir o «Museu Bernardo» tivesse de se extinguir todo o projecto do CCB. Exemplifico com uma metáfora futebolística:Imaginem que em vez de arte contemporânea o senhor Berardo tinha uma aquipa de futebol (como, parece, quer ter). Imaginem que, como não tinha estádio e tal, dissesse: “Tenho esta equipa e quero um estádio e instalações para ela poder jogar. É uma equipa de topo”.O Estado, perante tal oferenda, oferecia o… Estádio da Luz!. Sem se importar que por lá já estivesse uma outra equipa que soubesse jogar à bola; ou que tivesse passado as últimas décadas a construir um nome para si, um nome reconhecível e de prestígio.Podia ter posto o nova equipa no Jamor, ou ter construído um novo estádio, mas não. Teve de ocupar um em funcionamento. E em bom funcionamento.É este o processo do «Museu Berardo»Nada tenho, entenda-se, que exista em Lisboa um espaço expositivo com uma colecção do nível da agora posta ao nosso dispor. O que tenho contra é que deixe de ter CCB.E ainda temos a questão dos subsídios que o MC já assumiu com a Fundação entretanto criada. Mas esse é tema para outro post (tema entretanto já abordado pelo Daniel Oliveira).Concluindo: nada contra a colecção, pelo contrário, irei vê-a concerteza. Nada contra o senhor Berardo, que apenas quer se promover. Tudo contra a solução encontrada (que, pelo que sei, já levou à demissão de Mega Ferreira do CCB).Não creio ser este um bom exemplo de se fazer política. nem todos os fins justificam todos os meios.

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