A Varinha Mágica de Valentim Loureiro: Os jornalistas

20-01-2011
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Um destes dias, participei num jantar debate sobre o TGV. A iniciativa pertenceu a uma associação portuense que convidou, entre outros, a Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, o Professor Álvaro Costa, da Universidade do Porto, e o jornalista Carlos Magno.Foi muito interessante assistir ao desenrolar da conversa, em jeito informal, que me foi dando pessoalmente argumentos para aceitar essa obra pública como boa e cuja utilidade ainda não tinha conseguido entender.De qualquer forma, serve este exemplo para ilustrar (e aplicar a Portugal) aquilo que ontem postei acerca de Obama e McCain. Isto é, acerca do medo de errar, que é tal, que leva os políticos a inverterem a sua própria razão de existir.Nesse jantar debate a que assisti, a Secretária de Estado Ana Paula Vitorino fez uma longa e técnica explicação acerca do TGV. Percebemos todos. Depois, veio o Professor Álvaro Costa, e fez a apologia da prioridade a Norte, para aquela obra. De seguida, um espanhol, representante do projecto espanhol do TGV na Galiza, explicou-nos o que se vai passar do lado de lá da fronteira, quanto à linha Porto-Vigo.Finalmente, Carlos Magno, elogiou “a Ana Paula”, com quem acabara de jantar e elogiou, sobretudo, o seu discurso “engenheiral”.Ora, eu não elogio os governantes quando eles têm discurso “engenheirais”. E não me refiro, concretamente, àquele jantar que, além de agradável, até seria um bom local para se inverterem papeis. Mas, o facto, é que em Portugal se assiste actualmente a um enorme medo de fazer política.Aquilo a que assisti naquela noite é, afinal, muito parecido com o que tem sido a vida política portuguesa. Os políticos falam como técnicos, os técnicos são mais mediáticos que os jornalistas e os jornalistas fazem política…De facto, a política está tão desacreditada, que nem os políticos conseguem assumir as suas próprias convicções. Para darem um passo, encomendam 20 estudos que possam sustentar o que querem fazer, sem terem que o assumir politicamente.Gostava, por uma vez, de ver os políticos fazerem política, assumindo os erros, quando os houver, e credibilizando a sua própria existência, sem terem que se pendurar permanentemente nas opiniões dos técnicos e no aval dos jornalistas. Claro que os estudos são necessários e que a crítica jornalística pode e deve ser pertinente, mas, neste momento, a inversão de valores é total.No meio de tudo isto, chocou-me algo que ninguém deve ter reparado. Enquanto, naquela sala, ouvíamos Carlos Magno fazer política, Álvaro Costa passar por jornalista e a “Ana Paula” fingir ser um técnico, o “nosso amigo espanhol” (como alguém a ele sse referiu), acabou por nos dizer onde passará o TGV na Galiza, quantas pontes terá, quantos túneis atravessará, qual a profundidade dos túneis, como entra nas cidades, onde serão as estações, quando estará pronto e quanto custa. Além do mais, que me lembre, foi o único orador que tratou "a Ana Paula" por "senhora Secretária de Estado"!Voltando a concordar que, de vez em quando, faz sentido invertermos os papéis e discutirmos informalmente estas questões, na verdade, a vida política portuguesa tem sido isto. Falamos muito, ninguém assume as suas reais responsabilidades políticas com coragem e, no final, ouvimos dizer que Espanha já fez ou já está a fazer…


Um destes dias, participei num jantar debate sobre o TGV. A iniciativa pertenceu a uma associação portuense que convidou, entre outros, a Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, o Professor Álvaro Costa, da Universidade do Porto, e o jornalista Carlos Magno.Foi muito interessante assistir ao desenrolar da conversa, em jeito informal, que me foi dando pessoalmente argumentos para aceitar essa obra pública como boa e cuja utilidade ainda não tinha conseguido entender.De qualquer forma, serve este exemplo para ilustrar (e aplicar a Portugal) aquilo que ontem postei acerca de Obama e McCain. Isto é, acerca do medo de errar, que é tal, que leva os políticos a inverterem a sua própria razão de existir.Nesse jantar debate a que assisti, a Secretária de Estado Ana Paula Vitorino fez uma longa e técnica explicação acerca do TGV. Percebemos todos. Depois, veio o Professor Álvaro Costa, e fez a apologia da prioridade a Norte, para aquela obra. De seguida, um espanhol, representante do projecto espanhol do TGV na Galiza, explicou-nos o que se vai passar do lado de lá da fronteira, quanto à linha Porto-Vigo.Finalmente, Carlos Magno, elogiou “a Ana Paula”, com quem acabara de jantar e elogiou, sobretudo, o seu discurso “engenheiral”.Ora, eu não elogio os governantes quando eles têm discurso “engenheirais”. E não me refiro, concretamente, àquele jantar que, além de agradável, até seria um bom local para se inverterem papeis. Mas, o facto, é que em Portugal se assiste actualmente a um enorme medo de fazer política.Aquilo a que assisti naquela noite é, afinal, muito parecido com o que tem sido a vida política portuguesa. Os políticos falam como técnicos, os técnicos são mais mediáticos que os jornalistas e os jornalistas fazem política…De facto, a política está tão desacreditada, que nem os políticos conseguem assumir as suas próprias convicções. Para darem um passo, encomendam 20 estudos que possam sustentar o que querem fazer, sem terem que o assumir politicamente.Gostava, por uma vez, de ver os políticos fazerem política, assumindo os erros, quando os houver, e credibilizando a sua própria existência, sem terem que se pendurar permanentemente nas opiniões dos técnicos e no aval dos jornalistas. Claro que os estudos são necessários e que a crítica jornalística pode e deve ser pertinente, mas, neste momento, a inversão de valores é total.No meio de tudo isto, chocou-me algo que ninguém deve ter reparado. Enquanto, naquela sala, ouvíamos Carlos Magno fazer política, Álvaro Costa passar por jornalista e a “Ana Paula” fingir ser um técnico, o “nosso amigo espanhol” (como alguém a ele sse referiu), acabou por nos dizer onde passará o TGV na Galiza, quantas pontes terá, quantos túneis atravessará, qual a profundidade dos túneis, como entra nas cidades, onde serão as estações, quando estará pronto e quanto custa. Além do mais, que me lembre, foi o único orador que tratou "a Ana Paula" por "senhora Secretária de Estado"!Voltando a concordar que, de vez em quando, faz sentido invertermos os papéis e discutirmos informalmente estas questões, na verdade, a vida política portuguesa tem sido isto. Falamos muito, ninguém assume as suas reais responsabilidades políticas com coragem e, no final, ouvimos dizer que Espanha já fez ou já está a fazer…

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